Há exatos dois anos, a Câmara dos Deputados realizava, numa noite de domingo, uma sessão extraordinária que provocaria perplexidade no mundo civilizado. Parlamentares obscuros faziam discursos inflamados para afastar, por “pedaladas fiscais”, uma presidente reconhecidamente honesta. Muitos deles, pouco tempo depois, acabariam denunciados por corrupção. Foi uma sessão tão grotesca, que acabou definida pelo escritor português Miguel Sousa Tavares como a “assembleia de ladrões presidida por um ladrão”, que afastou a presidente honesta Dilma Rousseff.
O deputado que conduziu a sessão, Eduardo Cunha, foi condenado a mais de 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. O governo que veio na sequência hoje é conduzido por Michel Temer, já denunciado como corrupto e chefe de quadrilha. O líder do golpe, senador Aécio Neves (PSDB-MG), deve se tornar réu por ter pedido propinas de R$ 2 milhões à JBS. Enquanto isso, a presidente deposta Dilma Rousseff, mesmo derrubada pelo parlamento mais corrupto da história do País, se mantém digna e de pé.
Naquele domingo, por 367 votos favoráveis e 137 contrários, a Câmara dos Deputados aprovou a autorização para ter prosseguimento no Senado o impeachment de Dilma, que foi afastada porque se recusou a ceder às chantagens de Cunha.
Hoje, o Brasil vive sob o governo mais corrupto de sua história, em que vários ministros não abandonam seus cargos porque não podem abrir mão do foro privilegiado. Além disso, a economia nacional afundou quase 10% e o desemprego, que havia atingido, com Dilma, a menor taxa de sua história, com 4,3%, foi a 13%.