Nesta semana, o país tomou conhecimento de que em dezembro o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, decidiu abrir inquérito naquela Corte sobre as denúncias do empresário e ex-deputado Tony Garcia de utilização da Justiça, pelo então juiz Sergio Moro, para chantagear, com objetivos políticos, magistrados, empresários e parlamentares.
A decisão de Toffoli libera um tema que vinha sendo ocultado e foi trazido a público pela primeira vez em 12 de junho do ano passado, quando a TV 247 veiculou, por mais de três horas, programa intitulado “Exclusivo: A Entrevista-Bomba de Tony Garcia”. O subtítulo expandia a informação: “Empresário Delata Moro e Procuradores de Curitiba”.
Na descrição da conversa dizia a TV 247: “Tony Garcia apresenta as provas das ilegalidades de Moro e Deltan”. E prosseguia: “Joaquim de Carvalho entrevista o empresário paranaense Tony Garcia, que delatou o esquema de chantagem e escutas ilegais de Sergio Moro e da Lava-Jato”.
Naquele 12 de junho, pela primeira vez, Tony Garcia dizia ter condições de apontar ter sido usado desde 2004 pelo juiz Sérgio Moro, pelo procurador federal Deltan Dallagnol e por outros procuradores, como agente infiltrado entre figurões do meio político, judicial e empresarial para obter informações que pudessem ser usadas como meio de chantagem.
Garcia era réu em processo comandado por Moro e este obrigou-o, em acordo de delação, por seu trânsito na política e outros meios, a agir como um agente infiltrado para gravar secretamente e coletar informações que pudessem ser usadas como instrumento de coação contra investigados, outros réus e testemunhas.
Como Garcia revelou espetacularmente na entrevista a Joaquim de Carvalho, fez parte do esquema a gravação de uma constrangedora “festa da cueca” com garotas de programa da qual teriam participado desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, idos a Curitiba para assistir a um jogo da seleção em 2006. Tudo teria sido registrada por um prendedor de gravata de um advogado e terminado em posse de Moro, para servir de instrumento de achaque junto a um tribunal superior ao dele.
Ainda segundo Garcia, desde 2004 Moro o usava para exercer, nele e em terceiros, métodos e estratégias de ameaça contra alvos e seus familiares, vilezas que vieram a constituir o próprio modus operandi da futura Operação Lava-Jato. Garcia revelou no programa ter provas de que seguiu operando a mando de Moro e dos procuradores de Curitiba mesmo após a oficialização da Lava-Jato em 2014. Indicou que ao longo de todo período a obsessão de Moro era encontrar elementos que incriminassem lideranças petistas como José Dirceu, a ex-presidenta Dilma Rousseff e principalmente o presidente Lula.
Outros alvos citados eram juizes do Superior Tribunal de Justiça. Garcia disse que Moro e os procuradores o ameaçavam de represálias judiciais se não exercesse a função de agente infiltrado. As ameaças, segundo ele, atingiam seus familiares. Garcia afirmou que foram submetidos a ameaças para forçar delações de políticos como o ex-governador tucano paranaense Beto Richa, o deputado José Janene, do PP do mesmo Estado, e até o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Tudo isso e muito mais foi informado por Garcia à juiza que sucedeu Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt, sem que se saiba que ela tenha feito algo senão encostar a denúncia.
Além do programa inicial, a TV 247 veiculou em 15 de agosto um documentário (“Os Crimes de Moro e a Máfia de Curitiba”) em que Tony Garcia fornece mais elementos de achaques semelhantes organizados por Moro, e conduz o repórter Joaquim de Carvalho por fóruns e tribunais. Carvalho ouve autoridades que confirmaram as denúncias e inclusive faz visitas a prostíbulos em Curitiba e Porto Alegre usados no esquema.
A partir da ação de Garcia, do trabalho de Joaquim de Carvalho e da iniciativa de Toffoli, mantos de segredo que cobrem os meandros da operação chefiada por Moro podem agora ser investigados.
As revelações de Tony Garcia carecem ainda de comprovação cabal pelas instâncias responsáveis. É o que se fará a partir de agora. São, porém, totalmente coerentes com a manipulação da Justiça com intenções políticas que foi flagrada, por outras fontes, durante a Vaza-Jato, envolvendo muitos dos mesmos agentes públicos que teriam coagido Garcia por quase duas décadas.
Que o caso de Tony Garcia tenha vindo à tona neste Brasil 247 revela a qualidade e a independência do jornalismo aqui praticado. Mostra também o desinteresse da mídia corporativa em veicular versões que ponham em dúvida a veracidade da Operação Lava-Jato. Esta mídia, parcial, esteve umbilicalmente ligada a Moro, abonando seus métodos enquanto foi possível. Agora, desmoralizada a forma da operação teima em reiterar o conteúdo da mesma, ainda que este tenha sido inteiramente anulado.
Não fora o espaço conquistado pela mídia independente e por este 247 entre ela, a denúncia de Garcia contra Moro não encontraria um veículo que lhe conferisse a credibilidade que ela merece ter. A partir das devidas apurações, ela pode, afinal, vir a gerar as consequências previstas na lei.
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