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Pesquisa Datafolha divulgada deste domingo confirma um sentimento cada vez mais forte na população: os brasileiros querem deixar o Brasil que sobrou do golpe parlamentar de 2016.

Já fomos 70 milhões em ação, lembram-se? Agora, se pudessem, 70 milhões de brasileiros com mais de 16 anos iriam viver em outro país, o que significaria a maior diáspora de uma geração e comprometeria definitivamente o nosso futuro.

Os números são mais dramáticos entre os jovens: seis em cada dez brasileiros entre 16 e 24 anos sonham em ir embora, o equivalente a toda a população de Minas Gerais, como mostra a reportagem de Ana Estela de Sousa Pinto, na Folha.

O Brasil deixou de ser o país do futuro. É um país sem futuro para os jovens, que já tem cerca de 30 milhões de trabalhadores sem emprego ou subempregados.

Apenas quatro anos atrás, nas ultimas eleições gerais, se esta mesma pesquisa tivesse sido aplicada, os resultados certamente seriam bem diferentes, absolutamente opostos.

Em 2014, o Brasil vivia uma situação de pleno emprego, com renda crescente em todas as faixas sociais, todos os indicadores econômicos positivos, a autoestima em alta num país respeitado em todo o mundo.

É só virar o mapa sócio-econômico do país de cabeça para baixo para encontrarmos a situação atual, em que o país voltou a torrar suas reservas para evitar a disparada do dólar e virou motivo de chacota por onde a gente passa no exterior.

Derrubaram uma presidente eleita em nome do combate à corrupção e colocaram uma quadrilha no poder, com o único objetivo de atender ao mercado, aos interesses estrangeiros e destruir as conquistas sociais dos trabalhadores nas últimas décadas.

Voltamos vinte anos em dois, como dizia a propaganda do governo, sem vírgula.

Brasileiros hoje, dia da estréia da seleção na Copa da Rússia, têm vergonha de usar a camisa amarela e de agitar bandeirinhas.

Muitos já foram embora daqui, de vergonha ou por falta de trabalho e de esperança.

Dobrou nos últimos anos o pedido de vistos para os Estados Unidos e só no consulado de Portugal em São Paulo houve 50 mil concessões desde 2016, o ano do golpe.

Este êxodo só tende a crescer porque nem as eleições marcadas para daqui a menos de quatro meses trazem qualquer esperança de que este cenário possa mudar, qualquer que seja o eleito.

Em entrevista ao Estadão deste domingo, um dos candidatos governistas, o tucano Geraldo Alckmin, deu uma patética declaração sobre a “ilegitimidade” do governo Michel Temer por não ter sido eleito.

Só descobriu isso agora? Onde ele estava quando o seu partido, o PSDB, comemorou com Temer o impeachment de Dilma Rousseff para voltar ao poder sem ter sido eleito, nomeando vários ministros?

Agora ninguém quer carregar o caixão que eles próprios construíram para subir a rampa do Palácio do Planalto sem votos.

São os votos que agora faltam a Alckmin para desempacar nas pesquisas, em que não ganha de Jair Bolsonaro nem em São Paulo, que seu partido governa há mais de vinte anos.

A pesquisa Datafolha sobre o desencanto dos brasileiros com o Brasil é o réquiem de uma operação arrasa-quarteirão para destruir o país e que agora pode cair nas mãos de um alucinado ex-capitão do Exército.

Enquanto isso, o moribundo governo Temer vai se arrastando nos porões dos palácios, execrado pela população, nos seis meses e meio que ainda lhe restam.

Se eu fosse um pouco mais jovem e não tivesse cinco netos aqui, tomaria o mesmo rumo de 43% da população brasileira que quer sair do Brasil antes que seja tarde.

Lamento muito, mas este é o resumo da ópera num dia que deveria ser de festa, todos juntos na mesma emoção, mas vive um clima de velório.

Ganhando ou perdendo na Rússia, tanto faz, o Brasil nunca mais será o mesmo nem que Neymar faça chover.

Nada será capaz de melhorar nossas vidas tão cedo. Leiloaram, sem dó nem piedade, o nosso futuro. E semana que vem tem mais. Não vão deixar pedra sobre pedra, nenhum barril de petróleo para contar a história do pré-sal.

Vida que segue.

Por Ricardo Kotscho, em seu blog