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Com foco na representatividade ampla e participativa, pré-candidata a governadora do Partido dos Trabalhadores quer se viabilizar na disputa estadual

Primeira mulher presidente do PT goiano, a professora Kátia Maria surge longe dos holofotes dos três principais pré-candidatos ao governo do Estado. Única mulher até o momento lançada na corrida ao Palácio das Esmeraldas, Kátia Maria diz apostar em uma gestão integrada, descentralizada e participativa para encarar de frente as demandas de Goiás.

Augusto Diniz – Como foi tomada a decisão de ser pré-candidata a governadora?
Eu vim dos movimentos sociais. Sou do movimento sindical desde o final da década de 1990. Me filiei ao PT em 2003. Fui presidente do PT em Senador Canedo. Em 2007, fui para a direção estadual. Desde então fui secretária de comunicação, de ações institucionais, vice-presidente e secretária de mulheres do Estado. No ano passado fui eleita presidente pelo trabalho que fazia. Sempre andei muito o Estado. Sempre gostei muito deste dinamismo de visitar, valorizar a organização partidária e isso me credenciou para ser uma referência entre os petistas.

Neste momento político, o partido entendeu que o meu perfil, que tem de um lado a construção militante, mas por outro com minha formação acadêmica como consultora em planejamento, mestre em estudo socioambiental, traz um pouco do que o eleitor pedia. A análise que o PT fez é que nesse momento eu poderia contribuir nesse processo eleitoral. Primeiro pelo meu conhecimento do Estado, engajamento, a confiança que os militantes têm em mim. Segundo pelo meu perfil de gestora e consultora. Temos aqui alguém que é o perfil que o eleitor está procurando.

Cezar Santos – A sra. é professora de qual universidade?
Estou como professora convidada em algumas universidades de pós-graduação na área de didática e docência universitária. Fui funcionária da Estado e do Município de Senador Canedo por muitos anos, mas pedi exoneração em 2007. Foi quando me tornei consultora em planejamento e gestão.

Cezar Santos – A sr. é de qual corrente do PT? E quais são os expoentes?
PT pra vencer. Rubens Otoni, Antonio Gomide, Ceser Donisete, Valdi Camarcio. Todos fazem parte desse agrupamento. Hoje cumprindo um papel além das forças políticas. Não nos denominamos como uma força política porque, na medida em que você passa a ser presidente do partido, é preciso fazer a interlocução entre todas as forças políticas.

Augusto Diniz – Por ser uma profissional da educação, qual será o peso do assunto em seu plano de governo?
Com toda certeza educação e cultura terão um peso significativo. Compreendemos que educação e cultura são pilares muito fortes na transformação da sociedade, uma base sólida de mudança de comportamento e de pensamento. Na minha pesquisa, trabalho muito isso. Só vamos mudar as instituições, só vamos mudar a sociedade quando nós mudarmos as pessoas. As organizações são feitas de pessoas, a cidade é feita de pessoas, o Estado é feito de pessoas. Nós só vamos mudar quando nós conseguirmos conscientizar as pessoas. Com toda certeza a educação será um pilar muito forte.

Nós precisamos ter um modelo de educação que seja integral, não apenas do ponto de vista da jornada de 8 horas, mas de uma formação integral que possa preparar o cidadão para o mundo, com pensamento crítico, condição de ter uma educação emocional, criativa, onde ele possa ir para o mundo, não apenas para o mercado de trabalho. Ir preparado para o mercado de trabalho é importante, mas o cidadão e a cidadã precisam ter uma educação que os torne seres humanos completos.

Cezar Santos – Com quais partidos o PT tem conversado no sentido de formar aliança?
Começamos conversando com os partidos que compõem a frente de esquerda: PCdoB, PDT, PSB e Psol. No início, o PCdoB avançou um pouco na conversa conosco, o Psol um pouco menos. Com PDT e PSB, dada a condição de já estarem no governo do PSDB, fizemos uma primeira tratativa e entendemos que não haveria condição de avançar na conversa. Hoje temos um diálogo bem avançado com o PCdoB. Estamos preparando o partido para a construção dentro dessa linha ideológica.

Cezar Santos – Na eleição de 2014, o PT teve como candidato a governador Antonio Gomide, que vinha de uma gestão bem avaliada em Anápolis. Mesmo assim, ao final da votação Gomide teve apenas 10% dos votos. O que faz a direção do partido acreditar que em 2018 o PT terá mais votos do que há quatro anos?
Cada eleição é um momento. Na eleição de 2014, eu ajudei a coordenar a campanha do Gomide. O eleitor já acenava para a mudança, mas não foi suficiente tudo que nós fizemos. Tivemos muitas dificuldades no meio da campanha. Nesta eleição, percebemos que o eleitor está mais ávido por mudanças. Todo lugar que temos visitados notamos que a população quer o novo, o diferente. Nosso perfil ajuda.

Primeiro por conhecer o Estado como poucas pessoas conhecem. Tenho condição de debater o Estado com muita propriedade porque conheço os 246 municípios. Estudo do ponto de vista da literatura, mas também conheço in loco. No planejamento, falamos muito que o mapa não é o território. Não adianta só conhecer pelo mapa, você tem de ir lá para conhecer a realidade local. Posso falar isso com condições. O PT entende que este é o momento da renovação política. O eleitor vê que tem uma liderança que já percorria o Estado como presidente de partido, que tem a confiança da militância, que se empolga com sua pré-candidatura.

O PT nunca teve medo de disputar a eleição estadual. Não é a primeira vez que o partido apresenta uma candidatura nova. PT é um dos partidos que sempre apostou na construção de novas lideranças. Sou parte de mais uma dessas lideranças. Tivemos Gomide, Marina Sant’An­na e muito outros que foram lançados como pré-candidatos para cumprir esse papel de apresentar o novo, de mostrar que estamos abertos para novas construções com a sociedade.

