A carta, publicada pelo próprio Exército, é dirigida à jornalista Ana Clara Costa, editora-chefe da revista Época. Nela, o general exige (sim, EXIGE) que a revista apresente “imediata e explícita retratação” em virtude de um artigo assinado por um colunista do periódico, artigo este que teria deixado o general e seus superiores muito chateados.
A risível “exigência” mostra que o general do bigodinho da imagem acima está em consonância com os demais militares que ocupam cargos neste governo: ele não tem a menor ideia de quais são e como funcionam as leis e os procedimentos da área que comanda.
Afinal, se comanda o Ministério da Saúde um general que nada entende de Saúde ou de logística, como já tratou de provar e reprovar em inúmeras ocasiões o senhor Eduardo Pazuello, o general Nunes, com sua carta tragicômica, mostrou que nada conhece sobre a legislação em vigor no país a respeito de liberdade de expressão, controle das atividades de mídia e relação entre o Estado e a imprensa.
Não, general Nunes, o senhor ou o Exército não podem exigir coisa alguma da revista Época ou de qualquer outro veículo de comunicação. (Ainda) não estamos (mais) vivendo sob ditadura, general. O senhor, chefe de comunicação do Exército, apenas expõe as Armas brasileiras ao ridículo tentando praticar tal exigência.
Não se pretende, aqui, entrar no mérito do que escreveu o colunista, posto que não importa. Há mecanismos de controle para que a lei alcance tanto o autor do artigo quanto o veículo que o publicou, se for o caso. Tais mecanismos, inapelavelmente, passam pela intermediação da JUSTIÇA.
Caso o senhor ou quem quer que o senhor represente entenda que o artigo em questão feriu as leis em vigor, o caminho que deve seguir é o mesmo que devem todos os brasileiros: buscar a prestação jurisdicional, ou seja, em palavras mais simples para que entenda, é preciso processar a revista, general. De nada adianta enviar cartinhas enfezadas à editora-chefe do periódico.
Para os que têm estômago e apreço pelo humor do tipo pastelão, segue, abaixo, a carta-piada do general Nunes.
Brasília-DF, 18 de janeiro de 2021.
Incumbiu-me o Senhor Comandante do Exército Brasileiro de expressar indignação e o mais veemente repúdio ao texto de autoria de Luiz Fernando Vianna, publicado nesse veículo de imprensa em 17 de janeiro de 2021.
A argumentação apresentada pelo articulista revela ignorância histórica e irresponsabilidade, não compatíveis com o exercício da atividade jornalística. Atribuir a morte de brasileiros a uma Instituição de Estado, cuja história se confunde com a da própria Nação, nas lutas pela manutenção de sua integridade, caracteriza comportamento leviano e possivelmente criminoso.
Afirmações dessa natureza, motivadas por sentimento de ódio e pelo desprezo pelos fatos, além de temerárias, atentam contra a própria liberdade de imprensa, um dos esteios da democracia, pela qual o Exército combateu nos campos de batalha da II Guerra Mundial e por cuja preservação tem se notabilizado em missões de paz em todos os continentes.
Cabe ressaltar que, durante a pandemia, o Exército, junto às demais Forças Armadas e a diversas agências, tem-se empenhado exatamente em preservar vidas.
Para isso, vem empregando seus homens e mulheres por todo o território nacional, particularmente em áreas inóspitas, onde se constitui na única presença do Estado, realizando atendimentos médicos, aumentando estoques de sangue por meio de milhares de doações, transportando e entregando medicamentos e equipamentos, montando instalações, desinfetando áreas públicas, enfim, estendendo a Mão Amiga a uma sociedade que lhe atribui os mais altos índices de credibilidade.
Por fim, o Exército Brasileiro exige imediata e explícita retratação dessa publicação, de modo a que a Revista
Época afaste qualquer desconfiança de cumplicidade com a conduta repugnante do autor e de haver-se transformado em mero panfleto tendencioso e inconsequente.
General de Divisão Richard Fernandez Nunes
Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército
Senhora Ana Clara Costa, Editora-Chefe da Revista Época,