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Se, no curto prazo, o cenário político empurra Jair Bolsonaro para baixo, é preciso estar atento que os nichos de estupidez que, ao longo do tempo, ele construiu e fortificou.

Todo mundo que tem um “grupo de família” no WhatsApp ou sabe de um onde o bolsonarismo, senão impera, está vivo e respirando, entre mensagens cristãs e a incansável repetição de motes sobre a “corrupção” que a mídia transformou em realidade onipresente para eles, durante anos.

Por isso é tão importante o movimento que se registra na cobertura dos atos de ontem, inclusive o editorial lido no Jornal Nacional, em tom solene e dramático: “Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito à saúde, por exemplo. Ou o direito de viver numa democracia. Em casos assim, não há dois lados. E é esse o norte que o Jornalismo da Globo continuará a seguir”.

Claro que, como diz a jornalista Eliara Santana – da equipe do site de análises de mídia Manchetômetro, ligado a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. e colunista do Viomundo – todos nós sabemos “o que a Globo fez no verão passado” e, certamente, será capaz de fazer em futuros verões. (Leia aqui o seu ótimo artigo)

Mas a inflexão da cobertura global e de, praticamente, toda a grande mídia em relação ao desgoverno que temos é, tanto quando a mobilização da sociedade, um poderoso antiviral contra a replicação da selvageria que, pela primeira vez, parece estar enquistada nestes nichos e em agrupamentos marginais à política: milícias, paramilicianos, armamentistas e imbecis de várias modalidade que, na mediocridade do bolsonarismo, pretendem virar estrelas, olavos de carvalho da pseudociência.

Não devemos temer que este movimento de mídia possa ser a origem de uma alternativa de direita aos agrupamentos selvagens de Bolsonaro. Estes, ele destruiu e destrói sistematicamente e basta olhar a ruína dos partidos que ele provoca, a quase dissolução dos MBL da vida e a transformação de João Doria num candidato nanico, um quase Amoedo paulista.

A candidatura Lula, fosse nos desenhos de Asterix, o personagem famoso de Hergé, é como o simpático Obelix: não precisa de nenhuma poção de mágica midiática para ser o antibolsonaro. Ele o é naturalmente, porque Bolsonaro só pode acontecer com a interdição de sua candidatura pelo também agora depenado Sergio Moro.

Lula é um programa.

Por isso, não era preciso que ele estivesse ontem, fisicamente, nas manifestações de rua. Ele e sua candidatura como ferramenta de deposição do atual governo, democrática e eleitoralmente, estavam em cada metro de asfalto.

A extrema direita estava louca pela chance de demonizar os protestos apontando sua figura. E a direita, que se rebatizou de “centro” idem, porque achava que, com isso, disseminaria as intrigas e manipulações para “explicar” que precisaríamos sair de uma falsa poplarização que estava expressa, ali, em praças e avenidas de todo o Brasil.

A verdade, na política, é o que a realidade expressa. E nada mais expressivo que as ruas de ontem pelo Brasil.

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