Fernanda Garcia – A sra. tem defendido a construção de um plano de go­verno sustentável. Como isso funcionará?
Temos muito comprometimento com a questão do planejamento. Todas as outras candidaturas trabalham no mínimo há mais de dois anos. Ninguém está há menos de dois anos pleiteando: PSDB, DEM e MDB. O que percebemos é uma inconsistência muito grande na apresentação de propostas. Tivemos a precaução de, no primeiro mês – definimos nossa pré-candidatura no dia 19 de maio –, apresentarmos em 13 de junho o modelo de gestão que vamos adotar no nosso governo. Será a espinha dorsal que norteará todas as políticas que estamos elaborando.

Queremos um governo de gestão integrada na qual possamos integrar desenvolvimento econômico com desenvolvimento social e sustentabilidade ambiental. Porque o momento político e institucional de crises e problemas que estamos vivendo nos exige um olhar integral das coisas. Nos exige ter um olhar a médio e longo prazo ou vamos ficar só nessas políticas que são curativas, estancam o problema agora, mas não resolvem a médio e longo prazo. Essa é a visão que temos: fazer gestão de forma sustentável.

Quando falamos de sustentabilidade não estamos falando só do ponto de vista ambiental. Estamos falando de sustentabilidade financeira do Estado, sustentabilidade das relações com a população de Goiás, sustentabilidade nas formas tratativas do pacto federativo. Queremos, dentro desse tripé da integração dos três eixos de desenvolvimento, garantir qualidade de vida para as pessoas. Faremos isso mudando um pouco o modelo do desenvolvimento econômico que temos hoje em Goiás, que é um modelo que concentra renda e oportunidades.

Hoje temos 60% do Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás concentrado em apenas dez municípios. Queremos que todos os municípios possam participar de forma mais satisfatória, pensando no desenvolvimento regional integrado que possa ser mais harmônico entre as regiões. Queremos fazer com um modelo que possa distribuir renda, levando a oportunidade para todos os municípios. Não é porque sou pré-candidata. Me tornei pré-candidata porque estudo e defendo esse novo modelo de desenvolvimento local sustentável. Podemos promover o desenvolvimento dos municípios de forma sustentável, potencializando a economia local, fazendo circular a economia, o dinheiro, naquele território.

Isso fará com que a economia do Estado se fortaleça. Que nós possamos equilibrar o desenvolvimento. Em decorrência da concentração que temos hoje no Estado, os municípios pequenos estão perdendo população e os grandes centros vivem uma explosão demográfica. Se verificarmos o Entorno do Distrito Federal, a região de Anápolis, a Região Metropolitana, todas têm um crescimento acentuado do número de habitantes. Os municípios pequenos estão perdendo população porque não há oportunidade e as pessoas vão buscar nos grandes centros.

Não tem a faculdade, a pessoa vai atrás da faculdade. Depois da formação, o profissional permanece para buscar o emprego. Não adiantou ter o curso, porque na minha cidade não tem emprego na área. Se um parente precisa de um tratamento, fica mais barato morar em Goiânia durante esse período. Por isso queremos descentralizar essas oportunidades, fazendo com que o desenvolvimento regional seja amparado por um desenvolvimento local sustentável. Não vai haver Estado forte se os municípios estiverem fracos. Nós só vamos construir um Estado sólido, do ponto de vista socioeconômico, quando conseguirmos equilibrar os municípios.

Augusto Diniz – Essa proposta é apresentada em um momento de crise. Não será preciso fazer algo antes para que essa política seja aplicada?
Crise econômica se resolve aquecendo a economia. É contraditório e ineficiente dizer que resolve crise econômica só enxugando máquina de governo. Crise econômica se resolve potencializando o comércio local, aquecendo a construção civil, potencializando a agricultura familiar para que se possa produzir mais e oferecer um alimento de qualidade para a sua população. Lula fez isso. Lula era criticado porque falava que era marolinha. Mas ele conseguiu fazer a marolinha ser marolinha de verdade.

Ao invés de retrair os investimentos do Estado, Lula criou o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e para cima com tudo, aquecendo a construção civil, a economia, para gerar a distribuição de renda na ponta. Todo mundo construía, todo mundo reformava, todo mundo ampliava. Vieram as linhas de crédito, a chamada linha branca. Na medida em que se movimentava a economia, também se aquecia e começava a criar musculatura da reconstrução da economia.

Se nós quisermos retomar o processo do desenvolvimento econômico que o Brasil vivia, não será só fazendo discurso de ajuste de máquina. Isso é importante, mas não resolve o problema da economia, que se resolve distribuindo renda para fazer com que as riquezas do nosso País possam circular nos municípios e gerar a economia das pequenas empresas, que são quem mais movimenta e sustenta a nossa economia. É preciso que, de baixo para cima, busquemos uma economia forte.

Augusto Diniz – A política de redução do Imposto Sobre Produtos In­dus­­trializados (IPI) para eletrodomésticos da linha banca não foi um erro?
Depende do ponto de vista que você olhar. Se você olhar do ponto de vista de uma família que não tinha geladeira e perdia o pouco alimento que tinha porque não tinha lugar para condicionar essa comida de forma adequada, isso não é nem uma política de um bem supérfluo ou luxo. É uma questão de garantir uma alimentação, digna, correta e saudável. Tivemos esse exemplo em várias localidades. Para nós não foi um erro, foi dar dignidade às pessoas que antes não tinham condição de ter acesso a esses bens e serviços.
Para nós foi uma política que o governo implementou que fomentou a economia e deu dignidade para que as pessoas pudessem ter acesso a bens que antes só alguns podiam ter. A partir desse momento, o pequeno produtor, trabalhador, a empregada doméstica puderam ir à loja comprar a sua TV de forma parcelada. Por isso não entendo que tenha sido uma política equivocada, mas uma política acertada.

