Em um artigo contundente na folha de S. Paulo, o ex-prefeito e ex-ministro da educação Fernando Haddad rebate com veemência a acusação feita por um delator de que a UTC teria pago despesas de impressão para sua campanha a prefeito em 2012. Haddad reitera que a UTC se sentiu prejudicada por ele, enquanto prefeito, ter suspendido uma obra da empreiteira vinculada a um contrato superfaturado da gestão anterior – e que, por isso, busca uma espécie de “forra” na desova de delações sem provas.
Leia a íntegra do artigo de Fernando Haddad:
Questão de Honra
É parte do ofício de gestor público responder a procedimentos muitas vezes injustos, como aquele que questiona se eu poderia ou não destinar recursos de multas de trânsito à construção de um terminal de ônibus ou se eu poderia ou não caçoar de um radialista de quinta categoria que, usando uma concessão pública, me ofendia diariamente.
Entretanto, nos últimos dias, fui informado pela imprensa que um membro do Ministério Público Eleitoral ofereceu denúncia contra mim por falsidade ideológica. Segundo a acusação, eu não teria prestado contas à Justiça Eleitoral adequadamente, omitindo despesas com uma gráfica e as correspondentes receitas provenientes de uma empresa, a UTC, que teriam quitado a dívida não declarada. Não fui acusado de corrupção passiva ou de lavagem de dinheiro, mas de uma prática que configuraria crime eleitoral.
A acusação foi baseada na delação premiada de um corrupto confesso, o sr. Ricardo Pessoa, que já teve parte das suas alegações desconsiderada pela Justiça em outros processos. No meu caso, o delator apresentou uma única “prova” dos fatos, a saber, uma planilha de 2015, por ele rascunhada, que indicava um pagamento, sem data, valor ou o nome do beneficiário. Ou seja, nada que comprovasse suas alegações.
O que pode ser afirmado é que Ricardo Pessoa autorizou o pagamento de uma gráfica, em março de 2013, que prestou serviços para muitas campanhas em 2012. O dono da gráfica, no entanto, afirmou categoricamente que os serviços pagos pela UTC não foram prestados à minha campanha.
Em outras palavras, o dono da gráfica, que não conheço, reconheceu que a empreiteira jamais pagou por qualquer serviço prestado para mim. Uma única testemunha ouvida sobre isso, que acompanhava a produção gráfica da minha campanha, confirmou os mesmos fatos.
O empresário, por seu turno, afirmou que a dívida com a gráfica era da minha campanha por ouvir dizer. Admite que nunca conversou comigo ou com o tesoureiro da minha campanha a respeito. E não conversou porque aqueles valores não foram destinados a mim. Não faria sentido que o fossem, dada a ausência de qualquer compromisso de minha parte com interesses de empreiteiras.
Quando tomei posse, a UTC tinha apenas um contrato com a prefeitura. Uma obra bilionária para a construção de um túnel na avenida Roberto Marinho em consórcio com a Odebrecht e outras, licitada na gestão anterior. Em seu acordo de leniência, a Odebrecht admitiu que a obra foi objeto de cartel, o que a delação do dono da UTC omite.
No início do meu governo, fui informado pelo meu secretário de Obras que esse túnel estava superfaturado. No dia 14 de fevereiro de 2013, anunciei a suspensão da obra, frustrando a expectativa das empreiteiras e economizando centenas de milhões de reais.
Diante disso, não é crível a narrativa do dono da UTC, que sustenta que, depois de ter seus interesses por mim contrariados, decidiu, sem nenhuma exigência, realizar pagamentos por fora, em caixa dois, para saldar supostas dívidas de minha campanha sem nem sequer me comunicar. Ainda que essa fantasia fosse crível, restaria a questão de como eu poderia omitir da Justiça Eleitoral informação de que, segundo todos os envolvidos, eu não dispunha.
Denúncias vazias aparentam afetar apenas uma pessoa, mas, no fundo, prejudicam toda a coletividade.