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Diplomata de carreira entre 1961 e 2004, o ex-ministro Rubens Ricupero disse ao Valor que o tom adotado na quinta-feira (17) pelo Ministério das Relações Exteriores em comunicado sobre a Venezuela, se tivesse sido escrito em outra época, poderia levar a uma guerra contra o país vizinho.

“O Brasil sempre teve posição diplomática de prestígio porque sempre usou uma linguagem adequada para se referir aos demais (…). Mesmo quando discordávamos, era sempre uma linguagem civilizada. Esse tipo de linguagem que se usou é uma linguagem desabrida, ofensiva, de acusações de crime… Isso, em outra época da história, levaria a uma guerra. Há cem anos, haveria um choque armado”, afirmou.

A nota publicada pelo Ministério das Relações Exteriores dizia que o governo venezuelano “chefiado por Nicolás Maduro constitui um mecanismo de crime organizado” – e ainda que “está baseado na corrupção generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo”.

“Tem havido certo abuso desse linguajar, mas não tem nenhum propósito útil, se o Brasil não quer de fato entrar em um conflito armado com a Venezuela, como vem sendo dito”, falou Ricupero, que faz um alerta: “os diplomatas europeus, por exemplo, devem estar de cabelo em pé (…). Eu nunca vi nada parecido. Colegas meus me mandaram mensagens espantados e preocupados. Colegas que são diplomatas ou daqui ou da reserva. São exclamações de estupefação”, contou.

Ricupero lembra que os países são soberanos e as últimas iniciativas de derrubar governos em nome da democracia não acabaram bem. “Não há como um país resolver o problema de um outro país. Infelizmente, num mundo como o nosso, que é um mundo de soberania, cada país tem que encontrar o próprio caminho. As últimas iniciativas que tivemos com a lógica de levar a democracia e os direitos humanos através do mundo não acabaram bem”, afirmou, citando Líbia, Iraque e Afeganistão.

Ricupero teme que o Brasil passe a não ser levado a sério. “Desse jeito, o Brasil acabará não sendo levado a sério, entre as nações civilizadas (…). Não pode haver nenhum tipo de diálogo quando há trocas de insultos e xingamentos (…). Em toda a nossa linha de atuação internacional, independentemente da inclinação ideológica dos governos, de direita ou de esquerda, houve sempre uma constante que era o senso de medida, equilíbrio, comedimento (…). O Brasil vai ficar sempre com essa mancha. Ainda que um dia ele evolua e não tenha um governo troglodita no futuro, vai ficar sempre com essa mancha histórica de um país que foi capaz de cometer esses absurdos. É uma coisa que não se apaga”, concluiu.

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