Ex-presidente participou de evento com movimentos sociais para marcar o Dia Mundial da Alimentação e voltou sua atenção para as pessoas que passam fome no país: “Essa gente que nós temos que representar”
Em evento realizado em São Paulo nesta sexta-feira (15) para marcar o Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro, o ex-presidente Lula (PT) tratou sobre a volta da fome no país e contou histórias dos momentos de pobreza que viveu quando era criança, adolescente e até logo que se mudou para a capital paulista, antes de se tornar dirigente sindical.
Com representantes de movimentos sociais que representam o campo, as florestas e as águas, Lula criticou o “pensamento escravista” da elite brasileira, que segundo ele é o que permite o mundo ainda passar fome, e rebateu indiretamente o jornalista Pedro Bial e o empresário Pedro Passos, da Natura.
Em seu programa na madrugada da última terça-feira (23), Bial afirmou que o petista representa uma candidatura “do passado”. Já Passos, em entrevista ao jornal O Globo no início do mês, disse que Lula é “indesejável” para o mercado.
“Falam que o PT é o passado, que Lula já passou. Que precisa de coisa nova. E eu aqui falando do passado, porra… E continuo falando porque essas pessoas que deram golpe no PT falando que iam mandar a gente numa ‘Ponte para o Futuro’ mandaram a gente direto para o purgatório”, declarou o ex-presidente.
Na sequência, fez referência ao adjetivo de “indesejável” pregado pelo empresário da Natura.
“Por que vocês acham que ainda tem tanta gente que me odeia? Esses dias vi um empresário que tinha faturamento de 1 bilhão quando assumi e, quando deixei o governo, tinha 6 bilhões, falando que Lula é indesejável porque Lula quer um estado forte. Eu poderia estar nesse instante em uma churrascaria com a elite comendo churrasco e falando de pobre, mas não pra resolver o problema dele. Esse Lula indesejável para alguns empresários… Quero continuar sendo indesejável porque não quero governar para eles, quero governar para o povo pobre desse país”, disparou.
“Eu só quero que eles se lembrem que sabemos respeitar, tratar todo mundo com respeito, mas a única coisa que queremos é que nos trate com respeito. Não fiquem inventando história sobre nosso partido. Quando quiserem falar de nós, lembrem como era o Brasil antes e depois de nós”, continuou o ex-presidente.
Ao longo do evento, Lula ouviu depoimentos de pessoas que passaram por situação de vulnerabilidade, recebeu alimentos orgânicos de pequenos produtores rurais que serão doados à Pastoral do Povo da Rua, do padre Julio Lancelotti, e reforçou que o combate à fome será prioridade em seu governo caso seja eleito na próxima eleição.
“Parte da elite brasileira sabe da fome por leitura. Mas quem lê não sente. A fome, tem que estar com ela para sentir. Acordar de noite com o estômago vazio, com o coro de cima grudando no coro de baixo. Aí, sim, você vai começar a se preocupar com a fome. Essa gente que nós temos que representar”, atestou.
“E estamos falando apenas de fome de comida. Mas temos muitas outras fomes. Nós temos fome de desenvolvimento, fome de emprego, fome de saúde, fome de fraternidade, fome de saneamento básico, fome de paz, fome de democracia. E sobretudo a fome de dignidade. É possível mudar isso? É. Quem pode fazer isso? Nós. Com que instrumento? Com partido político, com sindicato forte, e com muita coragem. O Brasil tem jeito. E a nossa prioridade tem que ser a luta contra a fome”, arrematou ainda.
Por Ivan Longo