Já há provas e evidências suficientes de que o ex-presidente esteve por trás de uma tentativa de supressão do estado democrático
Não é hora de se delongar em discussões bizantinas sobre provas que estão diante de todos
Chegou o momento de levar Jair Bolsonaro e outros integrantes de seu entorno a, afinal, prestar contas à Justiça.
Já há provas e evidências suficientes de que o ex-presidente esteve por trás de uma tentativa escalonada de supressão do estado democrático, com emprego de todo tipo de coação, inclusive da violência.
Há imagens e áudios, registros de reuniões de conspiração, documentos, manifestos, interações de mensagens, correntes difamatórias na internet, tudo isso em obediência a ordens enfáticas partindo do presidente da República.
Embora estejam por ser concluídas, investigações da Polícia Federal, conduzidas ao longo de vários meses, estão, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, chefe do inquérito, sendo reveladas e desvelando fatos gravíssimos.
Elas põem a nu o envolvimento de oficiais de alta patente e de civis numa conspiração golpista para subverter as eleições de 2022.
O conjunto probatório escancara diante de todos articulações à socapa, impostas por parte do então presidente, no exercício de sua autoridade, no sentido de lançar o descrédito sobre o processo eleitoral realizado em 2022 de forma que ele não fosse realizado.
Um documento de posse de Bolsonaro estabeleceria um estado de sítio antes das eleições, com a prisão de Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e certamente outros. Era um infame retorno à ditadura militar que se urdia.
Uma caça às bruxas certamente se daria em todos os setores, inclusive contra os próprios militares legalistas.
De fato, membros do Alto Comando das Forças Armadas foram assediados com tal documento. Dentre os mais envolvidos com o golpe, segundo a Polícia Federal, estavam o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, e o chefe da estratégica área de Operações Terrestres do Exército, general Estevan Theophilo.
Dentre as evidências que equivalem a confissões está o vídeo da escatológica reunião de 5 de julho de 2022, três meses antes da eleição. Descontrolado, o presidente usou a cadeira presidencial para, em meio a palavrões e insultos, chamar ao golpe contra a derrota iminente nas urnas. Ele próprio ouviu chamamentos, como o do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, a uma virada de mesa urgente, antes da eleição. Bolsonaro não rejeitou a proposta mesmo porque ela dava sentido prático à sua própria insensatez.
Nada disso era a rigor novo ou não sabido nem terminaria ali. A campanha presidencial pelo golpe usando as urnas eletrônicas sobre as quais as auditorias encomendadas por Bolsonaro nada encontraram prosseguiu e se intensificou após o primeiro e o segundo turnos da eleição.
Os bolsonaristas foram para os acampamentos atendendo ao sentido dessa campanha originária do Planalto. Faziam o que Bolsonaro pedia.
Os bloqueios nas estradas, os ataques a um posto de gasolina, a invasão de uma delegacia no dia da diplomação de Lula e a tentativa de explosão um caminhão-tanque na véspera do Natal, as invasões aos palácios no dia 8 de janeiro de 2023, sob a criminosa omissão ou incentivo das forças militares, todos estão submetidos à mesma cadeia de comando encimada por Jair Bolsonaro.
Preocupa que a organização golpista, mesmo depois da intentona abortada, siga preservada em sua essência e siga inflamando inclusive setores militares.
É certo que devem ser garantidos aos acusados o adequado direito de defesa, num julgamento pelo Supremo Tribunal Federal que deve ser marcado sem delongas nem receios.
Afinal, a investigação não se restringe mais a bagrinhos civis ou militares. Ela agora tem o chefe na mira. A este e a seus asseclas não deve haver maior benefício temporal muito menos processual do que o previsto em lei. Foi assim com os da base, muitos já encarcerados. O mesmo deve valer, com rigor equivalente, para os de cima.
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