Winta Zesu, uma influenciadora de 24 anos, destaca-se por um estilo inusitado de produção de conteúdo. Com vídeos que irritam os espectadores, ela conquistou milhões de visualizações e faturou US$ 150 mil (cerca de R$ 900 mil) em 2023. “Cada vídeo meu teve milhões de visualizações devido aos comentários de ódio”, afirmou em reportagem para a BBC.
Seus posts no TikTok retratam a vida de uma modelo em Nova York, abordando temas como “ser bonita demais”. No entanto, Zesu esclarece que está interpretando uma personagem: “Recebo muitos comentários desagradáveis, como ‘você não é a menina mais bonita’ ou ‘baixe a bola, você tem confiança demais’.”
A estratégia de Zesu reflete o fenômeno conhecido como rage-baiting, ou “isca de ódio”. Diferente do clickbait, que atrai cliques com manchetes chamativas, essa prática busca provocar raiva visceral no público, gerando engajamento por meio de curtidas, comentários e compartilhamentos.
Segundo a especialista em marketing Andréa Jones, “a isca de ódio é criada para manipular as pessoas”. Ela explica que conteúdos negativos captam mais atenção devido a um viés psicológico embutido em nossa natureza.
O crescimento dessa prática está diretamente ligado aos programas de remuneração oferecidos por redes sociais como TikTok, YouTube e X (antigo Twitter). Essas plataformas recompensam criadores com base no engajamento que geram, independentemente do tom das interações.
“Quanto mais conteúdo um usuário cria, mais engajamento ele consegue e mais ele recebe”, disse Jones. Porém, isso tem um custo: “Alguns criadores farão de tudo para conseguir mais visualizações, mesmo que seja algo negativo ou que incite raiva.”
Estudos mostram que o rage-baiting também se infiltrou na política, especialmente durante eleições. William Brady, psicólogo social, observou que conteúdos que estimulam o ódio mobilizam grupos políticos e contribuem para a polarização.
“As eleições americanas foram hiperfocadas em ‘Trump é horrível por este motivo’ ou ‘Harris é horrível por aquela razão’”, explicou. Investigações recentes revelaram que criadores de conteúdo no X receberam milhares de dólares por compartilhar desinformação e teorias conspiratórias.
Apesar de algumas plataformas como TikTok e YouTube implementarem políticas contra desinformação, outras, como o X, ainda carecem de diretrizes claras. Adam Mosseri, executivo da Meta, reconheceu o problema e afirmou: “Estamos trabalhando para manter essas práticas sob controle.” Já Elon Musk anunciou mudanças no programa de monetização do X, vinculando os pagamentos ao engajamento dos usuários premium, mas sem abordar o problema de desinformação.
Winta Zesu, por sua vez, condena o uso do rage-baiting em contextos políticos. “Se estiverem usando para informar, tudo bem. Mas, se for para espalhar desinformação, discordo totalmente”, declarou. A influenciadora reconhece o impacto negativo desse tipo de conteúdo e conclui: “Isso deixa de ser brincadeira.”
Com informações do Diário do Centro do Mundo
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