Quase 12 milhões de moradores de São Paulo enfrentaram uma semana marcada pela má qualidade do ar, devido à combinação de seca, queimadas e poluição urbana. A situação agravou-se a tal ponto que a capital paulista registrou o pior índice de qualidade do ar entre 120 grandes cidades do mundo, superando até locais tradicionalmente mais poluídos, como Índia, Paquistão e Emirados Árabes.
Os dados são de uma empresa suíça especializada em tecnologia da qualidade do ar. Segundo o professor Tércio Ambrizzi, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), a poluição é exacerbada pela falta de ventos no inverno.
“Temos a seca, queimadas e a poluição da cidade, que é extremamente alta. Depende muito da circulação de ventos para dispersar, e, durante o inverno, essa circulação é mais amena”, explica Ambrizzi.
Além da má qualidade do ar, o Rio Pinheiros ficou com a coloração esverdeada, resultado da proliferação de algas por conta da seca. A represa Guarapiranga, que abastece mais de 4 milhões de pessoas, está quase seca, e a represa Billings registrou peixes mortos, levantando preocupações sobre a qualidade da água.
A pesquisadora Mariana Veras, coordenadora do Laboratório de Patologia Ambiental da Faculdade de Medicina da USP, estuda os impactos da poluição há mais de 15 anos. Ela e sua equipe realizaram um experimento para medir a quantidade de partículas presentes no ar de São Paulo.
Utilizando um aparelho que simula o volume de ar inalado por uma pessoa em 24 horas, a pesquisa se concentrou em medir o material particulado fino, conhecido como PM 2,5, um dos principais indicadores da qualidade do ar.
De acordo com Veras, em vários pontos da cidade, como a Marginal Tietê, os níveis de poluição ultrapassaram três vezes o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Estamos com uma concentração média de 45 microgramas/m³ de material particulado 2,5, quando o aceitável pela OMS é 15 microgramas/m³”, afirma.
O impacto dessa poluição elevada na saúde é alarmante. Mariana Veras explica que altos níveis de poluentes aumentam significativamente o risco de crises de asma, bronquite, rinite e problemas cardiovasculares. No momento atual, um indivíduo não fumante na cidade de São Paulo está exposto a uma quantidade de poluição equivalente a fumar quatro cigarros por dia.
Somente neste mês, o estado de São Paulo registrou quase dois mil incêndios, contribuindo para a piora da qualidade do ar. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) monitora a qualidade do ar em tempo real através de 85 estações espalhadas pelo estado.
A Cetesb, no entanto, não considera os dados da empresa suíça que classificou São Paulo como a cidade com o pior ar do mundo, alegando que não pode validar a metodologia utilizada. Ao final do teste conduzido por Veras, foi constatado que as partículas captadas continham metais como ferro, chumbo, cádmio e enxofre, provenientes do desgaste dos veículos e dos combustíveis utilizados na cidade.
Com informações do Diário do Centro do Mundo
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