Religião a serviço do atraso
No dia 26 de junho, o procurador da república Deltan Dallgnol estará na Igreja Batista Memorial Alphaville (IBMAlphaville) para realizar palestra sobre sobre Lava Jato, eleições e combate à corrupção. O evento é gratuito.
Chama a atenção no material de divulgação da palestra a participação do Instituto Mude.
O que seria?
Uma pesquisa no Google sobre a origem do instituto mostra que foi fundada em setembro de 2016, quando começou a polêmica sobre as palestras do coordenador da Lava Jato.
Alguns meses depois, a Folha de S. Paulo noticiou que um site na internet promovia as palestras de Dallagnol, com cachê fixado entre R$ 30 mil e R$ 40 mil.
Na época, Dallagnol disse que doava o cachê para o hospital do câncer no Paraná. Porém, a instituição relatou o recebimento de R$ 219 mil, metade do que ele teria recebido pelas palestras em 2016.
O Mude é uma instituição que guarda muitos pontos em comum com Dallagnol, a começar pelo endereço de sua sede: rua Amazonas de Souza Azevedo, 134, Curitiba.
Este é o endereço da Igreja Batista de Bacacheri, da qual Dallagnol é membro. A diretora executiva do Mude é Patrícia Ferhmann, responsável também pelo departamento de comunicação da Igreja.
O presidente do Mude é Fábio Alex de Oliveira, membro da igreja, como registra a revista da instituição, ao lhe dar os parabéns pelo aniversário.
Mude está empenhado na campanha pelas dez medidas da corrupção e promove eventos em que Lava Jato é um tema predominante.
A participação do Mude nas palestras de Dallagnol pode não ter nenhuma implicação maior, exceto o fato de que ambos estão no que pode ser considerada uma cruzada.
Formalmente, é uma cruzada contra a corrupção, mas o resultado produzido foi a queda de um governo eleito e a prisão do seu principal líder, Lula.
A situação muda de figura, entretanto, se se constatar que os cachês pela palestra de Dallagnol são pagos através da entidade.
Seria um tipo de lavagem de dinheiro, já que, para Dallagnol, receber diretamente de empresas ou instituições privadas caracterizaria um conflito ético.
Pelas regras do Ministério Público Federal, os procuradores podem fazer palestra, desde que o objetivo seja científico ou educacional.
Quando sindicatos patronais ou entidades privadas contratam o procurador, há um potencial conflito ético, sobretudo porque, nesses encontros, o ponto alto é quando ele diz que, graças ao trabalho que coordena, conseguiu prender um ex-presidente da república, como ocorreu recentemente num evento organizado pelo Rotary – Distrito 4590, em Campinas.
Com o Mude na participação das palestras, fica fora de dúvida o caráter militante de igrejas evangélicas de Curitiba — não todas, claro —, que vem tendo uma atuação antipetista desde 2010, quando o pastor Paschoal Piragine, da Primeira Igreja Batista, gravou um vídeo para recomendar aos fiéis que não votassem em ninguém do PT.
“Não estou dizendo para você votar em A ou B. Vou dizer em quem não votar: em pessoas que estejam trabalhando em favor da iniquidade na nossa terra, porque senão, queridos, Deus vai julgar a nossa terra e, se Deus julgar a nossa terra, isso vai acontecer na sua vida e na minha, porque eu faço parte desta terra e Deus não tolera a iniquidade”.
O PT, como se sabe, venceu a eleição, com Dilma Rousseff, não fez nada daquilo que o pastor disse que faria: legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e do aborto.
Mesmo assim, a militância antipetista continuou até que, em 2014, a Lava Jato criasse o ambiente para que, em 2016, Dilma fosse cassada pela violência da aliança entre setores da mídia hegemônica e do Judiciário.
Dallgnol continua na trincheira, agora com o Mude.