As conclusões da PF se deram a partir da checagem de registros de presença no Palácio da Alvorada e também de dados de celulares na Estações Rádio Base (ERB)
O documento foi “discutido com Bolsonaro na residência oficial do então presidente da República, após a derrota nas eleições de 2022″, segundo a jornalista Andreia Sadi
A Polícia Federal confirmou que Bolsonaro promoveu reuniões com assessores e comandantes das Forças Armadas nos dias 19 de novembro e 7 e 9 de dezembro de 2022 para revisar e finalizar a minuta do golpe, mantendo nela a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a convocação de novas eleições. Bolsonaro não só sabia da existência da minuta do golpe como também fez ajustes no texto, confirmando a trama golpista que culminou com os fracassados atos terroristas dia 8 de janeiro em Brasília. O ex-presidente teve participação ativa nos atentados contra a democracia.
As conclusões da PF se deram a partir da checagem de registros de presença no Palácio da Alvorada e também de dados de celulares na Estações Rádio Base (ERB). O cruzamento de todas essas informações permitiu a confirmação da delação premiada, homologada pelo STF, feita pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente coronel Mauro Cid, o mesmo que, segundo a PF, mandou mensagens a um oficial do Exército evidenciando a “anuência de militares com manifestações antidemocráticas” na frente de quartéis.
Em resposta a um oficial do Exército que disse estar preocupado com a recomendação do procurador da República, Fabiano de Moraes, para que fosse desmontada a estrutura usada por manifestantes golpistas que acampavam em frente a uma unidade do Exército em Caxias do Sul (RS), Cid escreveu:
“Cara, vou ser bem sincero contigo. Tá recomendado… manda se foder! Recomenda… está recomendado. Obrigado pela recomendação (…) Eles [o MPF] não podem multar. Eles não podem prender. Eles não podem fazer porra nenhuma. Só vão encher o saco. Mas não vão fazer nada, não“, disse Cid em áudio transcrito pela PF, obtido e divulgado pelo blog.
Todas as informações foram reveladas quarta-feira, 14, pela jornalista Andreia Sadi em seu blog no site G1, que teve acesso a documentos da PF cujas investigações confirmam que o ex-presidente promoveu reuniões de apresentação do decreto golpista a militares, também investigados por tentativa de golpe de Estado.
“A casa caiu: PF confirma dados de Cid sobre minuta do golpe com registros no Alvorada e celulares”, postou no X o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), junto com matéria do site Diário do Centro do Mundo (DCM).
O documento foi “discutido com Bolsonaro na residência oficial do então presidente da República, após a derrota nas eleições de 2022. Em áudio, ex-braço-direito de Bolsonaro Mauro Cid advertiu o comandante do Exército Freire Gomes que, sem ‘incendiar a força’, o ‘status quo’ se manteria”, escreveu a jornalista.
“Incapaz de refutar a montanha de provas de sua ação golpista (…) Bolsonaro é pai da mentira, filho do ódio, é veneno que só a verdade, a justiça e a democracia podem neutralizar”, postou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) sobre uma entrevista ‘encomendada’ pelo ex-presidente à TV Record.
Cronologia da tentativa de golpe
De acordo com a publicação de Andreia Sadi, a PF confirmou que no dia 19 de novembro, exatamente dois dias após o segundo turno da eleição de 2022, a minuta foi apresentada a Bolsonaro no Palácio do Alvorada, onde deram entrada, na mesma data, o assessor da presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, o advogado Amauri Saad e o padre José Eduardo de Oliveira e Silva. Os nomes dos três constam nos registros de controle e de saída do Palácio e os dados dos celulares deles aparecem no histórico da Estação Rádio Base (ERB) da região.
A minuta, segundo a PF, detalhava diversos “fundamentos dos atos a serem implementados” a partir do que consideravam “interferência do Judiciário no Poder Executivo”. Mauro Cid delatou à PF que “nesse encontro, Bolsonaro teria determinado a Martins alguns ajustes na minuta deste decreto, permanecendo apenas a prisão de Moraes e a realização de novas eleições”, revelou o G1.
No dia 7 de dezembro Filipe Martins voltou ao Alvorada com a minuta com ajustes feitos a pedido de Bolsonaro. A nova versão, segundo o documento da PF divulgado pelo G1, “excluía as prisões de Gilmar Mendes e Rodrigo Pacheco, mas mantinha a de Alexandre de Moraes, além da ordem de realização de novas eleições”.
Militares analisaram a minuta do golpe
Uma nova reunião aconteceu no dia 7 de dezembro no Alvorada, desta vez para apresentar a minuta do decreto ao general Freire Gomes, comandante do Exército, ao almirante Garnier Santos, comandante da Marinha, e ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que chegou às 8h25. Freire Gomes e Garnier deram entrada às 8h34, conforme o controle de entrada e saída do Alvorada. Filipe Martins chegou no mesmo horário.
Também foram ao Alvorada Tércio Arnaud, ex-assessor de Bolsonaro, considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”. Ele entrou às 7h26 e saiu às 20h49. Sérgio Rocha Cordeiro, ex-assessor de Bolsonaro que emprestava seu imóvel funcional em Brasília para o ex-presidente fazer lives, chegou ao Alvorada às 7h20.
Bolsonaro se reuniu também no dia 7 de dezembro no Palácio da Alvorada com o general Theophilo Gaspar de Oliveira, então comandante de Operações Terrestres (Coter). Segundo a PF, informou o Blog da Andreia Sadi, ele estava “disposto a cumprir as determinações relacionadas ao golpe de Estado se Bolsonaro assinasse o decreto”. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) comprovou a presença do general com entrada às 18h25 e saída às 19h18 do Alvorada.
Mensagem de Cid a Freire Gomes é cabal
Mauro Cid passou todo o dia 9 de dezembro no Alvorada, com entrada às 9h45 e saída às 20h23. A PF confirmou que ele mandou uma mensagem ao comandante do Exército, Freire Gomes, pelo aplicativo de comunicação UNA, usado pelo Exército.
“O presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais pesada onde ele vai, obviamente, utilizando as forças, né?”, disse Cid. “E hoje o que ele fez hoje de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é, resumido, né? “, afirmou, segundo o G1.
“Cid contou no áudio analisado pela PF que Bolsonaro, após enxugar a minuta de golpe de Estado, que iria falar com o general Theophilo, dando a entender que a adesão do comandante era um dos elementos essenciais para o êxito do plano que estava em andamento”, publicou o G1, ao acrescentar que suas forças especiais seriam utilizadas para executar ações sensíveis, como a prisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Como o general Theophilo não deu retorno, Mauro Cid advertiu Freire Gomes que se a “força não incendiar, o status quo mantem aí como o que está previsto, que estava sendo feito (…)”, apontou a PF.
No mesmo dia 9 de dezembro, Bolsonaro apareceu depois de 15 dias recluso após ser derrotado e falou com apoiadores na frente do Alvorada sobre a necessidade do apoio para “decidir para onde as Forças Armadas vão”. A investigação da PF afirma que o discurso nesse dia foi feito para “manter a esperança dos manifestantes de que o então Presidente da República, juntamente com as Forças Armadas iriam tomar uma atitude para reverter o resultado das eleições presidenciais, para atender o ‘apelo popular’, fato que efetivamente estava em curso naquele momento”, escreveu Andreia Sadi.
“Bolsonaro é um golpista de corpo e alma”, diz Estadão
Em editorial nesta quinta-feira, 15, o jornal O Estado de São Paulo afirmou que o ato de 25 de fevereiro na Avenida Paulista “é um escárnio” e uma tentativa de intimidação. “Bolsonaro é um golpista de corpo e alma. O mau militar, que deixou o Exército em desonra em 1988, nunca fez as pazes com a redemocratização do País. Desde então, Bolsonaro apenas passou a se servir da política como mero instrumento para continuar fazendo o que fora impedido de fazer nos quartéis: insuflar a baderna, tratar adversários como inimigos e usar a truculência para impor uma agenda – além, é claro, de enriquecer a família”, escreveu o Estadão.
Com informações do PT Org
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