De acordo com a AGU, mentiras espalhadas pela extrema direita prejudicaram ações do governo para conter o preço do dólar
AGU: “A desinformação, ao interferir diretamente na percepção do mercado, comprometeu a eficácia da política pública federal de estabilização cambial”
Uma fake news difundida nesta terça-feira (17), atribuindo falsas declarações ao futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, prejudicou ações do governo para conter o preço do dólar e levou a Advocacia Geral da União (AGU) a acionar a Polícia Federal (PF) para investigar o caso.
A AGU encaminhou ofícios à PF e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite de quarta-feira (18) solicitando a instauração de procedimentos policial e administrativo para a apuração de possíveis crimes contra o mercado de capitais, a partir da veiculação de desinformação envolvendo Galípolo e a política monetária brasileira.
“A desinformação, ao interferir diretamente na percepção do mercado, comprometeu a eficácia da política pública federal de estabilização cambial, evidenciando o elevado potencial lesivo de boatos neste contexto”, escreveu a AGU em nota diante das postagens das noticias falsas, usando o nome de Galípolo, por um perfil suspeito na rede social X que tem cerca de 3.500 seguidores.
“Urgente! Isso é criminoso!”, postou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) em seu perfil na rede social X.
“Internet não é terra sem lei! Isso é um ato criminoso e precisa ser apurado e punido com rigor!”, sentenciou o perfil do PT na Câmara.
Gabriel Galípolo é o atual diretor de Política Monetária do Banco Central e foi indicado pelo presidente Lula para comandar o banco a partir de 2025.
Deputado denuncia terrorismo
O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) classificou como “terrorismo” a prática de manipulação cambial e especulações para criar ambiente de desestabilização econômica e financeira no país. “É de uma irresponsabilidade absurda com a classe trabalhadora e com a população mais vulnerável do nosso Brasil”, pontuou.
À PF ele também pediu investigação e punição aos manipuladores do câmbio. Em seu perfil na rede X ele postou link com “todos detalhes do que a PF pode e deve investigar” e citou a Lei 6.385/76, Art. 27-C que prevê pena de reclusão de até oito anos e além de multa de até três vezes o montante de vantagens obtidas de forma ilícita para quem realizar operações simuladas ou executar outras manobras fraudulentas.
Dirceu protocolou pedido para que a PF do Distrito Federal abra inquérito contra a chamada “Faria Lima”, a fim de identificar quem são as pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela prática de possíveis crimes contra o mercado de valores mobiliários, especialmente por meio da manipulação do câmbio.
Na semana passada, o deputado solicitou à Comissão de Ética da Presidência da República e ao Ministério Público Federal (MPF-DF) a mesma representação contra o grupo de especuladores da chamada “Faria Lima”.
Atuação camuflada
“Isso é um ataque especulativo feito por atores da fintwit, aqui no X, usando declarações falsas atribuídas ao Gabriel Galípolo. Muitos deles apagaram as publicações, outros já excluíram os perfis, mas observem que o ataque dura menos de duas horas”, detalhou o analista de redes sociais com foco em política e campanhas eleitorais, Pedro Barciela, em seu perfil no X.
Ele explicou, nas postagens, que os autores desses conteúdos “posteriormente desmentidos são extremamente atuantes nesse cluster”, e se caracterizam por ter atuação extremamente ideológica camuflada de análise técnica. “Diversos deles já apagaram – ou pensam que apagaram – os conteúdos”, escreveu Barciela.
“Portais como o Brazil Journal desmentiram os tweets – Galípolo sequer falou publicamente hoje – enquanto outros atores também alertaram para os conteúdos falsos”, finalizou o analista.
Secom/PR iniciou o processo
Logo que tomou conhecimento das mensagens falsas, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR) acionou a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD), que afirmou, em ofício, que a desinformação, ao interferir diretamente na percepção do mercado, comprometeu a eficácia da política pública federal de estabilização cambial, evidenciando o elevado potencial lesivo de boatos neste contexto.
“Manifestações em plataformas digitais não podem ser realizadas para gerar desinformação sobre políticas públicas nem minar a legitimidade das instituições democráticas, já que essas condutas podem causar prejuízos concretos ao funcionamento eficiente do Estado Democrático de Direito”, ressaltou a procuradora nacional da União de Defesa da Democracia, Karina Nathércia Lopes. “A proteção e a promoção da integridade da informação exigem que o ecossistema digital ofereça informação confiável, consistente, clara e precisa”, concluiu.
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