As novas revelações sobre as promíscuas relações entre o Juiz Sergio Moro e a tropa de procuradores da Lava Jato são de fato, como disse o próprio Glenn Greenwald, o que de mais grave, “até agora”, veio à tona (este “até agora” é importantíssimo).
Recordando para quem ainda não sabe do que se trata: os diálogos revelados nesta terça-feira (18) pelo The Intercept mostram que Sergio Moro ponderou com seu “menino de ouro” Deltan Dallagnol sobre a (in) conveniência de se investigar FHC pois “melindra alguém cujo apoio é importante”.
Mesmo que o FHC em questão fosse um jurista, não seria o caso de um juiz sugerir a um procurador que este jurista não fosse investigado, em troca seja do que for, ainda mais de “apoio”. Mas o FHC não é um jurista. É um político. Ex-presidente da República. Líder da corrente política preferida do principal grupo de comunicação do Brasil, as Organizações Globo, que desde sempre é um poderoso braço midiático da operação Lava Jato.
Ora, se FHC não é jurista, é político, o “apoio” desejado por Moro não seria a uma causa judicial, mas a uma causa política.
A ponderação de Moro a Dallagnol mostra, mais do que qualquer outra coisa já revelada, que Moro, usando a toga como arma e auxiliado por uma matilha de procuradores, perseguiu de forma vil quem ele considerava um obstáculo ao seu projeto político, e como qualquer projeto político, este também precisava de apoios e aliados políticos. Este é um fato incontornável. FHC entendeu seu papel (quem sabe, emissários não o procuraram para adverti-lo sobre o que dele se esperava). Papel que vem desempenhando até agora, em troca da proteção que recebeu, cujos termos talvez venham à tona de forma mais explícita em novas relevações.
O paroxismo de hipocrisia de parte da mídia e das camadas médias e altas, para as quais a frase “a lei é para todos” constitui apenas um recurso de retórica, ameaça destruir por completo a nossa incipiente, pouco aprofundada e débil democracia, mas, mesmo assim, a única que temos.
Pois só a destruição do que resta do Estado de Direito pode impedir que Moro e os farsantes procuradores da Lava Jato paguem por seus crimes e Lula seja solto. A impunidade de juiz e procuradores tão flagrantemente criminosos abriria caminho para instrumentalizar 100% a justiça e o aparelho judicial a serviço de perseguir os “suspeitos de sempre”, inimigos do novo regime. Neste cenário, não seria preciso nem um cabo e um soldado para fechar o STF, que perderia qualquer relevância.
Assim como no conto de Hans Christian Andersen, “A Roupa Nova do Rei”, o que muitos já sabiam e alguns fingiam desconhecer está à vista de todos: o Rei está nu. Inapelavelmente despido diante dos olhos de todos. Mesmo os que fazem parte da corte, secretamente desviam o olhar diante do espetáculo constrangedor de sua nudez.
Tal fato é incontornável. A não ser para os cegos por conveniência.
Por *Wevergton Brito Lima é jornalista.
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