O economista Joaquim Levy renunciou à presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) neste domingo (16). A saída de Levy do banco de fomento é mais uma crise do governo Jair Bolsonaro.
“Solicitei ao ministro da Economia, Paulo Guedes, meu desligamento do BNDES. Minha expectativa é que ele aceda”, disse Levy, em mensagem enviada a Guedes.
O economista afirmou que agradece a lealdade, dedicação e determinação de sua diretoria. “Agradeço ao ministro o convite para servir ao País e desejo sucesso nas reformas.”
No sábado (15), o presidente disse estar “por aqui” com o economista. Ele afirmou que Levy estava “com a cabeça a prêmio” havia algum tempo.
O estopim, segundo Bolsonaro, foi a indicação de Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais do banco. Ele integrou o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Levy chegou ao comando do banco a convite de Guedes. Assim como o ministro, ele fez doutorado na Universidade de Chicago —reduto do pensamento econômico liberal.
Ele trabalhou em dois governos petistas. Primeiro foi secretário do Tesouro Nacional de Lula.
Depois, como ministro da Fazenda de Dilma Rousseff (PT), no primeiro ano do segundo mandato, enfrentou obstáculos para ajustar as contas públicas e saiu do governo.
A resistência de Bolsonaro a Levy vem desde o governo de transição. Presidente eleito, em novembro de 2018, ele disse que, ao aceitar a indicação, precisava “acreditar em Guedes”.
Na ocasião, Bolsonaro afirmou que “houve reação” ao nome de Levy por ele ter “servido à Dilma e ao [ex-governador do Rio do Janeiro Sérgio] Cabral”. Ele foi secretário de Finanças.
Antes de assumir o cargo de presidente do BNDES, Levy foi diretor financeiro do Banco Mundial, em Washington. Também trabalhou como técnico do FMI (Fundo Monetário Internacional).
No setor privado, o economista foi diretor do Bradesco.
Barbosa Pinto, neste sábado, enviou uma carta a Levy, à qual a Folhateve acesso, para renunciar ao cargo.
Bolsonaro havia dito pouco antes que o presidente do BNDES tinha de demitir o advogado ou seria demitido até esta segunda-feira (17).
O advogado, que foi assessor e chefe de gabinete da presidência do BNDES em 2005 e 2006, afirmou ter “muito orgulho” da própria carreira.
Ele, informalmente, ajudou o governo petista na elaboração de projetos de PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Em entrevista à revista Capital Aberto, Barbosa Pinto disse que colaborou na criação do Prouni, programa que concede bolsas a alunos carentes, com então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), em 2008. Bolsonaro venceu Haddad no ano passado.
Barbosa Pinto atuou ainda na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
No setor privado, de 2011 a 2018, foi sócio de Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, na Gávea Investimentos. Integrou conselhos de administração de diversas empresas.
O advogado recebe elogios de economistas. A decisão de enviar a carta, mesmo sem ter conseguido conversar com Levy, foi para demonstrar que não tem engajamento partidário.
A intenção de não ser usado como pivô de disputa política na aérea econômica do governo pesou na decisão. Ele tomou posse na quarta-feira (12) e começaria a trabalhar na segunda.
Guedes indicou insatisfação com o trabalho de Levy à frente do BNDES em entrevista a Gerson Camarotti, do G1, neste sábado.
“O grande problema é que Levy não resolveu o passado nem encaminhou solução para o futuro”, afirmou o ministro.
Guedes referia-se a investigações de possíveis responsáveis por empréstimos concedidos pelo banco a empreiteiras, nos governos do PT, para obras no exterior. Em troca, elas pagariam propina.
Até o momento, nenhum funcionário do banco foi apontado como participante do esquema, mas Bolsonaro e Guedes insistem no discurso de abrir a caixa-preta do BNDES.
Outro motivo de descontentamento do ministro com Levy é a resistência do economista em devolver o dinheiro injetado no BNDES no passado.
Guedes já disse que espera receber R$ 126 bilhões neste ano, mas Levy não se comprometeu com a cifra. Os recursos são tratados como necessários para ajudar no ajuste fiscal do governo.
Na quinta-feira (13), o governo anunciou a saída do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, após seguidas crises com os filhos do presidente.
Em encontro com jornalistas, Bolsonaro disse na sexta (14) que demitiria também o general Juarez Aparecido de Paulo Cunha da presidência dos Correios por ter comportamento sindicalista.
Nesse mesmo dia, após críticas de Guedes ao relatório apresentado pelo deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o governo é uma “usina de crise”.
No sábado, foi a vez de Bolsonaro ameaçar Levy.
O general do Exército da reserva Franklimberg Ribeiro de Freitas deixou a Funai (Fundação Nacional do Índio) na terça (11).
Desde o começo do ano, o governo registra quedas de nomes ligados à ala ideológica e militar.
Já deixaram o governo, além de Santo Cruz, Ricardo Vélez Rodríguez (ex-ministro da Educação) e Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral).
A Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil) já foi comandada por Alecxandro Carreiro e Mario Vilalva.
Três já foram demitidos da presidência do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), do MEC.
Da FSP.
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