A cineasta Petra Costa afirma que a indicação ao Oscar de “Democracia em Vertigem” na categoria de melhor documentário revela que a crise brasileira, “infelizmente, é uma história global”. “É muito bom ter esse reconhecimento internacional, que mostra que essa história não é só uma história brasileira.”
Em entrevista ao “Jornal da CBN – 2ª Edição”, Petra julga ser positiva a indicação “num ano em que teve tanto ataque ao cinema nacional” da parte do governo Bolsonaro. Ela diz que recebeu com “grande surpresa” e alegria a indicação ao Oscar do documentário produzido pela Netflix.
Para Petra, “no momento em que” o PSDB não “aceita o resultado da eleição de 2014, abre-se caminho para uma erosão democrática que acarreta na eleição do Bolsonaro”.
“Concordo que a Dilma errou na economia, principalmente quando ela descumpre a promessa da campanha e implementa um regime de austeridade até mais severo do que o oponente dela [Aécio Neves, do PSDB] prometia fazer. Com isso, ela perde toda a base política dela”, diz a diretora.
Petra avalia que “a Lava Jato, no começo, teve uma política necessária de combater uma corrupção sistêmica que o Brasil tem há décadas, mas foi politizando e fazendo uma judicialização da política que é um dos principais inimigos da democracia hoje”. “Se a gente não pode confiar num dos três braços de uma instituição democrática, de um dos poderes [a democracia se enfraquece]. A democracia é baseada na confiança.”
Na visão da cineasta, ter um juiz como Sergio Moro, estrela da Lava Jato e hoje ministro da Justiça de Bolsonaro, que age ao mesmo tempo como “procurador e depois julga”, o que se provou fato com a Vaza Jato, “erodiu um dos principais pilares da democracia brasileira”.
Nas redes sociais, o PSDB debochou da indicação ao Oscar: “Parabéns à diretora Petra Costa pela indicação de melhor ficção e fantasia”. A diretora responde com a elegância que faltou ao partido.
Petra diz que “é uma pena que o PSDB não veja este momento como um momento tão importante para o Brasil”. Para ela, os tucanos não mostram “capacidade de distinguir a ficção da realidade”.
A diretora Petra afirma que o impeachment de Dilma foi “um golpe institucional”. “O Congresso brasileiro se utilizou de lei de impeachment, mas a distorceu. (…) A aplicação da lei de impeachment para uma manobra fiscal é um crime democrático. A democracia não sobrevive não só pelo respeito à Constituição, que pode ser manipulada, mas a duas normas não escritas, que são respeito mútuo e autocontrole. Saber que você pode destruir o seu oponente, mas deixar de fazê-lo por respeito à democracia. Acho que é isso que faltou à política brasileira nos últimos anos e que levou à nossa crise atual.”
Trump e Bolsonaro foram eleitos com utilização de fake news e manipulação das redes sociais, avalia Petra. “Isso está levando ambos os países (EUA e Brasil) a uma descrença na democracia”.
Sobre o governo Bolsonaro, a diretora tem a seguinte opinião: “É um governo que está tragicamente atacando a cultura, atacando o meio ambiente, atacando os direitos trabalhistas, os direitos conquistados depois de décadas”.
Num momento em que o Brasil perde força no cenário internacional com os retrocessos do governo Bolsonaro, a indicação ao Oscar de melhor documentário de “Democracia em Vertigem”, da diretora Petra Costa, traz prestígio ao país. Nesse contexto, a produção da Netflix tem papel importante para transmitir outra visão sobre a história do Brasil e para influenciar o debate público doméstico.
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