Em outra contradição, ex-ministro disse que “não fomentou”, “não defende” e “não comprou nenhuma grama de cloroquina”, mas protocolo foi publicado em sua gestão
Na sequência de divergências feitas à CPI da Covid, o ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou em um momento que detinha autonomia e que o presidente Jair Bolsonaro não inteferia em suas decisões e, posteriormente, que “a política de combate à pandemia é da Presidência da República”.
O objetivo de Pazuello foi de tentar tirar qualquer responsabilidade dele em qualquer erro ou medida adotada na pandemia, ainda que tenha sido o ministro da Saúde que permaneceu por maior tempo no governo durante a epidemia do coronavírus.
“Eu relembro aqui, a todos, eu não tomava decisão sozinho no Ministério da Saúde, eu sempre tomei a decisão de forma tripartite [responsabilizando estados e municípios também]. Levei isso muito a sério. E nós temos as competências dos executivos, médicos e gestores do CONASS [de secretarias estaduais] e do CONASEMS [de municípios], que levaram a tomada de decisão. O presidente não me obrigou a tomar decisões”, disse.
Posteriormente, contudo, já ao final da sessão Pazuello quis deixar claro que “a política ampla de combate à pandemia é da Presidência, da cúpula da Presidência”. “Quem manda é o presidente?”, perguntou um senador. “Estamos falando de uma relação. Com isso digo que não tivemos nenhuma ordem direta”, completou, sem dar respostas claras.
Ao tratar da polêmica da distribuição de cloroquina, remédio sem eficácia comprovada contra a Covid-19, Pazuello afirmou que “acredita que não houve pressão” para a fabricação do medicamento no Brasil a pedido do governo federal.
“Eu não acredito e não deixei que nós vamos acreditar nenhum medicamento ser entregue, distribuído, sem a prescrição do médico. Então eu acredito que não houve pressão para poder fazer cloroquina, porque eu não faria. Eu nunca fui pressionado, porque eu jamais faria [pressão por produção do remédio”, disse.
Eu não comprei nenhuma grama de hidroxicloroquina
O ex-ministro disse que os insistentes estímulos do mandatário pelo uso da cloroquina em tratamentos precoce contra a Covid-19 “não impactou” em suas decisões. “Eu não vou prescrever nada disso, eu não vou fazer orientação, não vou fazer protocolo de medicamento algum que não tenha certificação médica, etc, inclusão no SUS, isso é uma posição particular.”
A informação, contudo, é falsa. O Ministério da Saúde publicou uma recomendação no dia 20 de maio de 2020, após o general já ter assumido interinamente a pasta, recomendando dosagens de cloroquina e hidroxicloroquina a paciantes com Covid-19, incluindo grávidas e crianças.
“Por isso, quando eu ouço isso aqui, eu fico olhando e digo ‘olha, isso não cola em mim’. Porque eu não aceitaria essa pressão. (…) Pelo o que eu me lembro, ou a grande maioria, ou na totalidade das vezes que eu ouvi falar, ele [governo federal] coloca sempre ‘com a prescrição do médico’. Então, tem um grau aí de prisma na coisa. Da minha visão, as ações dele [de Bolsonaro] não mudaram a minha posição. Eu não fiz e não faria [recomendação pela cloroquina]. Se aconteceu dentro de algum outro nível do Ministério, que não estava sob a minha mão naquele momento, foi sem a minha autorização”, afirmou, na contramão dos fatos.
“Agora eu não concordo com isso [com a recomendação de cloroquina para a Covid-19], eu não comprei nenhuma grama de hidroxicloroquina, eu não fomentei o uso da hidroxicloroquina, eu mandei distribuir tudo o que me foi pedido. Eu não estou questionando, não questionei [a eficácia ou não do remédio]”, completou.
Pazuello diz que cumpriu sua parte no Amazonas
Sobre o colapso do sistema de saúde em Manaus, Amazonas, em janeiro deste ano, que levou à morte de dezenas de pessoas por asfixia, devido à falta de oxigênio nos hospitais, Pazuello acredita que “cumpriu a sua parte da missão”.
“Da minha fatia da missão, daquele pedaço, daquele momento da missão, não a missão completa e ampla, de combater a pandemia no país e entregar o país pronto, limpo, isso é muito maior do que a parte da missão, a parte da tarefa que me foi passada. Então a missão que me foi dada e o tempo que me foi dado para cumprir é uma análise diferente do todo que é o combate da pandemia.”
Perguntado se ele “se sente com a alma tranquila” pela atuação no estado do Amazonas, o general respondeu: “Alma tranquila, jamais, eu sofri muito em Manaus. Eu vim de Manaus, eu perdi parentes, amigos em Manaus e seria absurdo eu dizer que isso não me afetou. Claro que existem limites do que a gente consegue fazer. Dentro dos limites e do que a gente conseguia fazer, das informações que me foram passadas, foram tomadas todas as ações que podiam ser tomadas.”
Por Patricia Faermann
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