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Além da PF, procuradores da Lava Jato também devem ser investigados pela blindagem de Flávio Bolsonaro

por Jeferson Miola

O Ministério Público Federal [MPF] instaurou investigação criminal para apurar a denúncia de Paulo Marinho acerca do delegado da PF que alertou Flávio Bolsonaro sobre a Operação Furna da Onça.

A investigação será fundamental para apurar os fatos, mas deixará lacunas importantes se não investigar o eventual envolvimento ilícito também de procuradores da Lava Jato que atuaram na Furna da Onça com agentes da PF.

A Furna da Onça é um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras [Coaf] entregue à PF e ao MPF em janeiro de 2018 sobre a movimentação financeira atípica de deputados estaduais e assessores parlamentares, deu origem à Operação.

Fabrício Queiroz, lotado no gabinete do Flávio Bolsonaro na ALERJ, constava neste relatório do COAF devido à movimentação sem origem comprovada de R$ 1,2 milhão [posteriormente chegou-se à estimativa de mais de R$ 6 milhões], inclusive com depósitos na conta de Michelle Bolsonaro.

Paulo Marinho denunciou, a partir do relato do Flávio Bolsonaro a ele, que:

uma semana depois do 1º turno da eleição de 2018, Flávio foi avisado por um delegado da PF sobre a deflagração da Furna da Onça, que atingiria Queiroz e a filha Nathalia, lotada no gabinete do Bolsonaro na Câmara dos Deputados;
o delegado, que se declarou “eleitor, adepto, simpatizante da campanha” de Bolsonaro, teria dito que “nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição”;
Flávio comunicou o episódio ao pai [Bolsonaro], que então mandou desligar Queiroz e a filha Nathália dos gabinetes do clã em 15 de outubro de 2018.
Em 8 de novembro de 2018, 11 dias depois do 2º turno da eleição, a ação da Furna da Onça foi finalmente deflagada com a participação de 200 policiais federais, 35 membros do Ministério Público Federal e 10 auditores da Receita Federal.

Nela, foram presos 10 deputados estaduais e 16 assessores parlamentares e agentes políticos.

O incrível é que, apesar de apontados no relatório do COAF, nem Flávio Bolsonaro nem Fabrício Queiroz foram alvos de mandados de prisão.

Somente em 6 de dezembro de 2018, depois de longo tempo abafada, a informação sobre o relatório do COAF que incrimina Fabrício Queiroz vazou para a imprensa.

Com a repercussão do escândalo no noticiário, o chefe da Lava Jato Deltan Dallagnol se esquivou do caso [e prevaricou]: “Relatório do COAF apontou que 9 ex-assessores de Flávio Bolsonaro repassaram dinheiro para o seu motorista. Toda movimentação suspeita envolvendo políticos e pessoas a eles vinculadas precisa ser apurada com agilidade. É o papel do MP no RJ investigar” .

Uma investigação séria e isenta deve investigar toda a operação lavajatista Furna da Onça.

A investigação deve abarcar, além de policiais federais, procuradores da Lava Jato que eventualmente agiram para proteger os interesses do clã miliciano.

É preciso investigar por que a PF e o MPF, que receberam o relatório do COAF ainda em janeiro de 2018, evitaram deflagar a operação tanto antes do 1º turno da eleição, como entre o 1º e o 2º turno; e por que, depois de retardarem a ação para não “atrapalhar o resultado da eleição”, excluíram Queiroz e Flávio Bolsonaro dos mandatos de prisão expedidos em 8 de novembro de 2018?

Deve ser esclarecido, além disso, por que Deltan Dallagnol defendeu que “É o papel do MP no RJ investigar” Queiroz e Flávio Bolsonaro, se todos demais citados no mesmo relatório do COAF foram investigados e presos pelo MPF e pela PF no marco da sucursal da Lava Jato no Rio de Janeiro?

Deltan sabia que Flávio havia cometido crime, conforme deixou escapar no diálogo via Telegram que manteve com comparsas da Lava Jato em 8 de dezembro de 2018 publicado pelo site Intercept: “É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, exclamou ele, que depois mandou a investigação para o MP do Rio.

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