Cezar Santos – Foi uma política que não se mostrou sustentável. Tanto que Dilma Rousseff não conseguiu repetir o sucesso dessa política. A sra. não concorda que a gestão Dilma tenha sido um fracasso?

Não acredito que Dilma tenha sido um fracasso. O que o pessoal dizia era que quando Dilma saísse a questão econômica seria resolvida. O que nós vimos foi que piorou em tudo. O problema não era Dilma, mas sim o que estava por trás de quem queria tirar Dilma. É verdade que Dilma poderia ter tomado outros caminhos que achávamos ser melhor para a economia, mas não é verdade que houve esse estrangulamento no governo Dilma. Já entramos no governo com uma crise muito acentuada na eleição de 2014.

Cezar Santos – Dilma negou na campanha de 2014 que houvesse crise econômica.
Ela estava conseguindo fazer um bom governo. Por que o grupo que assumiu o governo no lugar da Dilma disse que o problema era a petista não conseguiu?

Cezar Santos – Não conseguiu porque a economia estava totalmente fora do controle.
Não. Se nós pegarmos o tamanho da dívida pública, no início do governo Lula [2003] era um, no governo Dilma [2011-2016] era outro e agora cresceu. Diminuímos a dívida pública, agora estão chegando com dois anos naquilo que o Lula encontrou.

Cezar Santos – Por que Lula diz que o arrependimento dele é ter colocado Dilma como sua sucessora? Há entrevistas dele nesse sentido.
Lula nunca disse que o arrependimento dele foi ter colocado a Dilma candidata. Dilma nos honrou muito. Dilma, inclusive, foi vítima de um processo discriminatório machista. Parte das pessoas acha que uma mulher não pode assumir um governo. Dilma foi uma grande gestora. Conseguiu elevar o Brasil em muitas políticas públicas. Ajudou a construir o PAC e o Minha Casa Minha Vida. A população reconhece isso e percebeu que foi um equívoco ter pedido para tirar Dilma.

Augusto Diniz – Como a sra. tem sido recebida pelo eleitorado goiano quando se apresenta como pré-candidata do PT? O falecido ex-prefeito Paulo Garcia (PT) terminou sua gestão em Goiânia muito mal avaliado pela interrupção de serviços básicos, como a coleta de lixo. Qual o peso disso na receptividade do eleitor ao partido?
Aqui em Goiânia não tem sido diferente dos outros lugares. Na eleição de 2016, nós já estávamos em uma crise muito grande, estávamos dentro do golpe. Claro que tudo isso, com todo bombardeio que o PT vinha sofrendo por parte da mídia tradicional, contou muito para a avaliação da gestão e para o desempenho dos nossos governos. O que percebo hoje andando em Goiânia e ouvindo de várias lideranças, desde as partidárias a pessoas que não têm qualquer ligação com qualquer sigla, é que hoje, na situação que está a prefeitura de Goiânia, o governo de Paulo Garcia é inclusive reconhecido.

Até porque muitas das coisas que hoje a Prefeitura de Goiânia está fazendo foram deixadas e encaminhadas pelo governo petista do Paulo Garcia. Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) foram deixados em andamento, recurso para asfalto, Unidades Básicas de Saúde (UBSs), o Parque Macambira-Anicuns, a mobilidade urbana. Muitos dos projetos que já estavam em andamento, e que não têm mais a velocidade de execução de antes, são furto do que nós deixamos construído. Ouvi de várias pessoas que hoje têm saudade da gestão Paulo Garcia.

A saúde que naquele momento as pessoas criticavam era um céu de brigadeiro perto do que está a saúde de hoje. As pessoas reconhecem que a gestão estava melhor na época do Paulo Garcia.

Augusto Diniz – Com mais de um ano e seis meses de gestão Iris Re­zen­de (MDB), o prefeito alega que a dívida deixada pela gestão do PT continua a prejudicar o bom andamento dos serviços na prefeitura. Como o partido recebe essa crítica?
Cada um usa a justificativa que tem para dar. Iris, com a experiência que tem, se quisesse fazer de verdade, com um ano e meio seria tempo suficiente para mostrar a que veio. Esse é um fato real. Essa administração não cumpre aquilo que foi vendido para a população em 2016.

Fernanda Garcia – A sra. acredita que a sigla pode influenciar negativamente na sua campanha? Os eleitores podem rejeitar sua pré-candidatura só pelo fato de ser do PT?
É natural dentro do processo democrático. Nem para nós e nem para os outros haverá unanimidade. O que temos percebido por onde temos andado é um respeito muito grande ao Partido dos Trabalha­dores. O que as pesquisas estão mostrando é que, mesmo com todo esse bombardeio que foi feito, o PT é o partido que tem a maior preferência do eleitor brasileiro: 20%. Em Goiás é 18%. Nossa maior liderança, presidente Lula lidera todas as pesquisas com o dobro de votos do segundo colocado.

O sentimento que tenho é de que isso só me ajuda. Estou em um partido consolidado, enraizado, um partido de base, de militância forte, que foi criado para ser instrumento de transformação da sociedade. E que neste momento, com a crise que o Brasil atravessa, a população continua enxergando nesse partido essa possibilidade de retomada.

