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Pesquisa sugere que indivíduos com baixos níveis de vitamina K podem ter pulmões menos saudáveis, o que representa uma maior probabilidade de ter asma

Resultados indicaram a relação entre baixas quantidades de vitamina K e menor capacidade pulmonar -  (crédito: Hans Scott/AFP)

Resultados indicaram a relação entre baixas quantidades de vitamina K e menor capacidade pulmonar – (crédito: Hans Scott/AFP)

Causada pela inflamação e pela contração muscular ao redor das vias aéreas, a asma, quando não tratada corretamente, leva a problemas como distúrbios do sono, cansaço durante o dia e falta de concentração. Há diversos fatores conhecidos para essa doença pulmonar crônica, como genética e sobrepeso. Mas pesquisadores continuam investigando novas questões que influenciam a patologia. Estudos recentes sinalizam associações com deficiência de vitaminas e alergias alimentares, assim como possíveis influências das mudanças climáticas e de pequenas partículas de poluição produzidas dentro de casa.

Uma pesquisa da Sociedade Respiratória Europeia divulgada, em agosto, na revista ERJ Open Research sugere que indivíduos com baixos níveis de vitamina K podem ter pulmões menos saudáveis, o que representa uma maior probabilidade de ter asma. A substância estudada é encontrada em vegetais com folhas verdes, óleos vegetais e grãos de cereais. Também é conhecida por desempenhar um papel na coagulação do sangue e auxiliar o corpo a curar feridas.

O estudo foi realizado por cientistas da Universidade e do Hospital Universitário de Copenhague. Para o trabalho, a equipe avaliou 4.092 participantes, com idades entre 24 e 77 anos, que foram submetidos a testes de função pulmonar, chamados espirometria. Também houve coleta de amostras de sangue e aplicação de questionários sobre saúde e estilo de vida.

Os resultados indicaram a relação entre baixas quantidades de vitamina K e menor capacidade pulmonar. Além disso, esses voluntários eram mais propensos a declarar que sofriam com asma ou algum outro problema nos pulmões. “Até onde sabemos, esse é o primeiro estudo sobre vitamina K e função pulmonar em uma grande população geral. Nossos resultados sugerem que essa vitamina pode desempenhar um papel na manutenção da saúde dos pulmões”, afirma, em nota, Torkil Jespersen, líder do ensaio.

Jespersen alerta que é preciso cautela com as constatações, pois ainda não é possível afirmar que a ingestão de vitamina K melhora os quadros de asma. “Por si só, as nossas descobertas não alteram as recomendações atuais de ingestão, mas sugerem que mais pesquisas sobre se pessoas com doenças pulmonares poderiam se beneficiar da suplementação”, justifica.

Menos esteroides

Outra vitamina também parece ter um papel relevante na vida dos asmáticos: a vitamina D3, naturalmente encontrada em alimentos como salmão, atum, gema de ovo, cogumelos e frutos do mar. Cientistas da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, observaram melhoras nos quadros da doença em crianças e adultos que tomaram suplementos da substância.

O trabalho, apresentado, recentemente, na revista Journal of Allergy and Clinical Immunology, foi conduzido com voluntários que tinham de 4 a 6 anos e de 18 a 65 e saudáveis. Entre aqueles com ingestão maior de vitamina D3, os sintomas da asma eram menos pronunciados, e eles precisavam de menos medicamentos esteroides para inalação — um tratamento comum da doença.

Para compreender melhor o mecanismo, os cientistas investigaram os efeitos da administração de vitamina D3 na resposta imunológica em camundongos. Os animais foram divididos em dois grupos — durante três semanas, um recebeu comida com deficiência de D3 e o outro, dieta suplementada. A vitamina levou a casos menos graves da doença nas cobaias.

Na avaliação de Thiago Prudente Bartholo, membro da Comissão de Asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), ainda não há indícios robustos que façam médicos indicarem a substância para melhorar o controle da asma ou para reduzir crises. “Alguns estudos demonstraram que baixa vitamina D sérica em pacientes com asma pode estar associada à redução da função pulmonar, ao aumento da frequência de exacerbações e à redução da resposta a corticoide inalatório. Entretanto, não há evidência, neste momento, para prescrevermos suplementação.”

Grasielle Santana, pneumologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, enfatiza a importância dos avanços científicos em estudos sobre a asma e lembra da faceta individual da doença. “Por ser uma patologia tão complexa, é importante estudá-la para facilitar a identificação dos pacientes e conhecer melhor os fatores desencadeantes”, diz. “Um aspecto relevante a ser lembrado é que a asma varia de pessoa para pessoa, e um tratamento personalizado com o apoio de profissionais de saúde é fundamental para controlar eficazmente a condição e melhorar a qualidade de vida.”

