Globo reclama da obra da criatura que ajudou a parir:
A participação de Jair Bolsonaro na cúpula virtual do Brics serviu para que ele desse indicações de que o Brasil pós-Trump persistirá no isolacionismo, distante dos organismos multilaterais, no negacionismo de sempre diante da pandemia e dos crimes ambientais cometidos na Amazônia. Aproveitou para deixar isso claro ao vivo, na frente do presidente da China, Xi Jinping, principal parceiro comercial do país, que tem assumido discurso oposto, em defesa da globalização e da cooperação entre os países. A postura de Bolsonaro tem um certo aspecto suicida, já que vai contra o interesse nacional e lança por terra toda a tradição diplomática do Itamaraty.
Bolsonaro usou a cúpula para mandar recado aos críticos da passividade com que seu governo trata o desmatamento e os incêndios na Amazônia. Na tentativa evidente de transferir responsabilidades pela destruição da floresta, anunciou a divulgação de uma lista de países que criticam o Brasil e importam madeira ilegal. Tenta, assim, se contrapor de maneira canhestra a informações sólidas de que o relaxamento do Ibama nos controles sobre a exportação de madeira, já em seu mandato, é que tem facilitado o comércio criminoso. A responsabilidade está na origem, não no destino.
Outro atrito gratuito com Xi ocorreu quando Bolsonaro renovou suas críticas à Organização Mundial da Saúde (OMS), num eco a seu inspirador Donald Trump. Xi deu uma resposta que, fosse numa reunião em pessoa, decerto traria mal-estar, mas terminou passando em branco. Citou a vacina que a chinesa Sinovac desenvolve com o Instituto Butantan, de São Paulo, atacada por Bolsonaro em sua rivalidade infantil com o governador João Doria.
Do Globo: