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Governadores eleitos na região nordeste entregaram nessa, quarta-feira (14), uma carta à equipe de Jair Bolsonaro (PSL) na qual reconhecem a necessidade de ajustes fiscais que inevitavelmente serão ataques aos trabalhadores e se comprometem a negociar até mesmo a Reforma da Previdência, pelas costas da população trabalhadora que os elegeu.

Bolsonaro (PSL) e Wellington Dias (PT), governador do Piauí (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A carta endereçada foi levada pelo governador do PT no Piauí, Wellington Dias, a um encontro de governadores eleitos em Brasília com Bolsonaro, em nome de todos os governadores do Nordeste, que não puderam comparecer ao evento, tais como Fátima Bezerra (PT), Flávio Dino (PCdoB), Camilo Santana (PT), e outros governadores golpistas do PSB, PSD.

O conteúdo dessa carta, disposto em reportagens do G1 e do Poder360, a começar pela cordialidade com que tratam o presidente ultradireitista, mostra que querem estabelecer um diálogo com Bolsonaro se apoiando nos ritos da institucionalidade e nas regras do regime brasileiro. Contribuem com a simulação do evento de que Bolsonaro teria sido eleito em um processo normal, democrático.

Foram eleições que só ocorreram sob condição da constante manipulação judicial (tutelado pela alta cúpula dos militares), desde a prisão de Lula, passando pelo veto autoritário a sua candidatura, vazamentos seletivos de delações e áudios, perseguição judicial às universidades, ou mesmo que 1.5 milhões de nordestinos tiveram seu direito ao voto sequestrado pela biometria. Não à toa, Sérgio Moro foi recompensado pelos serviços prestados ao golpismo, assegurando um superministério no governo Bolsonaro.

A primeira proposta apresentada na carta é de realizar um “trabalho conjunto com o governo Bolsonaro no combate a violência”. Se depender dos métodos do novo governo, governadores do PT e do PCdoB estão dispostos a avançar, em parceria com Bolsonaro, na militarização repressiva, espionagem e perseguição, com efeitos reacionários em especial a juventude negra.

A segunda proposta parte de reconhecer abertamente a lenda do ‘deficit’ da previdência, que sequer corresponde com o relatório do Congresso, que nega que haja e ainda afirma que os principais devedores da previdência são os próprios empresários e patrões (que devem R$ 450 bilhões). Concluem concordando com a necessidade de uma Reforma da Previdência, uma das principais campanhas das patronais e do capital financeiro estrangeiro, inventando uma fórmula que “não penalize os mais pobres e as mulheres”.

Esta é a essência da política petista: a conciliação com os principais interesses dos capitalistas, nacionais e estrangeiros, sem deixar de envernizar os ataques antipopulares com ideias “que não prejudiquem” os trabalhadores e a população pobre. A defesa da governabilidade burguesa e dos lucros dos grandes banqueiros e empresários é parte do DNA petista.

Assumindo a necessidade de melhorar a “sustentabilidade dos regimes próprios de previdência social dos estados da região”, reciclam o velho discurso petista, preocupado em administrar o capitalismo neoliberal em decadência nos seus estados, alinhado com a responsabilidade fiscal que serve para financiar os lucros de grandes bancos imperialistas.

Fazem uma defesa “mascarada” da necessidade de uma Reforma da Previdência, que sim ou sim será um aumento da exploração do trabalho com extensão dos anos de serviço e idade mínima, reduzindo o direito a aposentadoria a um valor ainda mais miserável do que já é hoje. Sua pretensa preocupação com os mais pobres e mulheres não poderia ser mais demagógica já que não há nenhuma Reforma da Previdência que não vai atacar a maioria da população, os trabalhadores, pobres, com rosto de mulher negra.

