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Gabriel Valery, da RBA – O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, concedeu entrevista para falar sobre a suspensão da vacinação contra a covid-19 entre adolescentes, anunciada ontem (15). No entanto, ao fim da coletiva, ainda ficaram dúvidas sobre os reais motivos da recomendação dada aos governos estaduais, que contraria resolução da própria pasta. O ministério alegou a suspensão por eventos adversos, que seriam reações à vacina. Entretanto, os dados apresentados vão no sentido oposto e apontam para suposta pressão de negacionistas, incluindo do presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com o próprio ministério, mais de 3,5 milhões de jovens iniciaram a imunização. Foram relatados 1.500 efeitos adversos. Contudo, Queiroga deixou escapar que 93% destes não são relativos à problemas na saúde dos jovens. A pasta alega que estes eventos são de adolescentes que tomaram vacinas que não a Pfizer, única autorizada pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa). Esta informação também não foi esclarecida com mais detalhes.

O ministério já havia programado o início da vacinação para jovens acima de 12 anos a partir de ontem (15). Alguns estados se anteciparam, o que foi criticado por Queiroga. O ministro reclamou que alguns governadores “estão vacinando rápido demais”. Em outro ponto relevante da coletiva, Queiroga disse que Bolsonaro liga para ele com frequência para se queixar da vacinação. “O presidente me cobra sempre essa questão das vacinas de adolescentes. Hoje ele me ligou e disse ‘olha aí’”.

Pressão de negacionistas

Este “olha aí” de Bolsonaro teria relação com a notícia da morte de um adolescente que tomou vacina. Entretanto, o próprio ministério reconhece que não se sabe se essa morte tem relação com a imunização, nem se a pessoa tinha ou não comorbidades. Mesmo assim, a pasta resolveu suspender a vacinação apenas entre jovens sem comorbidades. Além disso, a orientação é para que aqueles que já receberam a primeira dose não retornem para completar o esquema vacinal. Especialistas ouvidos pela reportagem se mostraram surpresos com a postura.

Paralelamente à confusão criada pelo governo federal, está em andamento uma campanha de desinformação sobre o assunto nas redes sociais bolsonaristas contra a vacinação. “Vejo no meu Twitter gente falando que estamos dando vacina experimental”, disse Queiroga. Ao fazer coro com movimentos negacionistas, o Ministério da Saúde confunde e assusta pais e jovens. “Ele não está pensando em saúde, está querendo atender as bases bolsonaristas. Está errado, ele não entende nada de saúde pública, só quer continuar a ser ministro”, disse o médico sanitarista e fundador da Anvisa Gonzalo Vecina, em entrevista mais cedo para a Globo News.

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