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O embaixador e ex-chanceler conversou com a TV 247 sobre a tensão na Bolívia depois de um golpe contra o ex-presidente Evo Morales, hoje exilado no México. Celso Amorim comentou também a omissão do governo Bolsonaro no caso da invasão à embaixada da Venezuela no Brasil. “É obrigação do governo brasileiro proteger as embaixadas”, afirmou

247 – O ex-ministro e embaixador Celso Amorim falou à TV 247 sobre o golpe contra o ex-presidente da Bolívia Evo Morales e conversou sobre a origem de toda a crise no país, ou seja, uma possível fraude nas eleições. Amorim falou também da invasão da última quarta-feira (13) à embaixada venezuelana no Brasil. Ele lembrou ser dever do Brasil proteger a embaixada.

Para o ex-ministro, o fato de Evo, sob a argumentação de que houve fraude no processo eleitoral, ter convocado novas eleições ressalta a característica de golpe na Bolívia. Celso Amorim disse ainda que não confia mais na imparcialidade da Organização dos Estados Americanos (OEA), responsável pela auditoria que atestou fraude no pleito no país.

“Isso enfatiza que é golpe, você não pode nem sequer dizer que ‘não, a gente não confia’. Ele chamou novas eleições. Na realidade o Evo ganhou por uma margem muito boa, a dúvida era saber se ele tinha ganho no primeiro turno ou não. Eu não acredito mais na imparcialidade da OEA, diante das atitudes em relação à Venezuela e a outros Estados, o secretário-geral [Luis  Almagro], lamento muito em dizer, se colocou como agente direto dos interesses norte-americanos em todo o continente”.

O embaixador disse que os golpistas não queriam que Evo participasse das eleições porque sabiam que ele ganharia e, assim, aproveitaram um momento de fragilidade do país para a investida. “Eles não queriam o Evo na eleição porque eles sabem que ele ganharia de novo. Queriam aproveitar a situação, era uma situação de fragilidade, de vulnerabilidade, acho que aquele processo de ficarem contando (os votos) de um lado e de outro é realmente uma coisa confusa e aproveitaram isso”.

Para o ex-ministro, o golpe boliviano não foi um golpe tradicional porque não teve a primeira iniciativa tomada pelos militares, mas foi, ainda sim, um golpe. “Houve participação dos militares, e não só por omissão. Se um chefe militar recomenda a um presidente sair, essa recomendação na verdade é uma ordem, é uma intimidação. É um golpe. Não é um golpe tradicional porque não forma os militares os primeiros a agir, houve primeiro essa ação de milícias e da polícia, que também exploraram eventualmente a classe média, e aí entraram os militares. Os militares deveriam ter impedido a polícia, essa é a obrigação deles, defenderem os poderes constituídos”.

O embaixador se mostrou satisfeito pelo posicionamento mexicano, do governo de López Obrador, em dar asilo ao ex-presidente Evo Morales, seguindo, de acordo com ele, uma tradição do país. “Acho muito positivo, isso é uma tradição mexicana, diga-se de passagem, até com governos não tão progressistas o México sempre acolheu exilados, inclusive brasileiros. É uma tradição mexicana que vem dos anos 30 e que eles estão honrando de forma muito firme e corajosa porque o México está ali na cara dos Estados Unidos”.

Invasão à embaixada

O ex-ministro explicou que é obrigação do Brasil proteger as embaixadas localizadas no país. Ele criticou o que considerou inércia do governo Bolsonaro diante da invasão à embaixada venezuelana por milicianos, em Brasília, na última quinta-feira 14, e também refutou argumentos de que o Brasil não reconhece o governo de Nicolás Maduro e, por isso, não agiu diante do conflito na embaixada. “É obrigação, obviamente, do governo brasileiro proteger as embaixadas, e não pode alegar que eles reconhecem o [Juan] Guaidó, então já tinham que ter falado antes, existem procedimentos diplomáticos para isso tudo. Proteger a embaixada é uma obrigação”.