Nicolelis: “Fim de máscaras em locais fechados de SP é apenas manobra política”
Por Conceição Lemes
Nessa quinta-feira, 17-03, pouco antes das 17h, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou em programa de televisão e no seu perfil em redes sociais o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em locais fechados no estado.
Foi por meio de decreto, assinado e publicado ontem mesmo e que já está valendo. A máscara continuará obrigatória no transporte público e nos serviços de saúde.
Às 17h03, o portal do Governo publicou: Doria anuncia a flexibilização das máscaras em todos os ambientes.
Nessa nota à imprensa, o governador afirma que a medida foi respaldada pelo Comitê Científico do Coronavírus de São Paulo:
“Recebi hoje à tarde uma nota técnica do Comitê Científico que demonstra uma melhora consistente na situação epidemiológica no Estado. Por isso decidi, com respaldo desses cientistas e médicos, abolir imediatamente a obrigatoriedade do uso de máscara em todos os ambientes, com exceção de unidades de saúde, hospitais e transporte público”.
E reitera:
“A decisão foi baseada em análises técnicas do Comitê Científico do Coronavírus de São Paulo. Os especialistas levaram em consideração o índice de vacinação com duas doses no estado”.
A médica ReRivera está perplexa com a decisão absurda.
“A máscara é o sinal público mais óbvio da pandemia, principalmente na sociedade ocidental onde ela representa a presença e a história da covid entre nós”, expõe.
“Removê-la é apagar a memória da pandemia, a presença do vírus e arrastar a população para a norma, o ‘normal’”, observa ReRivera.
Afinal, a máscara é uma metáfora semiótica da pandemia, costuma dizer o neurocientista e professor Miguel Nicolelis.
Ontem, logo após Doria anunciar a medida, Nicolelis (@MiguelNicolelis) denunciou em rede social
“O governo de SP tenta terminar a pandemia por decreto. Infelizmente, isso não funciona.”
Para quem sofre de “amnésia seletiva”, Nicolelis relembra o que tem dito desde o início da pandemia, em março de 2020: “Quando a política bate de frente com a biologia ela perde sempre de goleada”.
Segue o fio.
Inconformado com mais esse “escárnio” em São Paulo, que “teve um dos piores manejos da pandemia em todo o Brasil”, o professor Nicolelis, no início da madrugada desta sexta-feira, foi mais fundo:
“O Brasil vai precisar de uma Comissão da Verdade para responsabilizar os gestores irresponsáveis por seus atos irresponsáveis, desumanos e criminosos”.
E fez a pergunta que esta repórter está se fazendo também desde o anúncio de Doria:
“Como eles acham que vão conseguir voltar atrás se tivermos uma nova onda?”
Daí, duas perguntas óbvias a essa altura:
— Quem são os médicos especialistas do Comitê Científico para Coronavírus de São Paulo?
— Será que nesse comitê não tem epidemiologistas?
Vamos por partes.
O comitê científico sofreu mudanças ao longo da pandemia.
Criado logo início de 2020, chamava-se Centro de Contingência da Covid-19 e tinha 21 integrantes.
Embora Doria — para se contrapor ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) — alardeasse que seguia as recomendações científicas, isso nem sempre acontecia na prática.
Em agosto de 2021, Doria dissolveu o Centro de Contigência da Covid-19.
Foi após manter as medidas de flexibilização no estado, mesmo sem consenso entre os especialistas do grupo.
Em matéria na Folha de S. Paulo, de 17 de agosto de 2021, a repórter Isabela Palhares registrou:
A mudança não pegou os especialistas de surpresa, já que, desde o fim do ano passado, muitas das decisões do governador não seguiam as recomendações e avaliações feitas pelo grupo sobre o quadro epidemiológico no estado.
A discordância, inclusive, ocorreu com a decisão de Doria de pôr fim a todas as restrições de horário e ocupação ao comércio e serviços em São Paulo a partir desta terça (17).
O governador não mencionou as divergências como motivo para redução do grupo, mas afirmou que o momento da pandemia no estado não exige mais orientação de tantos especialistas. “Não há mais necessidade de manter uma estrutura com tamanho tão expressivo”, disse nesta terça.
(…)
O anúncio de que o Centro de Contingência passará a ser um comitê foi feito na manhã desta terça pelo governador. “Amanhã [quarta] vamos anunciar os 7 nomes do comitê científico. Eram 21”.
Em 19 de agosto de agosto de 2021, Doria criou então o Comitê Científico para Coronavírus de São Paulo:
Resolução SS nº 131, de 19-8-2021 Institui Comitê Cientifico, junto ao Gabinete do Secretário, para apoio ao enfrentamento da pandemia de COVID-19 e suas consequências, e dá providências correlatas O Secretário de Estado da Saúde.
O Viomundo solicitou ao setor de imprensa do Palácio dos Bandeirantes a composição atual do comitê.
A nossa demanda foi redirecionada à Secretaria de Estado da Saúde, que encaminhou a lista, na seguinte ordem:
Paulo Menezes
João Gabbardo
David Uip
Eloísa Bonfa
Esper Kallas
José Medina
Geraldo Reple
Carlos Carvalho
Luiz Carlos Pereira Júnior
Jean Gorinchteyn
O primeiro da fila é Paulo Menezes, o coordenador atual.
O último, o secretário de estado da Saúde, Jean Gorinchteyn.
Em se tratando de estratégias para enfrentamento da covid-19, a participação de epidemiologistas é fundamental. Decisiva, mesmo!.
O comitê conta com apenas um epidemiologista, Paulo Menezes. Epidemiologista que sempre trabalhou com doenças mentais.
— Mas, e o João Gabbardo? — alguns leitores vão intervir.
Ele diz ser epidemiologista, mas não é. Fez curso de saúde pública, isso não implica ser epidemiologista
— Mas por que os especialistas do Comitê Científico não impediram o fim da obrigatoriedade das máscaras?
Apenas eles podem responder.
Em tese, tinham a obrigação ética e científica de impedir o fim da obrigatoriedade das máscaras. Afinal, respaldam cientificamente as medidas para enfrentamento da covid-19 no estado de São Paulo.
Só que, além de não terem impedido, tudo indica optaram por dizer amém ao menino mimado, autoritário, que não admite ouvir “não”.
— Mas por que o secretário da Saúde não impediu?
Bem, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo quase não apita na questão.
Cá entre nós, uma humilhação.
Mas, entre a humilhação e o cargo, o doutor Jean Gorinchteyn parece preferir a humilhação, já que não passa de uma rainha da Inglaterra em relação às diretrizes contra o novo coronavírus.
Doria só pensa no seu projeto político. Ele está acima de todas as evidências científicas e da vida dos paulistas.
“Talvez seja o timing perfeito para lembrarmos que, desde o início da pandemia, São Paulo comportou-se como super-spreader, disseminando o vírus por tráfego aéreo e rodoviário”, interviu no twitter Beattrice.
“Todas as intervenções ou mesmo a ausência delas em SP repercutem no Brasil”, acrescentou.
A propósito:
1.Nicolelis foi o primeiro cientista brasileiro a registrar que a cidade de São Paulo tinha se convertido na maior disseminadora da covid-19 do País. Foi em abril de 2020.
2. Em 21 de junho de 2021, um grupo de cientistas brasileiros publicou na edição on-line da revista britânica ‘Scientific Reports’, da Nature, trabalho mostrando os caminhos pelos quais a covid-19 se espalhou pelo Brasil
Nicolelis liderava o grupo do participaram também Rafael L. G. Raimundo, Pedro S. Peixoto e Cecilia S. Andreazzi.
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