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Um homem franzino sustenta o sorriso para segurar o choro. Na véspera do aniversário, quando completará 38 anos, William Marcos Cosmiro ganhou um amargo presente: a incerteza. Neste sábado (20/1), serão fechadas as portas do lixão onde ele começou a trabalhar, na década de 1990, quando ainda era adolescente. Segundo o homem, na época essa era a única opção para ganhar dinheiro rápido e ajudar a mãe a criar os oito irmãos. Desde então, ali foi o local de serviço dele. Foi também em meio aos mosquitos e ao mau cheio que ele conheceu as duas ex-companheiras, com quem teve cinco filhos.

Após sucessivos adiamentos, o Lixão da Estrutural, o segundo maior a céu aberto do mundo, não receberá mais os resíduos descartados pelos brasilienses. William ainda nutria a esperança do prazo ser estendido mais uma vez, porém, a data é definitiva, assegurou o pré-candidato à reeleição, Rodrigo Rollemberg (PSB). Na manhã deste sábado (20), o governador encerra oficialmente as atividades da unidade.

William revela que se inscreveu para ser realocado em um dos cinco centros de triagem de materiais recicláveis alugados pelo governo e cedidos para sete cooperativas de trabalhadores do lixo, mas não foi chamado. Apesar de não saber como garantirá o sustento daqui para frente, ele conta a trajetória sorrindo, porque as memórias foram o que lhe restaram. “Vou sentir falta até dos urubus”, brinca. Como ele mesmo diz: “É rir para não chorar”.

Confira um trecho do relato do catador

 

Histórias como as de William ecoam pelos 200 hectares do lixão. A área corresponde a 200 campos de futebol. Os morros do depósito são formados por resíduos – durante os 57 anos de funcionamento, foram acumuladas 40 milhões de toneladas de lixo, que somam mais de 60 metros. No local, trabalhavam em torno de 2 mil pessoas.