Alergia alimentar aumenta o risco

Cientistas do Instituto de Pesquisa Infantil Bridie Byrne Murdoch, na Austrália, descobriram que ter alergia alimentar quando bebê está ligado a um maior risco de um quadro de asma e redução da função pulmonar na infância. O trabalho, descrito na revista Lancet Child & Adolescent Health, em julho, foi o primeiro do tipo a estudar a fundo essa relação.

O estudo analisou informações de 5.276 bebês, que foram submetidos a testes cutâneos para alérgenos alimentares comuns, como amendoim e ovo. Aos 6 anos, as crianças passaram por mais exames de alergia e tiveram a função pulmonar avaliada. Nessa idade, 13,7% tinham o diagnóstico de asma, sendo que os alérgicos apresentavam quase quatro vezes mais risco de ter a doença pulmonar que os asmáticos sem problema alimentar.

Segundo Rachel Peters, líder do ensaio, a boa condição dos pulmões está relacionada ao peso e à altura das crianças, sendo que aquelas com alergia alimentar podem ser mais baixas e leves. Para a cientista, isso poderia explicar a ligação entre ser alérgico e ter uma função pulmonar reduzida. Existem ainda respostas imunológicas parecidas no desenvolvimento de alergia e asma, completa ele.

O pneumologista Daniel Boczar, do Hospital Anchieta, lembra que as crises de asma podem ser desencadeadas pela própria alergia alimentar. “Evidências científicas mostram que, para evitar o agravamento do padrão inflamatório de uma doença, é bom ter uma alimentação equilibrada e, de preferência, rica em alimentos frescos e antioxidantes. A asma como manifestação isolada causada por uma alergia alimentar é um evento raro. No entanto, uma reação alérgica a alimentos, muitas vezes, se manifesta como mais grave do que uma crise habitual”, explica.

Conforme Peters, a equipe segue acompanhando as crianças para compreender o impacto da alergia alimentar na saúde respiratória à medida que elas crescem. Para ela, os resultados atuais já ajudam a entender mais sobre a saúde infantil, facilitando a adoção de novas práticas entre pais e especialistas. “Gostaríamos que os pais estivessem cientes dessas descobertas. Também incentivamos os cuidadores de crianças com alergias alimentares a procurarem um alergista caso surja qualquer preocupação”, indica.

Ameaças confinadas

Um conhecido fator contribuinte para o agravamento da asma é a poluição do ar. Agora, cientistas descobriram que o risco não está somente nos ambientes externos, onde circulam inúmeras partículas resultantes da queima de combustíveis e de atividades industriais. Um ensaio da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, revela que cozinhar e acender velas dentro de casa pode piorar a saúde de quem tem asma leve.

Isso porque, segundo os autores, ligar o forno, colocar uma panela no fogão ou acender velas são atividades em que se produz partículas ultrafinas e gases que serão inalados, o que pode deixar os pulmões mais vulneráveis. Para analisar essa questão, os pesquisadores investigaram 36 jovens com asma leve e idade entre 18 e 25 anos. Os voluntários foram expostos a três condições — a emissões provenientes da culinária, à queima de velas e ao ar puro —, ficando cinco horas em cada uma delas.

Biomarcadores de alterações inflamatórias sistêmicas e das vias aéreas foram avaliados antes do experimento, imediatamente após e na manhã seguinte. Durante as exposições, foram medidas partículas e gases, e os participantes relataram sintomas relacionados à irritação e ao bem-estar geral. “Observamos que mesmo indivíduos muito jovens com asma leve podem sentir desconforto e efeitos adversos se a sala não for adequadamente ventilada durante o cozimento ou ao se acender vela”, relata Karin Rosenkilde, coautora do trabalho.

A também pós-doutorando de Aarhus explica que, por conta do tamanho reduzido, as partículas ultrafinas entram na corrente sanguínea e atingem coração, cérebro e outros órgãos. Segundo Rosenkilde, a exposição regular e prolongada a esse material em ambientes internos pode levar a efeitos adversos à saúde, mesmo em concentrações baixas. “Além disso, indivíduos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas que já sofrem de doenças respiratórias, como asma, são mais suscetíveis. Os asmáticos são particularmente vulneráveis devido à inflamação crônica em suas vias respiratórias.”.

O pneumologista Daniel Boczar, do Hospital Anchieta, em Brasília, diz que, no caso das crianças, os pulmões ainda em desenvolvimento são mais sensíveis aos poluentes, as deixando em maior risco. “Essa exposição prolongada pode agravar condições médicas preexistentes, como problemas cardíacos e outras questões pulmonares, além de aumentar o risco de hospitalização e até de morte”, completa. “A parafina utilizada na fabricação de velas é um derivado do petróleo, e sua queima emite gases e produtos cancerígenos e químicos, como tolueno e benzeno, associados ao aumento do risco de crises de asma.”

Com informações do Correio Braziliense

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