Parlamentares repudiaram as tentativas de deputados bolsonaristas de minimizar golpismo do general, que foi preso no sábado (14)
Parlamentares petistas afirmaram durante pronunciamentos no plenário da Câmara, na noite de segunda-feira (16), que a prisão do general Braga Netto – ex-ministro e candidato a vice-presidente em 2022 – foi uma demonstração de fortalecimento da democracia brasileira. Os petistas repudiaram as tentativas de deputados bolsonaristas de minimizar – e até negar a participação do general na trama golpista – ao lembrar que Braga Netto foi denunciado por um auxiliar próximo a Bolsonaro, com provas de articulação direta do golpe e até financiamento de uma operação militar para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Ao citar o ineditismo da prisão, pela primeira vez na história, de um general de quatro estrelas, o deputado Helder Salomão (PT-ES) destacou que o fato só ocorreu porque a Polícia Federal apurou que Braga Netto, além de articular a tentativa de golpe fracassada que tentou evitar que Lula assumisse a Presidência, também atuou para obstruir as investigações sobre o caso. O petista lembrou que, segundo informações sobre a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro, o dinheiro para financiar o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes foi entregue a militares de operações especiais – os chamados “kids pretos” – em uma caixa de vinhos.
“O crime contra o Estado Democrático de Direito, o crime contra a Constituição, o crime de golpe de Estado e a tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito são crimes gravíssimos. Eles formaram uma verdadeira organização criminosa para derrubar a democracia no nosso País, como já tentaram e conseguiram outras vezes. Mas é importante salientar que a nossa democracia demonstrou que, mesmo com todos os seus problemas e as suas fragilidades, é uma democracia que resistiu a mais uma tentativa de golpe”, afirmou.
Punição para financiadores do golpe
Ao lembrar que, além de Braga Netto existem ainda outros generais, coronéis, tenentes-coronéis e militares de alta patente que participaram do planejamento do golpe fracassado, o deputado Tadeu Veneri (PT-PR) ressaltou ainda que é preciso descobrir quem contribuiu financeiramente com a operação militar planejada para assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. O petista destacou que o ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, revelou em sua delação que Braga Netto obteve os recursos com empresários do agronegócio.
“Eu não estou dizendo sobre o agro como um todo, obviamente, mas nós sabíamos que pessoas ligadas ao agro estavam envolvidas no golpe não só agora em 2022. Elas já estavam envolvidas antes, ou alguém ignora quem financiou os caminhões que trancaram rodovias? Alguém ignora quem levava comida para os motoristas, que ficavam parados durante 1 semana, 10 dias, 15 dias, 20 dias? Alguém ignora quem estava incentivando?
Segundo a delação, foram 3 mil ônibus pagos pelo agro para vir aqui, para ficar em frente aos quartéis, para invadir o plenário desta Casa, do Senado, do STF, do Palácio. Se alguém ignora, é porque está em outro planeta”, observou.
Militar golpista na cadeia
Ao responder deputados bolsonaristas que criticaram a prisão de um general de quatro estrelas, por se tratar de uma ação inédita, o deputado Airton Faleiro (PT-PA) lembrou que a patente de um militar não o isenta de responder por um crime cometido.
“Agora estão surpresos com a prisão preventiva de Braga Netto. Mas como assim, se a apuração feita pela Polícia Federal deu conta de que ele fazia parte do grupo que queria dar um golpe no País, que queria matar o presidente eleito, o vice-presidente eleito, um ministro do STF? Então, neste País cada um pode fazer o que quer, só porque é militar? Não. Militar tem que respeitar as regras do jogo, como qualquer um de nós”, esclareceu.
Já o deputado Luiz Couto (PT-PB) afirmou ainda que a prisão da cúpula dos golpistas, sejam eles militares ou não, é fundamental para que o Brasil caminhe no trilho do respeito à soberania popular.
“A prisão dos golpistas não é apenas uma necessidade, é um direito do povo brasileiro, que merece viver em uma Nação onde a liberdade e a justiça prevaleçam. O futuro da nossa democracia depende de nossa determinação e coragem para enfrentar aqueles que a ameaçam. Chega de tanta mentira por parte de alguns que se dizem conservadores. A cúpula bolsonarista e seu Líder (Jair Bolsonaro) devem ser responsabilizados e afastados de suas posições de poder, pois o Brasil anseia por um novo caminho, um caminho de esperança, de inclusão e de respeito à vontade soberana do povo”, disse.
Por sua vez, a deputada Erika Kokay (PT-DF) ressaltou que a democracia só será fortalecida após a prisão de todos os golpistas.
“Eles (bolsonaristas) dizem: ‘Ah, foi apenas uma tentativa’. As tentativas de golpe são puníveis neste País. Sabe por quê? Porque se um golpe se consolida o Estado Democrático de Direito está rompido. E nós temos a prisão de Braga Netto, que não é qualquer pessoa, foi o candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro. É o primeiro de tantas prisões dos que tentaram romper a democracia. E esse País só vai viver a democracia plena quando Bolsonaro for para a cadeia responder pelos seus crimes, inclusive o de articular o rompimento do Estado Democrático de Direito”, afirmou.
Para que nunca mais aconteça
A Segunda Secretária da Mesa Diretora da Câmara, deputada Maria do Rosário (PT-RS), disse durante seu pronunciamento que a prisão de Braga Netto também é necessária para que sirva de exemplo da vitória da democracia contra a tentativa de arbítrio.
“É preciso dizer que estes que assim o fazem (que tentam dar golpe de Estado) não merecem e não devem ter, da nossa parte, um olhar de compaixão, muito menos o uso da palavra anistia. É hora de um general de quatro estrelas preso ser o exemplo para uma Nação de que esse é apenas o começo de uma luta contra o ódio, o fascismo, a tortura de ontem e ameaça de hoje. Não passarão”, ressaltou.
Privilégios para Braga Netto
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) denunciou ainda que o general Braga Netto tem obtido privilégios na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, onde se encontra preso. A maior preocupação do petista, é com a influência que um general de quatro estrelas pode ter sobre subordinados hierárquicos.
“A decisão do ministro Alexandre de Moraes [do STF] estabelece uma série de condições, como não ter encontro com outros advogados e falar apenas com seus advogados. Aquele lugar onde ele está preso não pode virar um centro de conspirações”, diz o parlamentar.
Braga Netto exerceu diversos cargos de comando no Rio de Janeiro, como a chefia do Comando Militar do Leste. Também foi interventor federal na segurança pública no estado e participou da organização da Olimpíada de 2016 na cidade.
Para Lindbergh, Moraes poderia analisar esses fatos e decidir eventualmente por outro local para manter o general preso, longe de pessoas hierarquicamente inferiores a ele.
Com informações do PT Org
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