Jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?
A primeira impressão é a que fica. Nos casos do governo atual e dos governos anteriores, a frase é lapidar. Ou é tiro e queda, sem fazer trocadilho e para usar o tema da hora. Os dois governos de Lula (2003-2011), por exemplo, e o recém iniciado governo de Bolsonaro refletem muito bem essa realidade. E parecem espelhar uma certeza ao invés de traduzir uma impressão.
A primeira impressão deixada por Lula foi de que o principal beneficiário seria quem tem fome. Uma das primeiras medidas do governo dele, em 2003, foi assinar o decreto criando o Fome Zero, um dos programas mais exitosos já vistos no planeta para combate direto à pobreza e atendimento às necessidades básicas alimentares do povo. Dois anos antes, o programa havia sido prometido pelo então candidato petista. Estava contemplado o segmento majoritário do seu eleitorado. Era só o começo do que viria em termos de ações e programas sociais. O Brasil começava a mudar.
No governo de Bolsonaro, a primeira impressão é de que houve um acerto de contas entre a nova gestão (permitam-me chamar assim…) e um segmento significativo dos que a bancaram. Com apenas 15 dias de Planalto, o novo presidente instituiu, por decreto, a flexibilização de posse e uso de armas no País. A medida foi a principal promessa de campanha do candidato do PSL, dos ruralistas, dos evangélicos, da bala e da bola. Foi “só o primeiro passo”, como afirmou o próprio Bolsonaro. Só Deus sabe o que virá a partir daí. Ele garante que o Brasil começou a mudar.
O Fome Zero, vale a pena lembrar aos esquecidinhos, virou referência no mundo. Receita simples: garantir a quem precisa a possibilidade de fazer três refeições por dia. Café da manhã, almoço e janta. O “privilégio” ajudou a tirar o País do Mapa da Fome, onde tinha cadeira cativa. Ao lado de inúmeras outras ações voltadas para os mais carentes, o governo começou a atacar a pobreza e a mudar um perfil perverso que nos acompanhava há séculos.
Através do programa, o Brasil cumpriu a primeira meta dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio da ONU, que era o de reduzir a extrema pobreza à metade entre 1990 e 2015. Ou seja, dez anos antes do que estava previsto. A renda da agricultura familiar cresceu 33%, quando a média nacional foi de 13%. No lançamento do programa, Lula definiu que a meta do Fome Zero seria “um Brasil plenamente viável e promissor, onde a democracia se estenda ao território econômico-social, a justiça seja meta de todos e a solidariedade, a regra geral de convivência” (*).
Três anos depois, no seu discurso de posse, em janeiro de 2003, Lula disse: “Vamos criar as condições para que todas as pessoas no nosso país possam comer decentemente três vezes ao dia, todos os dias, sem precisar de doações de ninguém. O Brasil não pode mais continuar convivendo com tanta desigualdade. Precisamos vencer a fome, a miséria e a exclusão social. Nossa guerra não é para matar ninguém – é para salvar vidas”.
Ao longo da campanha eleitoral, da qual pouco participou fisicamente – oficialmente, por conta do atentado que sofreu e que lhe permitiu apenas discursar de casa e do tuíter, além de aparições estratégicas, aqui e ali -, Jair Bolsonaro por várias vezes reafirmou a intenção de armar os “cidadãos de bem”. O rearmamento foi a sua principal bandeira de luta. Imitar com mãos o gesto de atirar com revolver ou com metralhadora equivaleu aos bolsonaristas o mesmo que o “V” da vitória ou o polegar para cima indicando positividade.
Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia
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