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Ok, sempre terá alguém para lembrar Temer e o erro cometido pelo partido ao se juntar com o MDB do golpista em 2010 e 2014, nas duas eleições vencidas por Dilma. A pergunta que jamais deixará de ser feita é: valeu a pena?

A resposta deve ser mais ampla que um sim ou não.

Temer não traiu a presidente e o partido apenas porque é um golpista desleal e sem ética. Traiu porque viu naquela conjuntura uma oportunidade: a bola estava quicando na sua frente dentro da pequena área e o anão moral resolveu assumir o risco do gol.

Pagou o preço por chutar contra a própria meta.

Foi preso. Descobriu-se depois tratar-se de falso jurista. Virou pária. Um desclassificado que saiu pela porta dos fundos da história e assim será lido nos livros de história das próximas gerações.

Dilma, traída, perdeu a presidência, mas ganhou musculatura moral. É hoje uma senhora respeitada – e querida. Ganhou fama de honesta num país desgraçadamente conhecido pela imoralidade.

O mesmo vale para Lula.

Preso, humilhado, impedido de exercer seus direitos constitucionais, virou um gigante. No Brasil e fora. Um catalisador de ideias, moderno, reformista. Passou pelos piores perrengues e não se deixou contaminar pela erva daninha do ressentimento.

Lula é o Fernando Henrique ao contrário. Esbanja otimismo e uma força interior notável, enquanto o tucano tornou-se prisioneiro de uma vaidade que o impede de abrir a guarda e ser feliz.

Dependesse de FHC, Luciano Huck seria presidente da República com Ronaldo Fenômeno de vice. Isso porque o decano não curte a arte da política. Não vê qualidade no deputado do interior, despreza o governador de botina e chapéu que dá expediente em Goiás ou Tocantins.

É hora, portanto, do PT aglutinar as forças de centro e fazer como em 2002. Somar para vencer. Vencer para governar.

E antes que você me conteste eu justifico: para cada Temer existe um José de Alencar. Para cada Eduardo Cunha existe um Renan Calheiros. Para cada Doria existe um José Sarney.

O PT pode e deve buscar essas forças e formar uma corrente para quebrar a barreira do fascismo incorporada por Bolsonaro e seus fanáticos. A esquerda deu provas mais que suficientes de 2013 para cá de que é uma muralha constituída de gente leal.

Por tudo que passou, o bloco se manteve unido, não se desmobilizou e até cresceu.

A força diante das adversidades contagiou leigos. Todas as injustiças que foram cometidas, e a união mostrada por suas lideranças nos piores momentos, serviram para engrossar e dar tempero a esse caldo de cultura. Pertencer à esquerda virou qualidade num país dominando pelos moralistas falsos.

Boa parte do povo se uniu no calvário dos seus líderes. O momento, portanto, é de ampliar o leque. Tem muito conservador dando sopa que não quer ver Bolsonaro nem pintado de ouro. Não podemos julgar que é todo mundo que aprova uma gente desqualificada, violenta, que levou o país ao bangue-bangue obscurantista.

Lula, o PT e as esquerdas devem dar um passo à frente e aproveitarem a terra arrasada imposta pelo golpe. Não podem cair na conversa de que todo mundo é igual.

O povo não é gado, como os que aguardam Bolsonaro todas as manhãs no cercadinho do Alvorada.

O povo é bom e trabalhador. Se por um momento foi cegado por uma conjuntura de caos imposta por grupos de influência – judiciário, velha mídia, lideranças oportunistas – isso não quer dizer que vai repetir o mesmo erro sempre.

Pelo contrário. Na essência, o cidadão é sempre vítima por ser o elo mais frágil da corrente.

Ao fim e ao cabo, sabe que é ele que vai pagar a conta – e pagou alto ao acreditar no golpe, com perda de direitos e empobrecimento.

A sociedade brasileira se divide hoje em três categorias: os maus e violentos que seguem bolsonaro, os progressistas que ainda acreditam que é possível retomar um projeto de poder popular e os conservadores assustados e constrangidos por terem afiançado a chegada de um fascista ao comando da nação.

É atrás desses últimos que os movimentos populares de esquerda precisam ir.

Deu certo em 2002. Tem tudo para dar certo agora também. Na Argentina foi assim. Na Bolívia e nos EUA idem.

É preciso acreditar. Manter a união e dar esperança aos não milicianos de que é possível a retomada de um projeto nacional capaz de promover o diálogo e especialmente a inclusão.

A decisão do STF que fez justiça e devolveu a liberdade e os direitos a Lula é uma luz no horizonte.

É preciso enxergar isso como uma oportunidade. Jamais se render ao ressentimento, sob o risco de transformarem o maior líder popular da história do país numa figura menor como Fernando Henrique Cardoso.

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