Além de cumprir uma função social, o projeto In Steps fortalece a ideia de pertencimento à cidade
Subindo as escadas de um dos prédios do Centro Cultural de Ceilândia, é possível ouvir músicas de hip-hop vindo da sala Multiuso. É lá que funciona, às segundas, quartas e sextas-feiras, o projeto In Steps, que incentiva o breaking, um estilo de dança de rua. Das 18h30 às 21h, reúnem-se cerca de 30 pessoas para aprender ou aperfeiçoar os movimentos. São footwork, power moves, freezes, ou simplesmente vários passos envolvendo o tronco, as mão e os pés, para os menos conhecidos do assunto. Entre dançarinos amadores e profissionais, jovens de 14 a 25 se encontram para treinar o estilo, em que os mais antigos auxiliam os mais novos.
Em 2009, a iniciativa era feita no Centro de Orientação Socioeducativo (Cose) da cidade, mas o responsável entrou em contato com a Administração de Ceilândia e conseguiu o espaço no Centro Cultural. O idealizador do projeto é Alan Jhone Moreira, 36 anos, o Bboy Papel. “É muito importante que os jovens tenham contato com a cultura. É por isso que sempre luto para que o espaço continue funcionando”, diz o dançarino. Alan Jhone ressalta a dificuldade em conseguir patrocínios. “É um meio muito difícil. Temos, muitas vezes, que nos autoproduzir. É por isso que fiz minha formação em marketing, a necessidade me ajudou a chegar aonde estou. Hoje posso ajudar muitos jovens e espero que meu conhecimento produza frutos”.
Morador do Sol Nascente e integrante do In Steps desde o começo, Robson Brito Martins, 22 anos, se interessou pela dança aos 9 anos, ele acredita que o projeto abre muitas portase. Robson defende a criaçãos de propostas semelhantes para treinar coreografias. “É muito difícil ter um lugar pra dançar aqui em Ceilândia. Por isso esse espaço tem que ser valorizado. Pretendo continuar vindo a vida toda.”
Diferentemente de Robson, o representante de vendas Alexandre Cardoso, 33 anos, só conhece o espaço há poucos dias — o interesse surgiu depois de convites dos amigos. Ele estava acompanhado dos dois filhos, de 8 e 4 anos, que imitavam os movimentos do pai. “Meus irmãos dançavam e passaram para mim. Eu quero passar para os meus filhos. Não é só a questão física, a saúde, é uma forma de ocupar a mente.”
Reconhecimento
Alan Jhone, o Bboy Papel, mora em Ceilândia desde que nasceu. O apelido surgiu quando o rapaz se apresentava em um show com palhaços no Conjunto Nacional, em meados de 1990. “Eu fazia uma disputa de dança com palhaços, e, devido a meu porte físico, muito magro, as pessoas falavam que eu dançava e flutuava como um papel. Aí o apelido pegou”, afirma.
Para Alan Papel, como também é conhecido, que mora com a mãe e a irmã e nunca conheceu o pai, a dança é uma forma de superação. Ele conta que, quando mais novo, na época de escola, sofria bullying por ser magro, e isso o incomodava. Encontrou na dança uma forma de melhorar a autoestima. “Foi quando comecei a dançar. Via que os alunos que dançavam eram reconhecidos, respeitados, eu queria isso pra mim. Hoje em dia, a dança é essencial na minha vida. Ela me mostrou que, com dedicação, podemos fazer qualquer coisa, na dança ou na vida. Os movimentos provam isso.”
Para quem quer participar, o projeto ocorre nas segundas, quartas e sextas, das 18h30 às 21h, na sala Multiuso do Centro Cultural de Ceilândia, em Ceilândia Norte. É gratuito e aberto ao público de todas as idades, basta comparecer com roupas próprias para praticar a dança.
Colecionador de prêmios internacionais da modalidade, Papel é também o criador do Quando as Ruas Chamam, um Festival Nacional de Breaking, que tem como palco das competições finais a Ceilândia. Participam cerca de 400 dançarinos de todo o Brasil, divididos entre oito categorias. O festival é considerado um dos eventos mais importantes do país no estilo “Dança de Rua” e tem o intuito de valorizar a dança de rua brasileira. Segundo Alan Papel, esse é um evento promovido por dançarino para dançarinos e tem como prêmio o valor de R$ 10 mil. A próxima edição será em abril.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira.