Do BR 2pontos – O presidente Jair Bolsonaro já cogitou com ministros do Palácio do Planalto a possibilidade de renunciar ao cargo, caso considere não ter condições políticas para impor sua agenda ao Congresso e ao País. A informação está em reportagem do jornal Folha de S. Paulo, publicada neste sábado 18, atribuída a relatos feitos entre integrantes do Alto Comando do Exército.
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Encurralado por uma relação desgastada com o Congresso, suspeitas que atingem um de seus filhos e manifestações populares contra seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) compartilhou ontem um texto sobre as dificuldades de seu mandato dizendo que o Brasil “é ingovernável” sem os “conchavos” que ele se recusa a fazer, segundo a Folha.
A mensagem, distribuída pelo presidente em grupos de WhatsApp dos quais faz parte e atribuída por ele a um autor desconhecido, diz que o mandatário estaria impedido de atuar por não concordar com os interesses das corporações.
O compartilhamento do texto por Bolsonaro elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e representantes de outros Poderes, com interpretações divergentes sobre as intenções do presidente ao endossar a mensagem —publicada no sábado (11) em rede social por um filiado ao Novo-RJ e replicada em outros grupos.
Parte dos auxiliares do presidente no Palácio do Planalto diz que ele se deixa levar por teorias da conspiração espalhadas pelo grupo que segue o escritor Olavo de Carvalho e por influência de seus filhos —o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) já havia exposto conceitos do tipo em rede social.
A mensagem chegou a motivar boatos acerca de eventual renúncia do presidente —alguns aliados viram nela um arcabouço narrativo para uma saída do cargo por culpa de resistências à suposta agenda antiestablishment de Bolsonaro.
Seria, para eles, uma espécie de “cenário Jânio Quadros”, segundo o qual Bolsonaro poderia emular o presidente que renunciou em 1961 após oito meses de inação, colocando a culpa em supostas “forças terríveis”.
No Alto Comando do Exército, instância máxima do poder militar brasileiro, circulou um relato segundo o qual Bolsonaro disse a ministros palacianos que poderia renunciar se as dificuldades continuassem.
Segundo um general ouvido, a mensagem desta sexta seria uma sinalização pública do presidente a aliados, mas ele disse não acreditar que por ora isso seja mais do que um “chamado às armas” para os apoiadores numa das piores semanas do governo.
Um auxiliar direto do presidente, porém, negou tal versão, considerando uma “plantação de militares” interessados em enfraquecer o presidente e seu núcleo duro.
Integrantes do Judiciário e do Legislativo dizem que o presidente recorreu à estratégia do ataque ao Congresso e ao STF para tentar “sair das cordas” naquele que é considerado o pior momento de seu governo.
A distribuição do texto por Bolsonaro foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada depois pela Folha. Ao compartilhá-lo, o presidente escreveu que ele era “no mínimo interessante”, apontando como “leitura obrigatória”.
Após confirmá-la, o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, divulgou outro recado do presidente também sobre as dificuldades do mandato.
“Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o país de volta ao trilho do futuro promissor. Que Deus nos ajude!”, afirmou.
Professor de finanças, escritor de livros na área, funcionário na CVM (Comissão de Valores Imobiliários) e filiado ao Novo-RJ, Paulo Portinho, 46, disse que o texto compartilhado por Bolsonaro é de sua autoria —e ficou assustado com a repercussão. “Já disseram que eu escrevi a carta de renúncia do Bolsonaro, que sou da CIA, que sou aluno do Olavo [de Carvalho]”, brincou.
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