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Bolsonaro tem um cheque de R$ 20 milhões para tentar cooptar artistas e intelectuais, que formam um dos mais influentes e corajosos polos de resistência a seu governo, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

A queda espetacular de Roberto Alvim não deve produzir ilusões. Se a permanência do Goebells tropical no ministério tornou-se insustentável, o projeto que pretende modelar a cultura brasileira por princípios inaceitáveis, típicos do  nazismo, não foi revogado e deve ser combatido com o mesmo ardor.  

Isso quer dizer que, após celebrar a queda de um fanfarrão perigoso, será necessário compreender e  denunciar  o Premio Nacional das Artes, no qual o governo Bolsonaro pretende gastar R$ 20 milhões para amaciar a rejeição corajosa, admirável, de um dos principais polos de resistência a seu governo, aquele universo onde se encontram os mais influentes artistas e intelectuais brasileiros. 

Vamos entender que a encenação em vídeo não foi uma fantasia pessoal ou distração moral.  Expressa um projeto que tem a mesma inspiração deixada por Goebells, conhecido por manter uma relação com a intelectualidade alemã por uma frase cristalina — chegou a dizer que sentia impulso de sacar um revólver quando ouvia falar em Cultura. 

(Mais fanático dos integrantes da corte de Hitler, quando a derrota militar do nazismo tornou-se inevitável, Goebells não só cometeu suicídio, mas fez questão de assassinar os filhos, ainda crianças, impedindo criminosamente que cada um tivesse direito de desfrutar a própria vida). 

O projeto Alvim/Goebelles não fala de cultura nem de arte,  mas Propaganda. Não quer estimular obras capazes de refletir o país, de forma ampla e plural, produzidas com a indispensável independência em relação ao poder do Estado. Pelo contrário. O espírito republicano é do feitio Waintraub e Damares. 

Com um cheque de 20 milhões de reais, o mesmo governo que tem feito o possível para sabotar todos os meios de auto-financiamento de nossa cultura, que conheceu um revigoramento impressionante na última década, pretende colocar uma parcela dos artistas brasileiros a serviço do bolsonarismo. Este terá a palavra final sobre forma e conteúdo. 

Caso o macabro projeto Alvim/Goebells seja levado adiante, podemos imaginar uma deprimente  cena final. No dia combinado, de preferência num estádio de futebol, o novo Secretário (será Regina Duarte?) irá anunciar os vencedores para uma platéia extasiada, gritando Anauê, Heil-Hitler e assim por diante. 

Alguma dúvida?

Roberto Alvim e Jair Bolsonaro
Roberto Alvim e Jair Bolsonaro

Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

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