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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro-general Braga Netto. Fotos: Alan Santos/PR, Agência Brasil e Fundo de População da ONU e o UNICEF

Leite condensado, picanha, salmão, cervejas especiais, viagra e próteses penianas. A dura, mas nem tanto, vida nos quartéis

Por Ricardo Mello, em seu Podcast

É difícil falar sério quando a política desce a um nível em que se discute a compra de Viagra e de próteses penianas com dinheiro público.

As piadas e os memes são inevitáveis, chegam por mensagem no grupo da família, dos amigos. Nas redes sociais toda hora aparece uma piada sobre a virilidade (ou falta dela) dos militares da Forças Armadas. A gente ri, mas o assunto é sério.

Os contratos estão no Portal da Transparência. Qualquer um de nós poderia ter descoberto, assim como fez o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) que vem monitorando as contas das Forças Armadas desde o começo do Governo Bolsonaro. O gabinete do parlamentar é a fonte de levantamentos que descobriram, entre outras coisas, compras milionárias de leite condensado, carnes nobres e cervejas especiais em grande quantidade pelas Forças Armadas.

O leite condensado era “para dar energia” aos militares; a cerveja era para “comemorar depois de uma atividade estressante”. E o Viagra (pasmem!) será usado para “tratar pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar”.

Essas são as respostas que Exército e Marinha enviaram aos questionamentos. A Aeronáutica e o Ministério da Defesa ainda não se pronunciaram.

Não nego a necessidade de os nossos soldados terem energia, nem que a atividade militar traga junto boa dose de estresse. Nada que eu ou você também não enfrentemos todos os dias, sem direito a um churrasco grátis, com picanha e cervejas especiais pra desestressar.

A polêmica da vez, a compra do Viagra, passaria batido se tivesse ocorrido em quantidades condizentes com a doença alegada pelas duas forças pra comprar, junto com a Aeronáutica, 35 mil comprimidos.

A Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) é uma doença muito rara. Acomete, em média, 6 pessoas por grupo de um milhão ao ano, segundo relatório técnico do Ministério da Saúde. Estatisticamente, é como se o Brasil inteiro, com seus 212 milhões de habitantes, tivesse 1.275 pacientes diagnosticados com a HAP.

O FUSEx, o Fundo de Saúde do Exército, atende a um total de 750 mil beneficiários, entre militares da ativa, inativos e dependentes.

Aplicando a mesma proporção da média mundial de casos de HAP ao total de vidas atendidas pelo sistema de saúde dos militares, chegaríamos a algo entre 4 e 5 pessoas com diagnóstico de HAP.

Com um terço do tamanho do efetivo do Exército, a Marinha tem cerca de 75 mil militares, mas comprou 28 mil comprimidos, quase seis vezes mais.

Enquanto seguramos o riso tentando falar sério, continuamos bombardeados pelos memes e piadas.

Alguns escancaram o buraco onde nos metemos. Um amigo me enviou, logo cedo, uma publicação que dizia “O estranho caso do país que não tem dinheiro pra comprar absorventes pra moças pobres, mas tem pra comprar Viagra pra militares broxas”.

Cinco milhões de meninas e mulheres que vivem na extrema pobreza deveriam estar recebendo, hoje, oito absorventes cada uma, por mês. A falta do item básico de higiene faz com que milhares de adolescentes percam aulas todos os meses.

O projeto foi aprovado pelo Senado e prevê um custo de R$ 84 milhões por ano aos cofres públicos, mas foi vetado por Bolsonaro. Para isso não tinha dinheiro.