Augusto Diniz – Que análise a sra. faz da mudança de avaliação em relação ao PT e suas figuras de destaque nacional, que passou da rejeição a partir do segundo governo Dilma até o impeachment e começa a virar com o partido na oposição à gestão Temer?
O que nós temos hoje é mais de 30% da população brasileira que quer o presidente Lula, 20% que acredita no PT, temos outra parcela de 30% que não gosta do PT de jeito nenhum. E temos um público flutuante que fica entre 30% e 40% que quer analisar as propostas e pode votar com o PT ou outro partido. É uma parcela que não estará preocupada com essa polaridade, mas sim com as propostas com as quais ele vai se identificar no período eleitoral.

O PT conseguiu, mesmo nesse cenário, se estruturar como partido político que serve de instrumento de transformação da sociedade que não tem a pretensão de ter a totalidade do eleitorado. Mas há uma parcela significativa da sociedade que acena ao PT como preferido, além de outra parte significativa que tem disposição em dialogar conosco. Nesse sentido, teríamos de 60% a 65% do eleitorado aberto a discutir ou se mostrar simpático ao nosso projeto.

“Lula não precisa de palanque”

Cezar Santos – O objetivo principal da sua pré-candidatura é disputar o governo ou formar palanque para Lula ou outro nome a presidente do PT em Goiás? A sra. disse em outras entrevistas que sua intenção era fazer palanque para Lula no Estado.
Eu nunca disse que faria palanque para Lula. Tanto que não foi esse o objetivo da definição na direção estadual. Definimos que vamos apresentar um projeto consistente para o governo do Estado de Goiás e ganhar a consciência das pessoas. Não preciso fazer palanque para Lula porque Lula não precisa de palanque. Lula hoje em Goiás tem 29,8% das intenções de votos.

Cezar Santos – Mas Lula vai precisar de estrutura em Goiás.
O PT vai dar isso para ele. Não estamos apresentando candidatura ao governo por causa disso. Eu preciso muito mais do Lula, com sua capilaridade política, do que Lula de mim. Nossa candidatura é para disputar o governo de Goiás e ganhar a opinião pública com as nossas propostas que vão ao encontro do povo a partir do novo modelo de gestão com distribuição de renda, criando oportunidade para que as pessoas possam viver melhor.

Augusto Diniz – Como fica a campanha de Lula sem o ex-presidente poder ir para a rua?
Como toda certeza isso vai ser uma coisa nova para todos nós. Queremos acreditar que o nosso Judiciário vai poder cumprir com sua tarefa de fazer o julgamento imparcial e liberar Lula. Porque na verdade Lula não deveria nem estar preso. Sua prisão é inconstitucional. Vamos continuar brigando. Não vai ser só a questão do habeas corpus apresentado no último final de semana, mas estamos usando todos os instrumentos jurídicos para garantir que Lula esteja solto para que possa fazer a sua defesa e provar sua inocência.

Se a Justiça mantiver esse posicionamento, nós faremos a campanha por ele. É por isso que foi colocado, quando ele se apresentou [à Polícia Federal], que são milhões de Lulas esparramados por esse País. As pesquisas mostram que Lula está preso há mais de 90 dias e continua a crescer nas intenções de votos. Mostra também que o eleitor não é bobo, está entendendo o que tem acontecido. Pode ter certeza que se Lula continuar preso, a comoção e o entendimento da população vão aflorar.

Augusto Diniz – Como a sra. vê o episódio do domingo passado?
Mostra que estamos verdadeiramente em um Estado de exceção, onde a lei serve para uns de um jeito e de outro para outros. Quando era para prender Lula, a justificativa era “lei cumpre-se”. Quando foi para soltar não foi bem assim. O que nós vimos foi uma articulação escancarada de parte do Judiciário, de dois juízes que estava de férias, um deles de descanso no plantão, tentando desautorizar aquele que estava habilitado das suas atribuições de um desembargador plantonista.

O que vimos foi uma articulação que vai ser avaliada pela história, nos órgãos corretos, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que verificará a posição de cada um. O que eu vi e li é muita perplexidade de atuação do presidente do TRF-4, Thompson Flores, Gebran Neto e Sergio Moro, que não tinha nada a ver com o negócio, pegarem a responsabilidade para eles articularem com o ministro da Segurança Pública para que a Polícia Federal não executasse a determinação do habeas corpus, aguardando que nova medida chegasse. Isso mostra claramente, e isso deve ser reforçado nas cortes internacionais, que Lula é um preso político e que tem sofrido esse Estado de exceção de um modo muito severo no Brasil.

Cezar Santos – O desembargador Rogério Favreto agiu de forma correta ao analisar o habeas corpus?
Claro. O [ministro do Supremo Tribunal Federal-STF] Gilmar Mendes já liberou quantos? Nunca vimos a imprensa correr atrás e falar.

Cezar Santos – A imprensa fala diariamente sobre os excessos de Gilmar Mendes. A “Veja” está com Gilmar na capa falando muito mal dele…
O ministro Alexandre de Moraes (STF) faz e ninguém fala nada. Na hora que é do Lula não pode? A lei tem de ser para todos.

Augusto Diniz – Há outra interpretação de que Favreto não teria competência para analisar um habeas corpus de um processo que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e de que o fato de Lula ser pré-candidato não seria um fato novo no caso.
Era um novo tipo de habeas corpus. É uma questão jurídica, estamos de fora analisando. Acredito que nenhum de nós seja jurista. Mas Favreto estava no exercício de sua profissão. Foi pedido um habeas corpus que mostrava que Lula precisava participar da atividade de pré-campanha, que estava sendo prejudicado, não era parte da Lava Jato e tentaram inverter o processo. Se o trâmite é o de que o juiz plantonista é habilitado para analisar tudo que chega e dar o seu parecer, é no mínimo curioso um juiz de primeira instância questionar um desembargador do Tribunal. No mínimo.

Cezar Santos – STJ, STF e o Judiciário estão perseguindo o PT?
Não diria que o STJ e o Judiciário. Diria que parcela do Judiciário está perseguindo o PT. Está claro. Essa amostra de domingo foi nítida, foi clara. Vivemos um Estado de exceção no Brasil onde o presidente Lula é um preso político, com várias manobras para mantê-lo longe das pessoas e longe da disputa eleitoral.

Augusto Diniz – Com relação ao processo do sítio em Atibaia (SP), se o trâmite do caso não tiver qualquer interrupção, há a possibilidade de haver sentença em primeira instância no início de outubro, perto do primeiro turno da eleição. Na visão do PT, isso poderia prejudicar a tentativa de viabilizar a candidatura de Lula?
Dentro do Estado de exceção pode tudo. O presidente Lula no TRF-4, com processos que ficaram lá 20 anos, como foi o caso do [ex-governador Eduardo] Azeredo, do PSDB de Minas Gerais, ser analisado e julgado em 257 dias, eu não preciso falar mais nada. Os dados falam por si.

Fernanda Garcia – A sra. é uma das poucas pré-candidatas mulheres a um governo estadual. Como a sra. vê a subrepresentatividade na política? A sra. é otimista quanto às mulheres conquistarem mais os espaços na sociedade, ainda mais com a decisão de estabelecer 30% do fundo eleitoral para as mulheres?
O PT é vanguarda nesse debate. Foi o primeiro partido a estabelecer que 30% da sua direção, tanto local quanto nacional, precisava ser composta por mulheres. Daí derivou a lei para garantir a participação mínima de 30% de um dos sexos nas chapas proporcionais. Hoje o PT tem gestão de forma paritária: 50% de homens e 50% de mulheres na direção. Tenho a honra de ser a primeira mulher a presidir o PT em Goiás. Nossa trajetória é pautada no empoderamento das mulheres.

As mulheres podem e devem dar a sua contribuição para a construção de uma sociedade melhor. Não se trata de querer ser melhor do que os homens, mas sim que as mulheres têm um tipo de habilidade, os homens outro tipo, e que se nós somarmos essas habilidades teremos uma condição melhor de desenvolvimento. É possível avançar. Os números mostram que estamos crescendo na participação das mulheres de forma lenta. Na última eleição, das 27 unidades da federação só elegemos uma mulher. É um desafio que temos, chamar a responsabilidade da participação da mulher nos espaços de poder.

A interpretação do Supremo no que se refere ao fundo, de 30% ser destinado às mulheres, é justa porque não adianta ter 30% das cotas para serem candidatas. É preciso que se deem condições para elas buscarem a vaga. Nós do PT pensamos um pouco além. O que defendemos é que essa cota não deveria ser da parcela de candidaturas, mas sim dos assentos nos parlamentos. Infelizmente, não conseguimos aprovar isso na reforma política.

Hoje a legislação exige que 30% das chapas proporcionais sejam com a participação de mulheres. E que agora avança para ter, no financiamento público de campanha, uma destinação de 30% para essas candidaturas. O que vai contribuir para que tenhamos uma representação maior das mulheres no processo. Claro que não é só isso que resolve, porque existe programa de governo, de rádio, de TV. O conjunto das coisas é que fará com que as mulheres possam ter condições mais justas de disputa.

A verdade é que o processo eleitoral é muito desleal entre homens e mulheres. Até mesmo dentro dos partidos é desleal. E olha que estou falando de um partido político que tem paridade e que defende a participação das mulheres. É um grande desafio podermos empoderar outras mulheres a ocupar seus espaços na sociedade.

“As mulheres podem e devem contribuir 
para construção de uma sociedade melhor”

Augusto Diniz – O que pode ser feito para da brecha existente nos partidos de se usar a cota dos 30% de gênero apenas para formar a chapa proporcional?
Vou falar da realidade do PT. Tenho acompanhado alguns casos que mostram que tanto Ministério Público quanto Judiciário têm agido para coibir os partidos que usam as mulheres como candidatas laranja. No PT temos uma política de fortalecimento permanente das mulheres. Temos uma secretaria que motiva a participação das mulheres em todas as ações políticas na busca de 50% de assentos nas instâncias municipais, estadual e nacional. Não temos uma política de na época eleitoral pegar as mulheres para serem candidatas.

Nossa política é incentivar que as mulheres participem constantemente das nossas direções, porque isso também é uma formação política. Eu sou fruto disso. Fui para a direção e minha liderança foi crescendo dentro dessa construção. Temos nossos coletivos, que acontecem para as mulheres, negros, juventude e a comunidade LGBT. Temos setoriais que são responsáveis por trabalhar a política de inserção dessas comunidades para que tenhamos um processo eleitoral mais representativo e mais equilibrado.

Temos hoje um Congresso que não representa o extrato da sociedade. Porque a maioria da população é mulher e a maioria no Legislativo não é feminina. Temos um percentual significativo de jovens, mas não é a juventude que está representada entre os parlamentares. Os negros muito menos. A comunidade LGBT tampouco. O que fazemos no PT é motivar, incentivar e dar formação política antes dos períodos eleitorais para que essas pessoas cresçam, se consolidem e se tornem candidatos.

Lançamos na última semana uma chapa de pré-candidatos com 50 deputados e deputadas estaduais. Nessa chapa tem representação de homens, mulheres, jovens, negros, LGBTs. Porque essa é uma política do PT de fazer a formação cotidiana para que as pessoas possam se envolver e participem do processo.

Cezar Santos – É uma representação matematicamente dividida?
Algumas sim. Mulher é 50%. Negros e jovens é 20%. Em alguns casos tem o percentual definido. Se você chegar hoje em um município para formar o PT e não tiver 20% de jovens, 20% de negros e 50% de mulheres nós não criamos o partido naquela cidade até que as lideranças deem conta de fazer a formação e buscar esse público.

