Ao programa De Lucca Entrevista, o jornalista norte-americano, fundador do site The Intercept Brasil, disse ainda que o ex-presidente Lula não teve um julgamento justo e que não pode ser considerado culpado; para ele, Sergio Moro deixar o cargo de ministro é apenas uma questão de tempo; assista
Os riscos que a presidência de Jair Bolsonaro causam ao Brasil são mais graves do que a maioria dos brasileiros gostaria de admitir. Para o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil e responsável por publicar as matérias baseadas em diálogos entre autoridades do Judiciário no escândalo apelidado de Vaza Jato, a democracia brasileira está em evidente risco, mas a luta por ela está longe de acabar.
democracia brasileira está obviamente em perigo. Jair Bolsonaro é um político que passou 30 anos criticando a democracia e elogiando a ditadura e continua fazendo isso. Quando você mora num país liderado por alguém assim, que ameaça jornalistas de prisão, que elogia tortura, ataca povos indígenas, autoriza a polícia a matar indiscriminadamente dentro das favelas, você tem a democracia em risco”, disse o jornalista ao programa De Lucca Entrevista na TV 247.
Apesar dos claros ataques ao Estado Democrático, Glenn diz que a luta para a sua manutenção não acabou, e que há muitos brasileiros lutando contra os desmandos de Bolsonaro. Como uma das vítimas dos ataques e ameaças do presidente, o jornalista norte-americano disse que poderia continuar publicando as matérias de fora do país, mas que sair do Brasil transmitiria uma mensagem ruim ao exterior.
“Se eu saísse do país para continuar publicando as reportagens nos Estados Unidos, na Europa, eu perderia. Eu continuaria reportando o material sem ameaças, mas o sinal que eu estaria mandando é que os jornalistas não são mais livres no Brasil. Estaria cumprindo o sonho de Bolsonaro de que você não pode fazer jornalismo livre no Brasil, o que é garantido pela Constituição”, explica.
“Eu preferi arriscar minha liberdade para fortalecer e defender o princípio de que, como jornalista, eu não tenho que sair desse país para fazer jornalismo. Mesmo que Moro, Bolsonaro e Dallagnol me odeiem, este princípio, essa forma de resistência é crucial para inspirar outras pessoas a resistir”, reforçou.
Vencedor do prêmio Pulitzer, o principal do jornalismo mundial, ele diz ainda que a democracia brasileira está em risco, mas nós temos o poder para resgatá-la, protegê-la e preservá-la com coragem, solidariedade, trabalhando juntos e inspirando outras pessoas de que “você não precisa ter medo destas pessoas, que você pode enfrentá-las”.
Lula e Sérgio Moro
Glenn Greenwald falou ainda sobre o cerne dos vazamentos de conversas entre o ministro da Justiça, o então juiz Sérgio Moro, e procuradores da Lava Jato, como Deltan Dallagnol. Para o jornalista, os efeitos da publicação dos diálogos foram maiores do que o esperado e que a queda de Moro por conta das repercussões é uma questão de tempo.
“Precisamos lembrar que Moro, para este país, era um herói nacional, e não só para a direita mas para quase todas as facções políticas, para a grande maioria da população. Ele era um “Papa da ética”, quase invulnerável, e é crucial para a legitimidade do governo Bolsonaro, é uma figura importante para este governo por conta disso, e apesar de não ter perdido o cargo, está muito enfraquecido”, analisou.
“O próprio Bolsonaro zomba e humilha Moro publicamente o tempo todo, e todo mundo sabe que ele está fragilizado. Para mim é só uma questão de tempo para que ele saia do cargo, parece ser inevitável”, completou.
Em relação ao processo envolvendo o ex-presidente Lula, preso após desdobramentos da operação Lava Jato, comandada por Moro e Dallagnol, Greenwald acredita que foi “injusto em todos os aspectos”, e que como jornalista e advogado, não considera que alguém que não teve um julgamento justo possa ser considerado culpado.
“Não estou dizendo que ele seja inocente, que esteja livre de corrupção, estou falando simplesmente que o que o Estado tem de fazer – prender alguém justamente – não foi feito por conta do comportamento de Moro, Deltan e força tarefa da Lava Jato”, disse.
William De Lucca, 247
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