Tristemente irônica a reportagem de Marina Dias, na Folha, descrevendo os apelos da banca financeira para que Henrique Meirelles deixe de lado sua ambição presidencial e não decaia definitivamente da sua posição de “sonho do capital”. Para isso, sugerem que vá ser vice de Alckmin ou, preferencialmente, vire nome “obrigatório” para o Ministério da Fazenda de qualquer um que se eleja Presidente, para que nada mude.
Nas últimas semanas, três dos principais banqueiros do país, Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco), Roberto Setúbal (Itaú) e André Esteves (BTG), conversaram com aliados do ex-ministro e manifestaram preocupação com os rumos da economia desde que ele deixou a Fazenda, em abril.Desde então, enumeram, o dólar disparou, a previsão do PIB caiu (de 2,5% para 2%) e houve redução significativa dos investimentos …
Francamente, é coisa de um primarismo que desqualifica ambas as partes.
É claro que um Ministro da Fazenda influencia o desempenho de uma economia e a confiança dos agentes esconômicos, mas isso em grandes orientações, e é a equipe de Meirelles que está no comando, desde que ele saiu e, com certeza, todos ainda em contato, discutindo e definindo ações. Portanto, os dirigentes de bancos acharem que é a ausência da figura pessoal de Meirelles que estabeleceu o pandemônio no mercado é de um primarismo inacreditável.
E, de outro lado, a “aposta” de Meirelles de que se tornaria um candidato viável conduzido pelo “mercado” e pelo reconhecimento pleno de gratidão por ter feito uma “retomada” da economia que “ninguém sabe, ninguém viu” é de uma pretensão tão tola que só poderia ter dado no fiasco que deu.
Custa a crer que alguém que é capaz de tão pouco tirocínio na política possa ser uma “gênio” da economia.
O sucesso de Henrique Meirelles no Governo Lula foi apenas como operador de política monetária e, assim mesmo, com suas ortodoxias limitadas pela presença de um Presidente da República que tinha visão clara sobre programas de investimento público, política salarial, elevação dos padrões de consumo da população, postura diante da banca nacional e estrangeira, comércio exterior e, desde 2008, de políticas contracíclicas de enfrentamento da crise econômica mundial.
Lula, a quem cansavam de apontar como um semianalfabeto, funcionou, ele próprio, como o “pacto social” que os neoliberais cansaram de apontar como desejável, mas nunca puderam implementar, porque pacto exige dois interesses diferentes encontrarem soluções comuns e os governos liberais não tinham dois lados, mas apenas o do capital.
Os homens do dinheiro até criaram um “slogan” para o que desejam, diz a reportagem: “chama o Meireles”.
Mas é evidente que são apenas eles, não o povo brasileiro que pretende chamá-lo e é por isso que Meirelles não funcionou e não funcionaria.
O que querem com esse “chama o Meirelles”, no quadro político-econômico do Brasil de hoje, para ter sucesso, teria de ser um “chama o Lula”.
POR FERNANDO BRITO