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“Quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir”, disse o presidente ao criticar o Banco Central, o mercado e a desigualdade brasileira

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Banco Central e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: ABR | REUTERS/Adriano Machado)

Em sua primeira declaração pública após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidir, nesta quarta-feira (19), pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,5% ao ano, o presidente Lula (PT) condenou a postura do banco liderado por Roberto Campos Neto, chamado pelo presidente de “esse rapaz”.

Lula questionou a suposta “independência” e “autonomia” do BC. “Eu fui presidente por oito anos. O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles era um cara que eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos. Aí resolveram entender que era importante colocar alguém que tivesse um Banco Central independente, que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Para atender quem?”, questionou durante entrevista à Rádio Verdinha, em Fortaleza (CE).

O presidente ainda destacou que enquanto muito se fala sobre a necessidade de ajuste fiscal, garantindo que o governo gaste menos do que arrecada – pretexto utilizado inclusive para cortar gastos relacionados a benefícios sociais -, a União segue gastando bilhões de reais com o pagamento de juros, agravados exatamente pela Selic mantida nas alturas pelo BC. “Eu estava em uma reunião do orçamento discutindo que nós temos possibilidade de ter um déficit de R$ 30 bilhões ou R$ 40 bilhões. Aí eu fico olhando do outro lado da folha que me apresentam, só de juros no ano passado foram R$ 790 bilhões que a gente pagou. Só de desoneração foram R$ 536 bilhões que a gente deixou de receber. E toda vez que a gente fica discutindo corte, a imprensa fala muito, fala que ‘aumentar o salário mínimo é gasto’, ‘aumentar para o professor é gasto’. E por que não transforma em gasto a taxa de juros que nós pagamos?”.

Lula também enfatizou quem ganha com os juros altos – os bancos e rentistas – e quem perde: o Brasil. “Se você pegar os investimentos de crédito nesse país, você vai perceber que os créditos, os grandes créditos, são feitos pela Caixa Econômica Federal, pelo Banco do Brasil, pelo BNB e pelo BNDES. Os bancos privados preferem, em vez de fazer crédito, ganhar dinheiro com a alta taxa de juros de 10,5%. Então foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, o povo brasileiro. Quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. E isso tem que ser tratado como gasto”.

O presidente também criticou a “insensibilidade” do mercado financeiro e a desigualdade tributária que rege o país. “Eu não vejo o mercado falar dos moradores de rua, dos catadores de papel, dos desempregados, das pessoas que necessitam do Estado. Quem é que necessita do Estado? É o povo trabalhador. É a classe média, que é quem paga imposto nesse país. Esses dias eu fiquei meio nervoso porque nós pagamos R$ 45 bilhões de dividendos para os acionistas minoritários da Petrobras, que não pagam um centavo de Imposto de Renda. E você, depois de trabalhar o mês inteiro, você vai receber o seu salário e vem descontado 27,5% de Imposto de Renda. O trabalhador ganha uma miséria de participação no lucro no final do ano e tem que pagar Imposto de Renda. E quem ganha dividendo não paga. Então é preciso que a gente tenha um pouco de sensibilidade para as pessoas perceberem que o que nós estamos tentando fazer é elevar um pouco o padrão de vida das pessoas mais humildes, para que se transforme em um padrão de consumo de classe média”.

Com informações do Brasil 247

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