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Reagindo ao crescimento da mobilização em defesa do ex-presidente Lula e de seu direito de ser candidato, o conservantismo e o antipetismo, através das redes sociais e  de seus porta-vozes na mídia, engajaram-se numa campanha para caracterizar o PT e seus aliados no campo da esquerda como radicais, autoritários, anti-democráticos, violentos e insurgentes contra a Justiça. Esta ação está em pleno curso, como parte da disputa da opinião pública sobre o que poderá ser uma gravíssima interferência do Judiciário no processo eleitoral. As manifestações de apoio a Lula e de discordância com o processo são próprias da esfera política, são legítimas e democráticas, desde que pacíficas, e estão sendo organizadas com este espírito. Em matéria de autoritarismo e radicalismo, os setores do Judiciário e do MPF condutores do processo é que avançaram o sinal desde o início: com a ilegal condução coercitiva de Lula, com gravações divulgadas ilegalmente, com o espetáculo do power-point  inócuo e com a condenação sem provas por parte de Moro. O TRF-4 também radicalizou ao passar o recurso de Lula à frente de outros de olho no calendário eleitoral. Seu presidente, Thompson Flores,  radicalizou na politização do assunto, denunciando ameaças aos desembargadores que, se fossem realmente sérias, teriam ensejado providências, pois ele dispõe de instrumentos para isso.  Sua movimentação em Brasília foi própria de quem buscava elevar a temperatura e não conter os ânimos.  Tem atuado como radical e autoritário desde o momento em que, mesmo sem ler, definiu a sentença de Moro como irretocável.

Onde está o radicalismo de que acusam os defensores de Lula?  Eles se apegam principalmente à  frase da senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que tropeçou na metáfora ao dizer que para prender Lula “vai ter que matar gente”.  Mas é preciso ter muita má vontade ou má intenção para não compreender que ela falou em sentido figurado, buscando ressaltar  a amplitude da corrente de apoio e solidariedade ao ex-presidente. Uma ou outra manifestação mais exaltada, de militantes e simpatizantes, pode ter sido encontrada na Internet mas, novamente,  só a vontade de esquentar  ainda mais o ambiente explica a generalização. PT, CUT, partido aliados e outros movimentos  sociais estão negociando sobriamente com o secretário de Segurança do Estado do Rio Grande do Sul, Cesar Shirmer, as condições em que ocorrerão  as manifestações das caravanas que começam a chegar a Porto Alegre no dia 23. O própria Lula, numa decisão sensata, decidiu ficar em São Paulo no dia 24. Poderiam atribuir à sua presença a intenção de insuflar as mais de 50 mil pessoas que estarão nos atos de Porto Alegre.

Está em curso também o questionamento da campanha “eleição sem Lula é fraude”, com base no argumento de que a Lei da Ficha Limpa não  pode abrir uma exceção para Lula. Pois, se condenado, a ele também deve ser aplicada a inabilitação eleitoral prevista para todos os condenados em segunda instância.  Não se trata, porém, de tentar colocar Lula acima da lei. Não gosto dela, mas é lei. O que os defensores  de Lula questionam é a natureza do processo  e da condenação inicial,  em que se tornou nítida a perseguição política, a predisposição para condenar e, por consequência, inabilitar eleitoralmente o ex-presidente. O que se questiona é o fato de, mesmo não podendo provar que Lula é dono do tríplex da OAS, agora penhorado por credores da empreiteira, Moro o condenou por corrupção passiva, com base na palavra de um delator destroçado pela tortura penal. É o tal lawfare de que falam a defesa de Lula, respeitados juristas nacionais e estrangeiros e grandes nomes da inteligência nacional e mundial que assinaram o manifesto “eleição sem Lula é fraude”. Será fraude porque  a Justiça terá sido instrumentalizada para uma gravíssima intervenção no processo eleitoral, dele excluindo o candidato que é líder em todas as pesquisas.   Isso sim, é violência, radicalismo, autoritarismo.

TEREZA CRUVINEL