“A decisão da saidinha foi uma decisão pessoal”, esclareceu o presidente. “Não me derrotaram, mas derrotaram uma parte do povo”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que, ao contrário do alardeado pela imprensa corporativa, o governo não perdeu nenhuma votação de seu interesse no Congresso Nacional desde o início de 2023. “Nem sempre as informações que chegam pelos meios de comunicação é o que acontece de verdade. Nós até hoje não perdemos um único projeto de interesse no Congresso Nacional”, afirmou Lula nesta sexta-feira (21), em entrevista à Rádio Meio.
“Aprovamos o marco regulatório, uma PEC de Transição que deu ao governo R$ 170 bilhões para poder governar em 2023, porque o outro [Jair Bolsonaro] quebrou o país. Nós aprovamos uma reforma tributária na primeira fase, que agora está para aprovar sua regulamentação, que estava há 40 anos na fila, com esse Congresso adverso”, disse o presidente.
“O charme da democracia é que você é obrigado a conviver democraticamente na adversidade. Então você começa a compreender que um deputado de um outro partido não é obrigado a votar num projeto do governo. Então, quando o governo manda um projeto para o Congresso, ele já sabe que aquele projeto vai passar pela discussão nos partidos e que vai ter gente que quer fazer emenda. No frigir dos ovos, sempre termina acontecendo um acordo e a votação é aquilo que a gente quer”, disse Lula.
Ainda segundo ele, o seu veto ao projeto de lei que impõe restrições para a “saidinha” de presos em regime semiaberto – veto que foi derrubado pelo Congresso – foi uma “decisão pessoal”. “A decisão da ‘saidinha’ foi uma decisão pessoal, moral minha. Eu sabia que todos os deputados queriam que eu não vetasse, que deixasse passar porque vai ter eleições e é um tema delicado. Antes de ser presidente eu sou um ser humano, eu tenho formação política, caráter, compromisso ideológico, família. Eu falei: ‘como é possível, em uma sociedade democrática em que a base da sociedade é a família, e o Estado prende um cidadão que cometeu um delito e prende não apenas para castigar, mas para recuperar, e na hora em que o cidadão sai para ver sua família, que é uma das fontes de recuperação dele, é proibido?”, questionou.
“Como é proibido um pai ver uma mãe? Ou um filho ver uma mãe? O irmão ver o irmão? A mãe ver uma filha? Cometeu um delito? Vai pagar pelo delito e vai voltar a ser uma pessoa livre outra vez’. Era isso que eu queria, que a família tivesse o direito de receber, e não qualquer um. Quem tivesse praticado crime hediondo não poderia sair, quem tinha feito estupro não poderia sair. Para o cara sair tinha que ter também um comportamento de pessoa que pode ser recuperada. De vez em quando as pessoas fogem, mas é tão pequeno o percentual dos que não voltam que não compensa a gente destruir a possibilidade da família conversar com essa pessoa”, ressaltou.
“Eu fiquei preso 580 dias. Você não tem noção do que era o meu prazer quando eu recebia os meus filhos para me ver. Agora, você proibir uma família, mulher e filhos, de receberem o marido porque ele cometeu um delito… Você não está apostando na recuperação dele. E como eu acredito muito na base da sociedade democrática, que tem no seu alicerce a família, eu queria que as pessoas tivessem a ‘saidinha’. Não me derrotaram, mas derrotaram uma parte do povo brasileiro e enfraqueceram a dignidade de muita gente nesse país”, disse, fazendo referência à sua prisão injusta e por razões políticas no âmbito da Operação Lava Jato.
Com informações do Brasil 247
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