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“Em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (16), o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel denunciou a existência de uma estratégia deliberada de Jair Bolsonaro para sabotar governadores e prefeitos no combate à pandemia. Witzel acusou Bolsonaro de impor narrativa para responsabilizar os gestores por “destruição de empregos” em função de medidas de isolamento social e reiterou que o presidente trabalha em favor da imunidade de rebanho. Respaldado por um habeas corpus, o ex-governador deixou o Senado no meio da oitiva.

“Witzel reafirmou que nunca foi recebido por Bolsonaro ou por seus ministros da Saúde para tratar do surto e que o governo negou verbas e a gerência de hospitais federais ao estado. De acordo com o ex-gestor, Bolsonaro atuou para impedir a reabertura de mais de 800 leitos de UTI, e negligenciou repasses para compra de insumos e medicamentos necessários ao enfrentamento do surto, além de atrasar o pagamento do auxílio emergencial.

“Foi uma narrativa pensada, estrategicamente pensada”, declarou o ex-governador. “Os governos estaduais ficariam em situação de fragilidade, porque não teriam condições de comprar os insumos, respiradores e, inclusive, atender os seus pacientes no Sistema Único de Saúde, que, embora seja um excelente sistema para um país como o nosso, tem dificuldade”, reconheceu Witzel.

“O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos [mais de] 400 mil mortes que tem aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado”, acusou Witzel.”

Foto: Agência Senado
Witzel, à CPI: “O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos [mais de] 400 mil mortes que tem aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado”
Em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (16), o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel denunciou a existência de uma estratégia deliberada de Jair Bolsonaro para sabotar governadores e prefeitos no combate à pandemia. Witzel acusou Bolsonaro de impor narrativa para responsabilizar os gestores por “destruição de empregos” em função de medidas de isolamento social e reiterou que o presidente trabalha em favor da imunidade de rebanho. Respaldado por um habeas corpus, o ex-governador deixou o Senado no meio da oitiva.

Witzel reafirmou que nunca foi recebido por Bolsonaro ou por seus ministros da Saúde para tratar do surto e que o governo negou verbas e a gerência de hospitais federais ao estado. De acordo com o ex-gestor, Bolsonaro atuou para impedir a reabertura de mais de 800 leitos de UTI, e negligenciou repasses para compra de insumos e medicamentos necessários ao enfrentamento do surto, além de atrasar o pagamento do auxílio emergencial.

“Foi uma narrativa pensada, estrategicamente pensada”, declarou o ex-governador. “Os governos estaduais ficariam em situação de fragilidade, porque não teriam condições de comprar os insumos, respiradores e, inclusive, atender os seus pacientes no Sistema Único de Saúde, que, embora seja um excelente sistema para um país como o nosso, tem dificuldade”, reconheceu Witzel.

“O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos [mais de] 400 mil mortes que tem aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado”, acusou Witzel.

Ele reforçou que Bolsonaro não dialogou com os estados, não promoveu ações coordenadas para mitigar os efeitos da crise sanitária e desmentiu a narrativa bolsonarista de que o governo foi atrapalhado pelo Supremo Tribunal Federal durante a pandemia.

“É preciso deixar bem claro: o STF não impediu o governo federal de fazer nada, mas deu a governadores e prefeitos as condições necessárias para que supríssemos a omissão do governo federal”, comentou.

Flávio Bolsonaro tumultua sessão
A sessão foi tumultuada pelo filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro, numa clara tentativa de intimidar o depoente, o que levou o relator Renan Calheiros a sugerir uma sessão secreta para que Witzel pudesse falar em segredo de justiça a fim de proteger sua segurança.

“Nessa reunião eu faço questão de apresentar elementos para iniciar uma investigação contra pessoas que estão desvirtuando a atuação funcional e nós vamos descobrir quem está patrocinando investigação contra governador, quem está patrocinando essa questão criminosa e o resultado é um só: 490 mil mortes”, disse Witzel.

Witzel também prometeu revelar à CPI, em uma sessão secreta, o que classificou como “fato gravíssimo” sobre uma tentativa de interferência de Bolsonaro na gestão do então governador.

Imunidade de rebanho
O ex-governador confirmou à comissão que considera que o governo Bolsonaro apostou na chamada imunidade de rebanho natural, por meio da exposição da população ao vírus da Covid-19.

“A ideia do governo federal era a contaminação em rebanho”, observou. “Ocorre que eu ouvi vários especialistas, inclusive o [ex]ministro [da Saúde, José Gomes] Temporão fazia parte da comissão de especialistas do Rio de Janeiro e eles deixavam claro que a contaminação de rebanho e isolamento vertical não seriam suficientes para o Rio de Janeiro”, revelou.

“A gestão que o governo federal deu a esse processo da pandemia teve o objetivo claro de implementar essa imunidade coletiva por transmissão e reflete um total descompromisso com a saúde da população brasileira”, concordou o senador Humberto Costa (PT-PE).

“No que diz respeito à condução do enfrentamento à pandemia da Covid-19 o Rio de Janeiro, podemos chegar a uma conclusão muito clara: quem é responsável, em grande parte por esse processo trágico que se vive, é o governo federal”, concluiu o senador Humberto Costa (PT-PE), durante a oitiva.

“São aqueles que durante todo o processo sabotaram as medidas de isolamento social, que apregoaram contra as vacinas, que apregoaram contra os testes e que, em um momento em que poderiam abrir toda a estrutura do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, nos hospitais, também do Ministério da Educação, não o fizeram”, acusou Costa. “Foram omissos, e esse capítulo, nós precisamos investigar”.

Moro, garoto de recados e Caso Marielle
Witzel também criticou o que chamou de politização do Ministério Público e da Polícia Federal e chegou a relatar um episódio em que o ex-ministro Sergio Moro atuou como garoto de recados de Bolsonaro. Na reunião, Moro teria pedido ao então governador, a mando de Bolsonaro, para “parar de falar que quer ser presidente”.

“E aí o ministro Moro falou que ia pedir de volta os delegados, porque estava sendo uma determinação do governo federal. Isso é ou não é uma clara intervenção num estado da Federação, em que o ato está materializado, de intervenção indevida num estado da Federação”, declarou Witzel, em referência a cinco delegados federais que estavam lotados no Rio de Janeiro.

Ele também garantiu que passou a ser alvo de perseguição após a prisão dos assassinos da vereadora Marielle Franco. “Tudo isso começou, porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição contra mim foram inexoráveis”, disse Witzel, que sofreu impeachment em abril.

Ele acusou ainda as milícias de comandarem uma máfia da saúde em hospitais federais no estado.

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