Na avaliação do líder do PT no Senado, o governo está enfrentando na gradação devida os reais entraves na oferta que pressionam os preços dos alimentos para que isso não restrinja as políticas de melhoria de vida dos brasileiros
Os avanços consideráveis na economia e nos indicadores sociais do país nos dois primeiros anos do terceiro governo Lula têm gerado um fenômeno esperado, altamente virtuoso e, ao mesmo tempo, preocupante. Trata-se do incremento da demanda alimentar num contexto de desarranjos na oferta de alguns produtos por razões as mais variadas, algumas delas, com ocorrência de longa data.
Imaginem os impactos mediatos e substanciais na demanda alimentar, somente do fato de em um único ano (2023) 8.7 milhões de pessoas terem saído da condição de pobreza e outras 3.1 milhões rompido a fronteira da extrema pobreza!
Para o IBGE, que revelou essa conquista notável na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2024, a queda na pobreza em 2023 foi resultado, principalmente, do dinamismo no mercado de trabalho e do aumento na cobertura de benefícios sociais.
Então temos os brasileiros melhorando a renda e, portanto, com milhões saindo da fome e da pobreza, e passando a pressionar um mercado de alimentos que, em grande medida, por razões de opção política do passado, apresenta deformações e limitações para a oferta de alguns produtos essenciais. Resulta desse confronto demanda x oferta, um quadro persistente de instabilidade nos preços da comida que não é disseminado, mas que incide em grupos importantes de alimentos.
Por meio do plano safra o governo vem atuando firme para corrigir essas anormalidades face os seus desdobramentos socioeconômicos e políticos sistêmicos.
Um dos desafios da abordagem do problema tem sido o acerto no diagnóstico. O tal mercado; aquele que rejeita o Lula em 90%, em total desalinho com o que pensa a população brasileira conforme a mais recente pesquisa Quaest, garante que o câmbio é a principal causa da inflação dos alimentos.
A centralidade atribuída ao câmbio simplifica um fenômeno complexo, e assim incorrendo em equívocos que comprometem o seu enfrentamento.
O fato é que temos fatores estruturais e circunstanciais que em níveis variados definem a dinâmica dos preços dos alimentos, no caso. Entre estes, os preços internacionais, câmbio, custos de produção, o incremento da demanda pelo aumento da renda das camadas mais pobres da população, sazonalidades, sinistros da produção (climáticos/sanitários) controle oligopólico do comércio internacional, concentrção econômica do varejo no mercado doméstico, qualidade e gestão das políticas públicas, afora práticas especulativas próprias em situações de escassez.
Temos no caso brasileiro, alimentos nucleares da nossa dieta com vínculos marginais ou laterais com o mercado externo, afetados em suas ofertas e preços por fatores estruturais que geraram trajetória de longo prazo de encolhimento das suas áreas plantadas com a ocupação das mesmas por produtos nobres do agronegócio exportador.
Por suposto o câmbio impacta os preços dos alimentos. Todavia, ao se analisar o comportamente das cotações médias do dólar e a do IPCA da alimentação no domicílio, no período de janeiro de 2023, a outubro de 2024, constata-se que que em 14 dos 22 meses da série, IPCA e dólar variaram em sentidos opostos. Em outros casos, de variações positivas do dólar e do IPCA, este apresentou variação discreta para a forte variação do dólar.
Em suma, para que solucionemos o problema da inflação dos alimentos precisamos de diagnósticos corretos. O “mercado” tem um ‘olhar viciado’; não consegue perceber os problemas estruturais do país. O governo está enfrentando na gradação devida os reais entraves na oferta que pressionam os preços dos alimentos para que isso não restrinja as políticas pela melhoria de vida dos brasileiros. Que não seja um recorte da tal capacidade potencial da economia.
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