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Na semana passada o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou que seu partido, o DEM, teria candidato próprio a presidente e definiria sua posição em março. O único candidato demista que até então existia era ele, embora como lanterninha nas pesquisas, ao lado de Henrique Meirelles. Mas Temer, ao embarcar no delírio da própria candidatura à reeleição, razão da intervenção militar eleitoreira no Rio, em busca de resultados fáceis conversíveis em votos, liquidou com a candidatura de Maia e com a de Meirelles e irritou outros membros da coalizão golpista, inclusive os tucanos de Geraldo Alckmin.

Rodrigo Maia teve a reação mais forte e indicou que daqui para a frente não vai mais facilitar a vida de Temer na Câmara. Ele, que foi decisivo para a salvação da cabeça de Temer na votação das duas denúncias; ele, que viu o cavalo passar à sua frente mas não o montou, privando-se de articular a aprovação da denúncia para ficar com a cadeira presidencial; ele, que se tivesse assumido poderia disputar a reeleição no cargo…agora colheu ingratidão e deslealdade de Temer. Este sentimento não explicitado mas compreensível, e não o caso pontual da intervenção no Rio sem consulta-lo, é que explica o esperneio de Rodrigo Maia nesta  terça-feira, ao espinafrar a  pauta econômica alternativa do governo, composta por 15 projetos que tramitam na Câmara. Foi Meirelles que apresentou esta agenda na segunda-feira, numa ridícula tentativa de compensar o arquivamento da reforma previdenciária, que já estava derrotada por falta de votos. São medidas inócuas que, mesmo se aprovadas, não triscarão no formidável rombo das contas públicas.

Os projetos, disse Rodrigo, não são do governo, como quis fazer crer o ministro. Já tramitam na Câmara, em sua maioria são de iniciativa parlamentar e serão pautados segundo a dinâmica da Casa. Quando o presidente da Câmara quiser.

“Do jeito que eles apresentaram é como se fosse a pauta do governo no Legislativo, e isso é um abuso”, disse Rodrigo, queixando-se da “falta de respeito” do governo para com o Congresso.

Espinafrou a inocuidade das medidas dizendo: “Esse é um café velho e frio que não atende como novidade a sociedade”. E num claro sinal de que não colocará nada do pacote em votação, arrematou: “O governo que apresente uma pauta econômica nova, porque (para)  a que está aqui, o tempo de discussão e votação é definido pela presidência da Câmara. Vamos respeitar a independência dos poderes. A apresentação de ontem (segunda-feira) foi um equívoco, foi um pouco de desrespeito ao Parlamento pois os projetos já estão aqui”. No Senado, o presidente Eunício Oliveira fez coro e também declarou que o Senado votará quando quiser as medidas elencadas pelo governo.

Com sua intervenção militar no Rio, temerária, populista e eleitoreira, Temer semeou discórdia entre os aliados. Meirelles enfiou a viola no saco, faltando apenas declarar que desistiu de ser candidato. Alckmin já passou recibo dizendo que nunca teve a pretensão de ser o candidato do governo. Todos eles sabem que é inglória a concorrência com quem disputa montado na máquina na Presidência. Ainda mais quando este alguém não tem o menor pudor em valer-se da coisa pública para atender aos próprios interesses, como fez Temer ao distribuir emendas, cargos e outras vantagens para aliciar deputados na votação das duas denúncias.

O plano eleitoral de Temer, o Plano Mouco, pressupõe a suplantação dos demais candidatos da centro-direita golpista e a unificação do bloco em tordo de sua candidatura à reeleição. Já se viu que esta segunda variável pode não se confirmar.

TEREZA CRUVINEL

Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País