Cezar Santos – Uma curiosidade: por que 20% e não 25% ou 30% ou 40%?
Concordo com você. Precisamos ir avançando. Esse foi o patamar que foi construído. Nós mulheres começamos com 30% e hoje estamos com 50%. A construção da participação dos negros e jovens também pode ser nesse sentido. Conquistou 20% pode ampliar. Cada movimento vai se consolidado e ganhando espaço no partido. O PT é um partido muito organizado, que tem setoriais que atuam efetivamente dentro da organização do partido.

Fernanda Garcia – Vemos o aumento do surgimento de grupos que se autointitulam suprapartidários. São grupos que dizem buscar a renovação na política, não negam os partidos, mas criticam as legendas existentes. A sra. acredita que eles tenham alguma efetividade política ou são mais do mesmo?
Fortalecer os partidos é o caminho para a democracia. Tenho sido muito crítica a algumas posições que negam a política ou que difamam os políticos. Não vai ser negando nem afastando dos partidos políticos que nós vamos fortalecer a política. Vamos fortalecer a política a partir do momento que a pessoa que é bem intencionada entra para a política e cumpre com essa boa intenção. Quando o bem intencionado não vai, o que tem segundas intenções pode ocupar esse espaço.

Se nós quisermos fortalecer os instrumentos democráticos, é através do partido político. Não é pela pessoa avulsa. Porque o partido traduz um pensamento coletivo. Não acredito que a pessoa individualmente seja tão autossuficiente para conseguir representar uma proposta para uma nação, um Estado ou um município. Acredito no jogo coletivo, no jogo de equipe, na multiplicidade do pensamento. É muito prepotente alguém sozinho achar que ele é o novo, que ele sozinho vai resolver tudo. Resolver isso é papel dos partidos políticos, com suas bandeiras e ideologias, para fortalecer e trazer essas pessoas para as legendas e avançar no diálogo com a sociedade.

Augusto Diniz – O PT tem um deputado federal forte em Anápolis, Rubens Otoni, mas perdeu o prefeito Renato de Castro (MDB) e o deputado estadual Humberto Aidar (MDB). Qual é a expectativa do PT em eleger candidatos para o Legislativo?
Estamos preparando uma chapa forte e representativa. Para deputado estadual, nossa meta é ter 60, já temos mais de 50 nomes colocados. Ainda estamos dialogando com o PCdoB. Se houver a composição com o PCdoB, virão candidatos daquele partido para a chapa. Na chapa há a representação das regiões e dos segmentos, quem é da agricultura familiar, saúde, educação, segurança pública, LGBT, negros, juventude e outros grupos. Isso por si só já dá uma capilaridade grande ao PT.

Na chapa de deputado federal, com toda certeza teremos o deputado Rubens Otoni, que será o nosso puxador de votos. Mas temos 18 nomes esparramados no Estado de Goiás que estão com a sua representação, seja geográfica ou por segmento, fazendo essa abordagem. O PT sempre teve uma visão de trabalho de grupo. Os números mostram isso. Com o que conseguimos construir, nós avançaremos no número de parlamentares que temos. Estamos tranquilos de que demos conta de fazer a tarefa de casa e estando organizados nos 230 municípios do PT em Goiás.

Montamos uma chapa competitiva que possa garantir a representação do PT na Assembleia e no Congresso. Queremos aumentar a nossa representação na Câmara dos Deputados. Nunca tivemos um senador e queremos ter o primeiro com o deputado Luis Cesar Bueno, o indicado do PT como pré-candidato.

Augusto Diniz – Estamos na reta final da pré-campanha e o PT pode ser obrigado a lançar chapa pura. Isso prejudica sua pré-candidatura ao Estado? Daniel Vilela (MDB), Ro­naldo Caiado (DEM) e José Eliton (PSDB) tendem a construir grandes alianças, o que daria tempo maior de rádio e TV aos seus concorrentes. Como compensar isso na campanha?
Eles têm se fizerem as alianças. Hoje não tem ninguém consolidado com aliança. O PT tem o segundo maior tempo de TV e rádio. Mesmo que sozinhos, nós teremos tempo suficiente para apresentar as nossas propostas e mostrar ao eleitor de Goiás o que queremos fazer no governo. É verdade que quanto mais partidos você têm mais se soma, mas o PT com o tempo de TV que temos sozinhos nos dá condição de fazer a apresentação das nossas propostas e fazer com que o eleitor de Goiás conheça nossas intenções e optar.

Augusto Diniz – Como ficaria a chapa pura do PT?
Definimos a pré-candidatura ao Estado de Goiás com meu nome, definimos uma vaga do Senado com o nome do deputado estadual Luis Cesar Bueno e deixamos uma vaga de senador e vice-governador para uma aliança. Se tiver aliança, os partidos que compuserem conosco completarão a chapa com os dois nomes que faltam. Se não tiver, o PT estará preparado para preencher essas vagas.

Assim como preenchemos as chapas de deputados federais e estaduais, temos nomes representativos que podem preencher a vaga da vice e a outra ao Senado. O debate que começamos a fazer no PT, que será encerrado no dia 28 de julho, a data do nosso encontro – uma pré-convenção –, é que queremos que nossa chapa tenha representação regional, com fizemos nas chapas proporcionais. Isso para que tenhamos representação da região do Entorno e de Anápolis e consigamos apresentar um bom quadro para representar o PT na disputa eleitoral.

Augusto Diniz – Se a chapa for pura, onde entraria o nome do vereador Antonio Gomide, de Anápolis?
É uma opção. No PT, trabalhamos de acordo com a disposição do filiado. Hoje Gomide se colocou à disposição para estar na chapa de deputado estadual. E é uma grande contribuição, por se tratar de uma grande liderança. Gomide foi prefeito de Anápolis por dois mandatos, é vereador. Tem todo um know-how, um conhecimento e avaliação positiva na cidade. Esse debate o partido vai fazer. No dia 28 faremos a discussão de como será formada a chapa majoritária.

