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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que nunca chegou a conhecer Jair Bolsonaro durante seu período na política, apesar de ter escutado menções ao seu nome e até mesmo ameaças por ele proferidas. A declaração foi dada ao programa Conversa com Bial, que foi ao ar na madrugada de hoje, na TV Globo.

“Ele falava mal de mim, uma vez disse que ia me fuzilar, com não sei quantos mais. Eu não ligava para isso, porque ele não existia. Erro meu, porque ele existe. Foi presidente, foi eleito, e corre o risco de ser reeleito. Depende da capacidade que nos tenhamos de oferecer uma alternativa capaz de enfrentá-lo”, disse FHC.

Fernando Henrique se referia ao episódio protagonizado por Bolsonaro durante uma entrevista ao programa “Câmera Aberta”, de 1999. À época, o atual presidente do Brasil disse que apenas uma guerra civil consertaria o país, e que seria necessário fazer o “trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil, e começando por FHC”.

Fernando Henrique explicou que, em todos os cargos que passou – de senador, a ministro e presidente – nunca trabalhou com Bolsonaro. Para ele, o atual presidente não tem o peso cultural que o país precisa.

Ao comentar sobre o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), FHC disse ter a impressão de que “o nosso governo está deslocado, não está batendo na mesma toada que o resto do mundo”. Mesmo assim, o ex-presidente se disse otimista de que seja “transitório” e possível de melhorar.

Para Fernando Henrique, os partidos políticos precisam ter mais proximidade com a realidade do povo brasileiro. Essa, segundo ele, seria uma vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), porque ele “veio de baixo” e “guardou na memória dele o que é dificuldade da vida”.

“Não podemos nunca esquecer que a vida é dura para muita gente, e olhar para essa maioria. Talvez o presidente atual olhe mais para os colegas dele”, opinou.

Por isso, para o ano que vem, FHC considera necessária a existência de uma frente que possa evitar a vitória de “quem está ganhando” – em referência a Lula e Bolsonaro, que lideram as pesquisas de intenção de voto. No entanto, o tucano não mostrou preocupação de que este nome saia, necessariamente, do PSDB. E, sim, que haja “um caminho mais aberto, mais democrático”, para fugir da “polarização”.

“Nunca votei no Bolsonaro, e dessa vez quero poder votar com tranquilidade. Mas se não puder votar com tranquilidade eu vou fazer uma escolha, porque nós sabemos o que significa o Bolsonaro”, disse.

Sendo assim, disse que escolheria Lula por ser “democrata” e respeitar as instituições. FHC disse, também, que o petista é “uma pessoa curiosa” por ser ao mesmo tempo um “líder sindical” que “olha para os que mais precisam” e que também “gosta dos que não precisam”.

“Ele faz uma ponte aí. E em certas circunstâncias é melhor ter a ponte do que alguém que derrube pontes”, afirmou.

No programa desta terça, Fernando Henrique falou, também, sobre o livro “Um intelectual na política: Memórias” – que será lançado no dia 31 de maio -, e sobre o documentário “O Presidente improvável”, dirigido por Belisario França e previsto para o primeiro semestre de 2022.

O livro, escrito pelo próprio FHC, reúne memórias de vida dele desde a infância. Já o documentário, traz um panorama sobre a história do político, que durante a ditadura militar foi perseguido e ameaçado, e se exilou no Chile e depois na França. Entre os convidados para uma série de diálogos documentados estão 18 personalidades importantes, como Bill Clinton, Boris Fausto, Gilberto Gil, Nelson Jobim, entre outros.

Questionado se teria pensado em convidar o ex-presidente Lula para as gravações, Fernando Henrique disse que não teria “nenhuma objeção” ou “reserva com relação ao Lula”. Disse, ainda, que “se puder” fala com o petista, a quem fez elogios.

“Como pessoa, o Lula é sagaz. Desde que o conheci, fiquei admirado com a capacidade que ele tinha. Ele percebe na hora, e ele muda na hora também. Ele é rápido. Ele não precisa ler, ele percebe”, disse.

Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil de 1995 a 2003. Atualmente é presidente de honra do Diretório Nacional do PSDB.

UOL

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