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Presidente afirmou que não vai tomar a vacina, incentivando a população a não se proteger

O Brasil assiste ao crescimento da quantidade de casos da covid-19, que se aproxima de 7 milhões, e a aceleração da quantidade de mortes, que somaram 915 nas últimas 24 horas. Ao todo, já foram perdidas 182.799 vidas, sem contar a subnotificação. Apesar de alertas de especialistas e dos organismos de saúde, governos têm sido tímidos em novas medidas de distanciamento e as festas de fim de ano podem levar a um mês de janeiro com recordes de óbitos. O governo federal não garante a continuidade do auxílio emergencial, o que aumentará a miséria e a pobreza, colocando ainda mais pessoas negras e pobres em situação de vulnerabilidade.

A única notícia positiva, em um cenário de novas ondas de contaminação, é o avanço no desenvolvimento das vacinas, com as primeiras aplicações sendo realizadas no Reino Unido, meses antes da maioria das previsões, e diversas vacinas em estágio avançado.

O Brasil está atrasado na corrida mundial pela vacina e não por acaso ou incompetência. Trata-se de uma decisão política, em sintonia com o negacionismo com o qual o governo tratou a pandemia. O Ministério da Saúde não se preparou para a imunização, não tendo feito nenhuma compra ou reserva sequer de seringas, sendo que deverão ser necessárias 300 milhões de seringas e agulhas – a vacina mais avançada é aplicada em duas doses.

Coincidentemente, o setor privado já se movimenta para transformar a pandemia em lucro. Associações dos hospitais privados e de clínicas de vacina propuseram ao governo participar do programa de vacinação, oferecendo a rede de clínicas, hospitais e laboratórios privados. Não se trata, obviamente, de uma ação humanitária, mas nova investida da saúde privada contra o SUS, que deverá ter orçamento reduzido em 2021.

Somente após o desgaste provocado pelo anúncio de governos estaduais oferecendo diretamente a vacina, como o de São Paulo, o governo admitiu a vacinação e afirmou que compraria qualquer vacina aprovada pela Anvisa em “cinco dias”. Nesta quarta, 16, apresentou oficialmente um plano nacional de imunização, feito às pressas e sem consultar sequer os especialistas que o assinam. Na coletiva, o ministro da Saúde garantiu que teria feito o planejamento para a compra das doses e a vacinação em massa, que não haveria tratamento diferenciado aos estados. Pazuello, descaradamente, recorreu ao SUS, ao afirmar: “O povo brasileiro tem capacidade de ter o maior sistema único de saúde do mundo, de ter o maior programa nacional de imunização do mundo, nós somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Pra que essa ansiedade, essa angústia?”. A frase é um desrespeito a todas as vítimas da covid-19 e a seus familiares.

Bolsonaro: “Não vou me vacinar”

Essa guinada e as falas do ministro da Saúde contrastam com as declarações e omissões do presidente. Nesta terça, 15, em entrevista ao apresentador Datena, da Band, Bolsonaro afirmou que não iria se vacinar: “Como cidadão é uma coisa e como presidente é outra. Mas como nunca fugi da verdade, digo: não vou tomar a vacina. Se alguém acha que minha vida está em risco, o problema é meu e ponto final”. O presidente também afirmou que a vacinação não será obrigatória, defendeu um “termo de responsabilidade” a ser assinado por quem for se vacinar e afirmou que pediu ao ministro da Saúde, Pazzuello, que comece “a mostrar o que seria a bula desse medicamento”. E Pazuello só chegou a ministro por não desobedecer ou questionar o presidente…

O presidente assume publicamente que irá atuar para desestimular a vacina, apresentando-a como perigosa. Como destaca o jornalista Bruno Boghossian, da Folha de S. Paulo, os seguidos discursos do presidente encontram eco: “Desde agosto, o percentual de brasileiros que não querem se vacinar subiu de 9% para 22%. São 46 milhões de pessoas que podem sofrer com a doença ou espalhar o vírus.”

É preciso transformar a angústia em revolta: Fora Bolsonaro genocida!

O presidente Jair Bolsonaro foi denunciado no Tribunal de Haia, por conta de seus crimes ao longo da pandemia. Não há dúvidas de sua responsabilidade e a de seu ministro com as milhares de mortes. Há sim motivos para angústia. Bolsonaro segue promovendo aglomerações, permitiu que milhões de testes vencessem e agora combate e sabota a vacinação, utilizando a sua máquina de mentiras para incutir medo em milhares de brasileiros e brasileiras. Sabemos que a imunização em massa é uma forma de impedir o contágio. Sabotar a vacina tem um objetivo: alongar uma situação na qual o governo e o Congresso podem seguir “passando a boiada”, com as privatizações, a reforma administrativa, o excludente de licitude e demais políticas anti-povo. Mais do que nunca, é hora de gritar Fora Bolsonaro, para defender a vida, defender o SUS e exigir a vacinação em massa.

Isac Nóbrega/PR

Pazuello e Bolsonaro, no lançamento do plano de imunização, com o “Zé Gotinha”

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