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A sociedade brasileira se dá conta, ainda que tarde, de que a luta contra o neofascismo vai muito além da campanha eleitoral.

Mesmo com dificuldades – determinadas pelo peso desigual do impacto do desgoverno Bolsonaro sobre cada segmento social – reconhece, em sua maioria, a necessidade do impeachment do atual ocupante do Palácio do Planalto.

Entre os muitos motivos para destituir já o capitão-presidente, destaca-se a garantia de realização do próprio pleito eleitoral de 2022, um dos elementos estruturantes do regime democrático.

O coração de qualquer disputa política – a conquista do poder real – voltou com força máxima.

Luta de classes

Como em 2018, não estarão em disputa modelos de gerência da crise do capitalismo brasileiro. Como ocorreu nos sucessivos pleitos depois da queda de Collor, quando se revezaram à frente do governo o PSDB e o PT.

Parte das lideranças das esquerdas não percebeu e tratou o processo de 2018 como “mais uma disputa eleitoral”.

Ou seja, entendeu o golpe de 2016 como um acidente de percurso e que tudo voltaria ao normal.

As condições econômicas, sociais e culturais do País se modificaram radicalmente desde a ascensão de Lula, em 2003.

Quem tentar vender sabonete no horário eleitoral da campanha de 2022 estará derrotado de antemão. A sociedade brasileira, ainda que de maneira precária, hoje respira política diariamente.

Bolsos vazios

E mira com indiferença quem lhe pede que ignore a situação dramática em que sobrevive e defende um Fora, Bolsonaro!, desde que sejam mantidos os estratosféricos preços do gás e dos combustíveis.

E, na mesma lógica neoliberal, tirar Bolsonaro para manter a reforma trabalhista, privatizar a Eletrobrás, deixar a cesta básica com preços nas alturas.

Essa mesma gente quer manter o teto de gastos, o Banco Central “independente” sob controle do sistema financeiro. E por aí vai.

Ultraliberalismo contra os interesses populares

Os trabalhadores podem não compreender os complexos meandros da formação de preços do petróleo, mas sabem perfeitamente o que significa pagar 100 reais por um botijão de gás. As políticas impostas pelo neofascismo, à sua própria revelia, produziram essa consciência.

Em janeiro de 2023, quem vier a tomar posse no governo e não se der conta dessa nova realidade, não governará.

O entulho produzido pela demolição dos direitos dos trabalhadores, consolidado pelas reformas neoliberais vai bloquear a passagem. O que vier entenderá o significado dos levantes ocorridos no Chile para pôr abaixo a constituição do ditador sanguinário general Pinochet.

Em sintonia com essa percepção dos interesses que estão em jogo, as organizações populares não reforçaram as manifestações de 12 de setembro promovidas pelo MBL, Vem Pra Rua e outros movimentos de direita.

É compreensível a cobrança dos setores conservadores que neste momento se dispõem a somar na luta pelo impeachment de Bolsonaro. Afinal, está ancorada numa formulação simples.

O que desejam os conservadores? Emplacar na sociedade um “bolsonarismo sem Bolsonaro”.

É compreensível essa posição, mas deve ser combatida dentro do espírito democrático com maturidade e firmeza.

Faltam aos críticos autoridade política e capacidade de mobilização social para exigir dos setores populares que abram mão de suas exigências programáticas.

Por que afastar Bolsonaro, todos já sabemos. Cada segmento deve responder para si e para sua base social o porquê de afastar Bolsonaro.

O foco das forças políticas, particularmente das esquerdas, deve se voltar para os setores conservadores relevantes de caráter democrático que se deslocam para a posição pró-impeachment com o objetivo de ampliar esse deslocamento para sua base social de forma a ampliar o isolamento do governo neofascista, genocida e consolidar as posições já conquistadas em defesa da democracia.

Fora, Bolsonaro! Impeachment Já!

Todos às ruas no dia 2 de outubro!

Impeachment já! Todos às ruas em 2 de outubro!

Por Paulo Pimenta*

*Paulo Pimenta é deputado federal (PT/RS) e presidente do partido no Rio Grande do Sul.

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