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Ao CB.Poder, o secretário-executivo do Ministério da Justiça garantiu que a situação na capital federal está estabilizada e que foi cumprido o objetivo central de esvaziar a “incubadora de planos golpistas” instalada em frente ao QG do Exército

 (crédito:  Felipe Oliveira / SSP-DF)

(crédito: Felipe Oliveira / SSP-DF)

Ao ser nomeado interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal, em meio à mais alta tensão na Esplanada, com o país sob ameaça à democracia, Ricardo Capelli foi para o front. Homem de confiança do ministro da Justiça, Flávio Dino, Capelli esteve pessoalmente na coordenação para debelar os atos terroristas na Esplanada, tendo de comandar a PM.

Em entrevista exclusiva ao CB.Poder Especial — parceria entre Correio e TV Brasília, relata os momentos críticos, mas garante que agora a situação está estabilizada. “Tenho absoluta segurança de que vamos desmontar essa organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado.”

Aponta ainda para fatos que evidenciam a sabotagem no plano operacional para aquele domingo, 8 de janeiro. Um deles, o do ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, ser o secretário de Segurança, em viagem ao exterior, no dia.

Quando foi nomeado para ser interventor, qual foi a missão que o ministro Flávio Dino passou ao senhor?

A situação está normalizada aqui no Distrito Federal. As pessoas podem ter confiança de que o comando foi restabelecido. Nós temos plena confiança na Polícia Militar (PMDF), na Polícia Civil (PCDF), no Corpo de Bombeiro (CBMDF), nas forças de segurança do Distrito Federal. Aquele momento foi de muita tensão. A missão que eu recebi do ministro Flávio Dino e do presidente Lula foi direta: restabelecer o comando das forças de segurança e encerrar rapidamente aqueles eventos lamentáveis que ocorreram na tarde/noite do dia 8.

Qual foi a situação que o senhor encontrou naquele momento?

Primeiro eu reuni o comando. Levantamos o número de homens disponíveis em campo naquele momento e quantos poderíamos mobilizar. Determinei que todos os comandantes fossem comigo para a esplanada, para comandarmos a tropa diretamente no campo, e foi isso que fizemos. Encontramos o comando da tropa bastante aflito, eu diria até um pouco atordoado, em função daqueles eventos inimagináveis. Naquele momento, a Polícia Militar fazia uma linha defensiva na altura do Ministério da Justiça e andamos com a linha em direção à Rodoviária. O nosso objetivo era esvaziar a Esplanada e prender o máximo possível de golpistas e pessoas que atentaram contra o Estado Democrático de Direito. Subimos com a tropa até o Setor Militar Urbano. Na porta do local houve uma ponderação do Exército, através do general Dutra, comandante militar do Planalto, que seria mais adequado o desmonte dos acampamentos no dia seguinte, porque, à noite, poderia gerar algum nível de enfrentamento. Queríamos fazer tudo com a mais absoluta paz e tranquilidade, com o mínimo de confrontos.

Já no seu comando foi concluída aquela operação e realmente começaram a ser realizadas prisões e retirada dos terroristas dos prédios públicos?

Isso. Quando eu entrei a linha já estava montada na altura do Ministério da Justiça, e fomos andando. A tropa estava com postura defensiva. Fazer com que conseguíssemos andar para esvaziar ao máximo (o local) e prender também aqueles que atentavam contra o Estado Democrático de Direito foi um desafio.

Então, houve mudança de uma postura mais defensiva para uma mais enérgica?

Estavam numa linha defensiva protegendo o Congresso Nacional, o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, os manifestantes continuavam muito agitados e ainda depredando o local. Então, pedimos que eles avançassem rapidamente — com reforço na retaguarda — para que pudéssemos esvaziar a Esplanada e prender o máximo possível de pessoas que estavam atentando contra o Estado Democrático de Direito.

Nesse momento o comando do Exército manda soldados para essa operação?

Não. Na verdade, a comunicação com o Exército se dá na entrada do Setor Militar Urbano, diretamente com o General Dutra, comandante militar do Planalto. Ele fez uma ponderação de que seria mais adequado entrarmos lá para desmontar o acampamento no dia seguinte, pela manhã, que seria a forma mais eficiente de fazer, sem gerar confronto e maiores sequelas.

Uma análise é de que isso acabou permitindo que muitas dessas pessoas que estavam lá conseguissem fugir e evitassem ser presas. O senhor acha que isso aconteceu?

O nosso objetivo central foi cumprido. O foco era desmontar o acampamento, que funcionou — e as informações são objetivas — como uma incubadora de planos golpistas e atentados contra o Estado Democrático de Direito. Desmontar aquele acampamento era o nosso objetivo central e a missão foi cumprida. O acampamento foi desmontado, foram todos encaminhados para a Polícia Federal, presos e identificados. Inclusive, aquela prisão e a identificação estão servindo de instrumento, auxiliando na instrução dos outros inquéritos. A partir da identificação e da prisão, recolhemos muitas informações que estão auxiliando nos demais inquéritos.

O senhor acha que essa intervenção deve permanecer até 31 de janeiro, como previsto, ou será necessário prorrogá-la ou até mesmo antecipá-la?

Estou cumprindo uma missão que me foi dada pelo presidente da República, a princípio até o dia 31, mas essa avaliação cabe a ele e ao ministro Flávio Dino.

Numa linha do tempo, como pode resumir a situação desde quando assumiu, em 8 de dezembro até agora?

Nós tivemos uma fase crítica, que foi na tarde/noite do dia 8 Diria que ela foi até a quarta-feira (11/1). Após o evento, tivemos o desmonte do acampamento em 9 de janeiro, a montagem de toda operação de identificação e prisão na Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal em 9 e 10 de janeiro, e houve um anúncio de uma nova logo no dia 11, a qual nos obrigou a fazer uma grande e exemplar operação da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros, do Detran e da Polícia Civil. Então, até quarta-feira (11/1), vivemos o momento mais crítico e de maior tensão. A partir de quinta-feira (12/1), viemos trabalhando na estabilização das forças de segurança. A PMDF está muito machucada e nada feliz com o que aconteceu. Temos 44 policiais militares feridos em combate. É uma instituição bicentenária e valorosa. Tenho reafirmado o tempo inteiro plena confiança na PMDF. Nosso trabalho, desde então, foi estabilizar a nossa relação com o comando das forças e isso temos feito com muito êxito. A partir de agora, começamos a aprofundar as investigações para compreender melhor o que aconteceu, por que aconteceu e quem são os responsáveis.

O senhor acha que houve erro do governador Ibaneis Rocha? Qual a palavra que imputaria a essa situação? A nomeação de Anderson Torres é a raiz do problema?

Não me parece coincidência que Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, tenha assumido a Secretaria em 2 de janeiro, trocado o núcleo da Secretaria Segurança Pública (SSP-DF), viajado, e esse evento inaceitável tenha acontecido em 8 de janeiro. O Supremo Tribunal Federal (STF) assim entendeu também, por isso, decretou a prisão do ex-secretário, e as investigações estão em curso e vão comprovar. A minha hipótese é que não se tratou de uma coincidência. É bom registrar que o senhor Anderson Torres só estaria de férias a partir da segunda-feira (9/1). Então, no dia 8, a responsabilidade pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal ainda era, formalmente, do senhor Anderson Torres.

O senhor acha que há clima para que o governador Ibaneis Rocha volte nesse prazo de 90 dias de afastamento?