Doentes lotam unidades do DF em busca de tratamento, mas atendimento pode atrasar horas. Idosos são os mais afetados
Quem busca centros de saúde públicos no Distrito Federal para confirmar se está com dengue e iniciar o tratamento é submetido a longos períodos de espera — às vezes horas —, enquanto suporta fortes dores e mal-estar. O Correio esteve, nesta sexta-feira (16/2), em algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e verificou que pacientes e seus acompanhantes vivem situações de extremo desconforto e aflição. Em várias ocasiões, acabam resultando em reações de frustração e revolta. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Vicente Pires, por exemplo, está sem previsão sobre quando poderá receber quem a procura. Além disso, sua ala de internação encontra-se lotada. Com o surto da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti até quem precisa de assistência para outros problemas de saúde tem de enfrentar a evidente sobrecarga dessas estruturas e, segundo alguns reclamam, o descaso de seus profissionais.
O aposentado Francisco Vieira, 68 anos, que precisava tomar soro e medicação para as dores atribuídas à doença do inseto, não recebeu as substâncias e nem data de quando poderia retornar para obtê-las. “Fiquei quase 10 horas, na UPA do Setor O (Ceilândia), sem resposta, e me recomendaram vir para cá (Vicente Pires). Pelo andar da carruagem, aqui será da mesma forma”, lamentou.
Ele comentou que, enquanto esperava por alguma ajuda nessa segunda UPA, presenciou uma mulher bater na mesa da recepção fazendo muito baralho e exigindo atendimento. Segundo Vieira, ela teria se irritado por, supostamente, estar naquele estabelecimento, com muitas dores, e sem que algum dos servidores oferecesse socorro.
Dificuldades
A reportagem do Correio verificou que, nessa na unidade, o auxílio dado às pessoas que conseguiram ser recebidas era feito em salas com ocupação superior ao limite para o que foram projetadas. “Falta espaço. Disseram que a ala de internação suporta apenas 14 lugares, mas há 35 pessoas internadas”, contou a empresária Talia Rodrigues, 22. Ela acompanhava a avó, bastante debilitada e que aguardava por atendimento. A idosa, de 87 anos, havia sofrido duas quedas por conta da fraqueza provocada pela dengue. Também não conseguia se alimentar e nem se locomover. “Ela está muito mal e, mesmo assim, ainda vai esperar duas horas para tomar soro”, contou a neta.
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) nº 5, em Taguatinga, a situação estava um pouco mais amena, com menos pacientes esperando atendimento. No entanto, a angústia dos familiares que os haviam levado era semelhante à dos parentes de doentes em outros lugares. A manicure Sueli Figueiredo, 47, por exemplo, disse que conseguiu atendimento para a mãe, de 83, somente na quarta vez que a levou ao mesmo posto. “Ela precisou chegar sem conseguir andar para ser atendida. Nas outras vezes, não deram suporte algum”, protestou.
A cabeleireira Cícera Maria, 60, também levou um familiar à UBS 5. Queria evitar que sua filha, de 35, tivesse um atendimento contra a dengue como a que recebeu em outro posto. “Eu também fui infectada na última semana e fiquei três dias internada na UPA de Vicente Pires, pois a doença atacou meu fígado. Não gostei. Durante todo o tempo, recebi soro e medicação sentada em uma cadeira, como as da recepção”, disse.
Morte
Na última segunda-feira (12), Cíntia Maria Dourados Mendes, 42, morreu após contrair dengue. De acordo com sua família, ela foi à UPA de Brazlândia e recebeu a orientação de retornar para casa com a explicação de que os sintomas eram normais. Segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), responsável pela administração da UPA, a mulher teve piora, retornou à unidade de saúde onde, após desmaios, faleceu.
Familiares denunciaram à Polícia Civil que Cíntia sofreu uma queda da cadeira de rodas conduzida por um enfermeiro, e que isso teria provocado nela uma crise convulsiva dentro da unidade. O corpo dela foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para investigação da causa da morte. O caso é tratado pelos investigadores como homicídio culposo — quando não há a intenção de matar. Eles não descartam também que o falecimento tenha ocorrido devido à doença.
Ao Correio, o IgesDF afirmou que lamenta o falecimento da paciente e expressa solidariedade à família e que acompanhará a investigação.
Com informações do Correio Braziliense
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