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Com e sem a faixa; mais uma do golpe?

“Não sou escravo, de nenhum senhor”, diz o samba-enredo da Paraíso do Tuiuti.

Mas, o historiador Léo Moraes, que encarnou o Vampirão na vice-campeã do Carnaval do Rio, desfilou na madrugada de hoje sem o arremedo de faixa presidencial que ostentava no desfile da madrugada de segunda-feira.

A faixa tem um acabamento com notas que imitam dólares (veja, em fotos abaixo, como era e como saiu o Vampirão)

A Mídia Ninja acompanhou Léo pouco antes dele subir ao carro alegórico.

Ele afirmou que, se autorizado pela escola, usaria a faixa.

Porém, no desfile, apareceu sem o ornamento que poderia mais diretamente identificá-lo com Michel Temer.

Uma pessoa que se apresentou como maquiadora do Vampirão disse à Mídia Ninja que ele chegou a ser proibido de desfilar, mas que duas horas antes do início recebeu a notícia de que poderia subir ao carro alegórico desde que sem a imitação de faixa presidencial.

A narradora da TV Brasil, que tem os direitos de transmissão do Desfile das Campeãs, ficou surpresa ao ver o Vampirão sem a faixa. “Talvez esconderam”, disse.

Diferentemente da Globo, a TV pública mencionou tratar-se de uma sátira a Temer.

Oficialmente, a escola diz que o vampiro representa o sistema que continua oprimindo os negros. O título dele é Vampiro Neoliberalista.

A TV Brasil não mostrou a ala dos Manifestoches e citou o protesto contra a reforma trabalhista sem exibir a carteira de trabalho esgarçada gigante que ilustrava a traseira do Neotumbeiro, o carro alegórico que carregava o Vampirão no topo.

O carro trouxe mãos gigantes nas laterais, que manipulavam figurantes vestidos com a camisa da Seleção Brasileira e batendo panelas.

Nem a TV Brasil, nem a Globo mencionaram dois outros personagens que acompanharam o Vampirão no topo: os Golpresários e os Vampiresários. No caso da Globo, a omissão foi denunciada pela historiadora Conceição Oliveira.

Ao menos dois figurantes da Paraíso do Tuiuti carregavam pequenos cartazes com Fora Temer.

O Globo sugeriu que a cassação da faixa do Vampirão seria resultado de pressões vindas do Planalto:

Segundo informações do barracão da escola, emissários da presidência da república pediram à Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesa) que impedisse o desfile do destaque. Questionado, o professor de História Léo Moraes, de 40 anos, disse que não recebeu essa informação, e que desfilaria com a faixa. Logo depois, no entanto, ele afirmou que perdeu o adereço no fim da apresentação de domingo. A reportagem do GLOBO, no entanto, viu o momento que ele pediu que a faixa fosse guardada dentro de um carro.

Mas o diário conservador carioca anunciou o fato com a manchete: ‘Vampiro-presidente’ da Tuiuti desiste de usar faixa presidencial no desfile das campeãs.

O Globo disse que tentou contato mas não obteve retorno da Presidência.

A Mídia Ninja denunciou censura, com imediata repercussão nas redes sociais (veja o vídeo acima, com entrevista do historiador que encarna o Vampirão e trecho do desfile).

Antes do desfile, sintomaticamente, um representante da escola usou o sistema de som do sambódromo para reforçar que a Paraíso do Tuiuti é um grêmio recreativo “apartidário”. “Apartidário”, frisou.

Léo Moraes, em entrevista à Mídia Ninja, criticou a intervenção militar no Rio de Janeiro e disse que estava com medo.

“A gente fica com medo, inclusive de se manifestar”, afirmou.

Em seu nome, repetiu críticas ao impeachment de Dilma Rousseff.

Léo, que é professor de História do ensino fundamental, está deixando o Brasil para morar na Itália.

Ele disse que ficou assustado com a repercussão do desfile e que sua página no Facebook foi “invadida”, com muitos elogios e algumas críticas.

Jack Vasconcelos, o carnavalesco responsável pelo samba enredo Meu Deus, meu Deus, acabou a escravidão? afirmou que prefere falar sempre através de seu trabalho.

Antes do desfile, houve gritos de Fora Temer no setor 1, tido como o termômetro da Sapucaí. Durante o sábado, Michel Temer esteve no Rio para “comandar” o início da intervenção militar na segurança pública do Estado.

Antes da Tuiuti desfilou o Salgueiro, que também causou controvérsia no Carnaval, por conta de ritmistas que desfilaram com o rosto pintado de preto, o blackface que no passado foi usado nos Estados Unidos, em filmes e apresentações de teatro, para zombar dos negros.

Só que, desta vez, a bateria da escola veio de rosto limpo.

A Paraíso do Tuiuti foi recebida e se despediu do sambódromo sob gritos de “é campeã”. Nas arquibancadas, havia cartazes contra a Globo, o golpe e a intervenção no Rio.

Um figurante carregava uma mensagem SOS EBC na imitação de carteira de trabalho, o que talvez tenha motivado a emissora a evitar a ala em que ele aparecia.

A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), da qual a TV Brasil faz parte, está em processo de desmonte de direitos, denunciam trabalhadores.

Durante a transmissão, a hashtag criada pela TV Brasil disparou.

Embora com muito maior qualidade que a Globo quanto aos comentários, de novo os narradores foram incapazes de sintetizar e contextualizar o enredo quanto a acontecimentos recentes: manifestoches, manipulados pelos senhores do dinheiro, derrubaram Dilma Rousseff e promoveram a reforma trabalhista de Temer. Uma das formas de escravidão moderna, sugere o enredo.

Da Redação, com Mídia Ninja, reprodução de TV