Fernanda Garcia – Como o Estado poderia ajudar Goiânia a solucionar a crise na saúde?
Gosto de analisar a saúde pelo viés da saúde, não apenas pelo viés da doença. Hoje o que mais fazemos é tratar da saúde cuidando apenas da doença. Vamos ter um olhar para a saúde preventiva. Fizemos na semana passada uma transmissão ao vivo discutindo o impacto do PL do veneno [Projeto de Lei 6.299/2002] na vida das pessoas. Uma alimentação saudável tem impacto direto. Atividade física tem impacto direto na saúde. Acompanhamento nutricional tem impacto direto na saúde. Ajudar com que as pessoas tenham mais consciência e mais saneamento básico também.

Queremos implementar um modelo de gestão integrada para que possamos ter esse olhar 360 graus em cada tema. Queremos que as pessoas tenham saúde e deixar os casos de necessidade só para os casos que forem de doença mesmo. Precisamos ter uma saúde preventiva que funcione. Faremos isso em parceria com os municípios. O que nós percebemos é que o Estado, em alguns casos, demora até 12 meses para fazer o repasse para os municípios, o que sobrecarrega e penaliza um dos entes federados.

Queremos mudar essa realidade e ter uma parceria efetiva em um pacto federativo com os municípios com o incentivo, não apenas do ponto de vista financeiro, mas na gestão, que os municípios possam também incentivar uma prática de saúde preventiva. Isso já melhoraria nosso quadro. No que se trata dos tratamentos de alta e média complexidade, precisamos rever o modus operandi que foi colocado pelo PSDB em Goiás. Para nós, o modelo de Organizações Sociais (OSs) é fracassado, que não funcionou, aumentou o gasto com a saúde e diminuiu o número de atendidos. Hoje temos OSs em 100% de nossos hospitais e não atendem com eficiência o número de pessoas que precisa ser atendido.

Vemos em Goiânia um jogo de empurra entre a prefeitura e o Estado. Quem está pagando o preço é o cidadão. Não podemos deixar que isso aconteça. É por isso que nós queremos ter uma gestão com muita responsabilidade, em um pacto federativo em que Estado e prefeituras tenham a visão de que precisam ser parceiros no lugar de um tentando puxar o tapete do outro colocando em risco a vida das pessoas. Queremos descentralizar os serviços.

Estava no Norte do Estado e vi um paciente ter de sair de Minaçu e atravessar 500 quilômetros para ser atendido em Goiânia. Se uma pessoa estiver em outro extremo, como Itumbiara ou Catalão, também precisa vir até Goiânia para conseguir atendimento. É preciso levar o serviço de média e alta complexidade também para as regiões, sobretudo com a parceria entre Estado e municípios para garantir a saúde preventiva. Que juntos possamos dar mais a oportunidade ao povo de Goiás de ter uma vida mais saudável e possa viver melhor.

“Fortalecer os partidos é o 
caminho para a democracia”

Fernanda Garcia – No trabalho de pré-campanha, o que a sra. percebeu que é mais urgente para o Estado?
Vivemos uma crise grave na saúde, muito descontentamento na área da saúde e da segurança pública, mas sobretudo na distribuição de renda. As pessoas querem oportunidade, estão se sentindo órfãs do governo do Estado. Nós temos essa intenção de fazer com que essa gestão integrada, descentralizada e participativa faça com que o povo se sinta parte e nos ajude a distribuir renda e criar um Estado de Goiás melhor.

Fernanda Garcia – Que avaliação a sra. faz deste momento em que o conservadorismo tem crescido, com a negação a pautas sociais e posições radicais? Quais podem ser as consequências?
Precisamos mudar o modelo de educação, um modelo que não prepara as pessoas para a visão crítica. Neste contexto, vivemos uma crise de valores humanos muito grande. Não tem problema nenhum pensarmos diferente. Tem muito problema não aceitar que pensemos diferente. Pensar diferente faz parte do jogo democrático, faz parte da democracia e do respeito à diversidade de pensamentos. É isso que nós acreditamos e que queremos buscar. Isso sim seria a construção de uma sociedade forte.

Agora, a onda de ódio, fascismo, de não aceitar que o outro pensa diferente, se não é igual a mim eu não tolero perto de mim, isso não edificar nenhuma sociedade. Isso é grave. Precisamos todos juntos fazer uma reflexão sobre isso e criar dias melhores, com mais respeito à pluralidade de pensamentos. Porque nós podemos, mesmo com pensamento diferente, vivermos todos dentro de um respeito harmônico.

Pré-candidata Kátia Maria fala aos jornalistas Cezar Santos, Augusto Diniz e Fernanda Garcia: “O povo quer Lula” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Fernanda Garcia – A sra. acredita que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) tem chance de ser eleito presidente?
O que as pesquisas têm mostrado é que existe um esgotamento e que existe uma preferência do eleitor pelo presidente Lula. E mostram mais, existe uma preferência caso o presidente Lula venha a indicar alguém. Não trabalhamos com essa hipótese. Não escolhemos adversário, mas não vemos como um risco. Quem tem de se preocupar com Bolsonaro é o pessoal da direita, que não deu conta de construir um nome. O que construíram de melhor foi o Bolsonaro.

