“Como não suspeitar que o propósito principal dos setores do sindicalismo dos servidores seja desgastar o governo?”, questiona Bepe Damasco
22 de abril de 2020: em reunião ministerial que se torna pública, são expostas as vísceras golpistas e antidemocráticas do governo Bolsonaro. Em um nível rasteiro, tramam contra direitos da sociedade e atacam regras de convivência democrática.
Lá pelas tantas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se vangloria: “Colocamos uma granada no bolso do inimigo: os servidores públicos ficarão dois anos sem aumento”.
Não que cause surpresa que o governo neofascista de então tratasse funcionários como inimigos, mas não deixou de ser chocante ouvir um ministro assumir sua ojeriza pelos servidores do Estado brasileiro.
Embora estivéssemos no início da pandemia de Covid-19, o que impedia mobilizações e greves, a reação dos servidores à tamanha ofensa praticamente não existiu. Não lembro nem de uma nota de repúdio à fala do ministro lambe-botas de Bolsonaro.
Quatro anos depois, várias categorias do funcionalismo federal estão em greve, tais como técnicos administrativos e professores de universidades federais e dos institutos de educação, servidores do Ibama, entre outras carreiras.
Quem sou eu para não considerar justas as pautas de reivindicações dessas categorias de trabalhadores, mas o que chama atenção é a comparação entre a combatividade atual dos sindicatos e seus seis anos de hibernação (dois do golpista Temer e quatro de bozofascismo), nos quais o movimento sindical dos servidores mergulhou em um estado de letargia absoluta: não organizou nenhuma greve e também foi incapaz de promover protestos e mobilizações marcantes por reajuste salarial e outros direitos e benefícios.
E motivos os servidores tinham de sobra: além do congelamento total dos salários por todo esse período, esses governos mal disfarçavam que seu objetivo estratégico era a destruição do serviço público.
Não dá para esquecer que já com o cerco golpista sendo montado contra a presidenta Dilma Rousseff servidores administrativos e professores universitários ficaram de braços cruzados por três meses, contribuindo para enfraquecer ainda mais um governo bombardeado dia e noite por inimigos da democracia.
Se há no momento mesa de negociação nacional permanente em curso reunindo governo e entidades de servidores; se várias mesas setoriais estão igualmente em funcionamento; se o governo propõe ampliar o número de mesas setoriais para discutir não só recomposição salarial, mas também reestruturação de carreiras; se houve um reajuste linear de 9% no ano passado, depois de tanto tempo sem um níquel sequer de aumento e se a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, acena com mais 10% até 2026, então, há espaço para se avançar com o processo de negociação.
Contudo, o caminho adotado foi o da greve. Como não suspeitar que o propósito principal dos setores pretensamente esquerdistas do sindicalismo dos servidores seja desgastar o governo? Como não enxergar viés político nessa greve?
Observando a pauta dos servidores, dividida em blocos por carreiras, vejo que no bloco 1 a proposta é de reajuste de 34%, em três parcelas iguais, de 10,34%, em 2024, 2025 e 2026. Já no bloco 2, do qual os professores das universidades fazem parte, o pleito é 22,71% de reajuste, em três parcelas iguais de 7,06%, em 2024, 2025 e 2026.
Não tenho dúvidas de que as perdas salariais dos servidores estejam nesses patamares. Mas, para a conquista de reposição salariais nesses percentuais, em vez de greve, não seria mais indicado o caminho da reestruturação das carreiras?
Um governo com compromissos democráticos e populares, como o de Lula, não merece um voto de confiança?
O fantasma de uma eventual volta das trevas no Brasil (toc, toc, toc) não assusta os aguerridos dirigentes sindicais?
Com informações do Brasil 247
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