Junto a isso, vem anunciando propostas de ajustes fiscais, tais como o corte de despesas e/ou o aumento na arrecadação de tributos a fim de “reequilibrar” as finanças públicas. Na verdade, esses ajustes fiscais responsabilizam a classe trabalhadora a pagar pela crise criada pelos capitalistas, com o direito a aposentadoria, a um emprego, saúde e educação.

Ataques que Temer começou a aprofundar para impor uma derrota na classe operária, mas que não teve sucesso, mesmo tendo aprovado ataques importantes como a Reforma Trabalhista, mas que Bolsonaro vem para terminar o serviço sujo com um governo de extrema-direita que coloca a corda no pescoço nos sindicatos, entidades estudantis, além de ameaçar criminalizar o MST e o MTST.

Wellington Dias afirmou no encontro que tem todo interesse inclusive de trabalhar com o governo de Bolsonaro. “Estou bastante animado que vamos poder dialogar. A disposição do Nordeste é do diálogo” (sic). Uma grande expressão de como esse programa que entende a necessidade de ataques aos trabalhadores revela o verdadeiro conteúdo da “resistência democrática”, enquanto uma estratégia imposta pelo PT às organizações de base.

Os governadores do PT e do PCdoB do Nordeste, que se dizem parte da “resistência democrática” a Bolsonaro, junto aos inofensivos 100 parlamentares do PT no Congresso, tiveram expressivas votações nos seus estados, que expressam um importante setor de oposição ao governo Bolsonaro nesses estados, únicos a vencê-lo nas urnas. Wellington Dias ganhou com 55,65% válidos no primeiro turno; Flávio Dino com 60% no primeiro turno; Fátima Bezerra 57,6 no segundo turno e Camilo Santana PT com estrondosos 86% dos votos válidos.

Ao contrário de se colocar, sequer no discurso, contrários à reforma da Previdência, os políticos do PT atuam como desmoralizadores de sua base eleitoral, que em boa medida mostra disposição de resistir às reformas reacionárias de Bolsonaro, com o qual o PT busca acordos econômicos.

A estratégia petista é absolutamente impotente para enfrentar Bolsonaro, e tem o objetivo exclusivo de nos fazer esperar até 2022 para que o PT substitua a atual administração, depois de ter feito o trabalho sujo de aplicar os mais duros ataques aos trabalhadores. Contra essa estratégia fracassada, devemos organizar o combate desde já.

As grandes centrais sindicais dirigidas pelo PT (CUT) e o PCdoB (CTB) fogem como de uma peste da responsabilidade de organizar um plano de lutas sério contra esse ataque, que contenha chamados a assembleias nos sindicatos, que organize os trabalhadores pela base e contenha ações radicalizadas, como paralisações e greves nacionais contra a Reforma da Previdência, criem comitês de autodefesa para responder qualquer tipo de contra-ataque de bandas de ultradireita.

A CUT, a CTB, o PT, o PCdoB, o PSOL, assim como os sindicatos e entidades estudantis, precisam organizar assembleias e comitês de base para preparar uma resistência séria contra as reformas – em primeiro lugar a da previdência – as privatizações e os ataques autoritários do golpismo judicial apoiado pelos militares. É possível colocar milhões de pessoas nas ruas junto a grandes paralisações nacionais.

A organização tem que ser a partir de cada local de trabalho e estudo impulsionando um plano de lutas que possa articular um volume de forças nacionalmente, a começar criando comitês e outros tipos de organização de base em cada local de trabalho e estudo, desde sindicatos a entidades estudantis.

Nesse sentido, que desde o MRT, através do portal Esquerda Diário e do Movimento Nossa Classe, que impulsionamos em diversas categorias de trabalhadores nacionalmente, viemos e continuaremos dando a batalha para que sejam convocados milhares de comitês de base nas categorias, que sejam uma alternativa de organização concreta para os trabalhadores que querem lutar e permitam que através da auto-organização possam decidir diretamente sobre os rumos da luta contra os ataques iminentes do novo governo Bolsonaro, como a reforma da previdência, e contra o autoritarismo judiciário.