Augusto Diniz – A partir da eleição de 2014, em que houve um aumento da rejeição ao PT, que acabou sendo tratado como a imagem da esquerda, o Partido dos Trabalha­dores fez uma autoanálise de tudo que aconteceu e como se portou durante o impeachment ou errou ao tratar o caso?
Na verdade, o impeachment para nós é um golpe. Isso está consolidado, não só para nós, o próprio Rodrigo Janot [ex-procurador-geral da República], que estava na condução do processo, reconheceu que o impeachment tinha sido um golpe. Pedaladas todos tinham feito. Estava permitido por lei no formato que a Dilma fez. Pedalada o governo de Goiás faz. Se o caso fosse pedalada, todos os outros para trás, todos governadores e provavelmente todos prefeitos também teriam caído. Fica configurado o golpe.

Claro que há erros e acertos. Mas o PT sofreu o golpe muito mais pelos acertos do que pelos erros. Na medida em que a direita, capitaneada pelo DEM, PSDB e depois pelo golpista Michel Temer (MDB), não deu conta de construir uma base eleitoral para ganhar no voto – por isso Aécio Neves (PSDB) perdeu em um dia e no outro dia queria a recontagem dos votos –, já era premeditado. Não souberam perder a eleição. Criaram um mecanismo para ganhar no tapetão.

E ganhar no tapetão era tirar a Dilma através de um golpe parlamentar apoiado por parte do Judiciário e por parte da mídia, infelizmente. E a consequência ficou. Não era para Dilma ou PT, era para tirar da gaveta políticas que Lula e Dilma não concordavam. Estão hoje sendo todas aprovadas: Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência, PEC do Teto. O impacto direto era na vida do povo. Naquele momento muita gente não conseguiu perceber, mas hoje já faz uma análise mais crítica.

Augusto Diniz – Depois de consolidada a destituição de Dilma do cargo, não houve um momento em que o PT se reuniu para se reestruturar, como uma autoanálise? Até quando foi se eleger Rodrigo Maia (DEM) como presidente-tampão da Câmara, o PT apoiou o DEM para evitar que o candidato do centrão ganhasse força.
Na eleição da Câmara o PT teve candidato. Aliás, esse foi um dos motivos pelos quais Dilma foi criticada. E depois Eduardo Cunha (MDB) cobrou a fatura. Na verdade, nós sentamos muitas vezes, analisamos. Houve reflexão crítica sim. Em algumas reformas o PT deveria ter avançado mais, inclusive a reforma política, que para mim é o pilar de tudo. Enquanto não qualificar a forma do sistema eleitoral é difícil fazer as outras reformas. PT teve falhas? Teve. Mas estamos convencidos de que tudo isso aconteceu muito mais pela política acertada que fizemos, que incomodou alguns setores econômicos, do que propriamente dito por erro.

Augusto Diniz – A população fala que está cansada e quer renovação, mas os cientistas políticos dizem que a possibilidade é mínima de isso acontecer. O momento é de renovação?
A reforma política não trouxe tudo que nós precisávamos. Avan­çou minimamente dentro daquilo que foi possível. O PT defende uma reforma muito mais progressista do que essa, com representação das cadeiras das mulheres, com financiamento exclusivo de campanha, com mecanismos que garantam a representatividade social, tirando o foco econômico da campanha e trazendo as propostas para o foco da campanha. Infelizmente isso ainda não vai ser possível nesta eleição porque esse sistema continuou. Mesmo colocando limite de gastos, o candidato que tiver recursos suficientes para fazer o teto. Isso mostra que o poder econômico continua sobressaindo. Vamos precisar avançar mais para aprimorar nossos processos e melhorar o quadro colocado hoje.

Fernanda Garcia – Que cenário a sra. vislumbra caso Lula seja candidato e venha a ser eleito?
A situação do Brasil não é uma situação fácil. É muito delicada. Todas as pesquisas mostram que o povo enxerga no presidente Lula a liderança com capacidade para retomar o curso do desenvolvimento. Com sua habilidade, ele com toda certeza fará isso. Uma das coisas que Lula começará fazendo é propor os mecanismos de democracia direta, perguntando ao povo o que mantém e o que suspende do período do golpe. As pessoas mantêm a Reforma Trabalhista ou a anulam? As pessoas mantêm a PEC do Teto ou as pessoas derrubam? Presidente Lula já colocou que será feito por medida direta. O povo vai decidir quais foram as medidas adotadas nos dois anos que quer que implemente ou não.

Augusto Diniz – Se, durante a campanha, a Justiça não permitir que Lula seja candidato, o ideal seria lançar Fernando Haddad ou Jaques Wagner?
Tiramos encaminhamento coletivo de que vamos manter o presidente Lula até a última consequência. O Supremo terá de ter a coragem de vetar o nome do presidente Lula rasgando de ver a Constituição brasileira. Porque é isso que vai acontecer, a legislação permite que ele seja candidato. Não faremos nenhuma análise de nomes, porque queremos acreditar na Constituição e no poder das nossas instituições. Queremos que o presidente Lula seja nosso candidato, seja habilitado, vá para a urna e construa sua vitória na eleição. Não vamos fazer essa tratativa em nenhum momento, porque trabalharemos com essa hipótese. Lá na frente, se acontecer, aí sim vamos reunir e ver qual encaminhamento, claro, sobre a orientação do Lula.

Augusto Diniz – As pesquisas mostram que nos quadros sem Lula os indecisos aumentam cerca de 10 pontos. Que leitura o PT faz desse aumento de indecisos?
O povo está dizendo que quer o Lula, que sem Lula a eleição não está dentro da normalidade. Tanto é que tira o Lula e não transfere para outro candidato. Cresce o número de indecisos. Quem o Lula indicar tem uma maioria expressiva dos votos de 30%. Não vamos fazer essa discussão porque queremos o presidente Lula candidato. A lei permite, o po­vo quer. Qual é o motivo que o PT tem para fazer isso? Nenhum.

Pré-candidata a governadora pelo PT, Kátia Maria | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção