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nazismo perseguiu, até o final da ocupação da França, o projeto de contar com um colaboracionista em cada casa. O plano do bolsonarismo é contar com pelo menos um miliciano bem armado em cada família.

Não necessariamente na antiga família nuclear, aquela de pai, mãe e filhos, mas na família em sentido amplo, com seus imensos galhos. A família de tios, cunhados, primos, sobrinhos, agregados, netos, namorados das filhas, sogros e sogras.

Se o plano der certo, todos nós teremos um parente miliciano. Não precisa estar por perto, nem morar na mesma cidade, mas ser da família e estar no Whats e bem armado.

Nossos parentes de direita, que se transformaram em extremistas com a ascensão dos Bolsonaros e dos militares ao poder, podem seguir carreira. Um extremista dedicado tem chance de ser parte de uma milícia formal ou informal.

Teremos o parente armamentista ostentação, que irá se exibir com o arsenal mantido em casa e que o acompanha no porta-luvas do carro. E agora com o carteiraço de miliciano.

O louco por armas da família não mais terá um revólver para caçar bandidos, mas várias pistolas para apoiar Bolsonaro no seu projeto de resistir a tudo, à ameaça de impeachment, à possível derrota numa eleição e até à possiblidade de golpe por parte dos militares que podem abandoná-lo pelo caminho.

O parente miliciano não será dono de um revólver 22 e de uma espingarda velha. Poderá ter até seis armas e munição para encher armários.

O parente miliciano poderá aparecer, com ou sem porte de armas, com revólveres, pistolas, espingardas e metralhadoras de todos os tipos. Ele está sendo estimulado a ter a posse e a portar armas, onde estiver.

Um primo que seja enquadrado como caçador, atirador esportivo ou colecionador passou a ter o direito de comprar até 5 mil munições num ano e mais 5 mil cartuchos para recarga.

Todos nós temos um tio que, por vínculo atávico com um passado imaginário de batalhas heroicas na família, sempre teve armas. Mas era um sujeito dedicado a bravatas, do tipo ‘ninguém entra na minha casa’.

Agora, esse tio pode evoluir para algo maior e mais politizado. Pode se sentir parte dos batalhões da guerra armada por Bolsonaro. Ele vai assumir a missão de defender a tiros o Brasil ameaçado de novo pelo comunismo, como disse Eduardo Bolsonaro ao lado do pai em Santa Catarina.

É provável até que muitas famílias venham a ter alguém semelhante àquela aberração humana que invadiu o Capitólio usando guampas. Não duvidem de nada, porque milícias são imprevisíveis.

Com o incentivo à prática de tiro de adolescentes (que também são contemplados nos decretos), além do tio, um sobrinho pode vir armamentista. Aquele sobrinho de 16 anos, o menino estudioso e admirado por todos, também poderá sair dando tiros.

Bolsonaro quer gente armada não só nas Forças Armadas e nas polícias militares. Seu plano de defesa é grandioso e dirigido a todas as classes sociais.

O centrão deve manter fidelidade só até o momento em que o acordo for um bom negócio. Se Bolsonaro perder base popular às vésperas da eleição, o centrão salta fora, depois de saquear o governo.

Bolsonaro também não sabe como medir o apoio dos militares. Alguns podem fazer parte de um projeto orgânico de poder, mas a maioria é apenas empregado do governo. Se os generais debandarem, como ficam os oficiais subalternos?

Sem certezas, Bolsonaro precisa buscar proteção mais sólida do que a do centrão, que se vende por empreitadas, e dos fardados que podem desistir de ficar ao seu lado.

O projeto é armar sua base fiel, mesmo que essa não passe de 15%. Bolsonaro pensa grande, desde aquela famosa reunião de 22 de abril do ano passado (a da boiada de Salles, das hemorroidas de Bolsonaro e dos “vagabundos do Supremo” de Weintraub).

Naquela reunião, ele avisou: “Eu quero todo mundo armado. Que povo armado jamais será escravizado”.

Todo mundo quer dizer quem está a seu lado, não só para defender suas ideias, mas seu projeto de poder, custe o que custar.

Preparem-se para, depois da pandemia, receber os parentes que colocarão os revólveres em cima da mesa no churrasco de domingo.

Toda família sempre teve um parente comunista, ou anarquista, ou golpista, ou monarquista, ou porra-louca. Na ditadura, as famílias tinham o falastrão amigo dos homens. Chegou a vez do tio miliciano.

Publicado por Moisés Mendes 

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